Carioca de 55 anos, Cunha calcula que os evangélicos representam metade dos 150 mil eleitores que lhe deram a quinta maior votação entre os deputados federais do Rio.
No primeiro fim de semana de fevereiro, quando o beijo gay da novela das nove dominou as redes sociais, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) entrou em um caloroso debate virtual. Evangélico da igreja Sara Nossa Terra, Cunha protestou contra “a pressão dos gays, dos maconheiros, dos abortistas” e cobrou reação dos “defensores da família”. Líder do PMDB e dos deputados rebelados que impuseram uma série de derrotas ao governo ao longo da semana passada, ele está acostumado aos embates, que não se restringem à política partidária.
Também compra brigas contra a legalização do aborto e da maconha e, em seu blog, mantém a seção “Em defesa da família”. Aos domingos, costuma assistir a um culto de manhã e outro à noite e às vezes participa de reuniões de obreiros, fiéis que trabalham nas igrejas. Faz saudações, lê trechos da Bíblia.
Carioca de 55 anos, Cunha calcula que os evangélicos representam metade dos 150 mil eleitores que lhe deram a quinta maior votação entre os deputados federais do Rio. “O eleitorado evangélico não gosta do PT. Quando há tensionamento (com os petistas), meu eleitorado evangélico adora”, diz.
“Perdi muito voto na eleição passada porque defendi Dilma na confusão do aborto. O eleitorado evangélico, se pudesse escolher, me pediria para não ficar com ela, mas isso não vai nortear minha posição”, afirma o deputado, que promete fazer campanha pela presidente se essa for a decisão do PMDB.
[b]Pressão[/b]
Em 2010, Dilma se comprometeu, em carta, a não enviar ao Congresso projetos sobre “aborto e outros temas concernentes à família”. Foi uma resposta a movimentos religiosos contrários à legalização do aborto e ao casamento gay. “Ela cumpriu o que prometeu, não há o que reclamar”, defende o líder peemedebista.
A outra metade dos votos que recebeu em 2010, diz, vem das dobradinhas com deputados estaduais como Domingos Brazão, líder do PMDB na Assembleia, com forte base eleitoral na zona oeste.
Outro parceiro de campanha é o deputado estadual Fábio Silva, filho do líder evangélico Francisco Silva, dono da Rádio Melodia, onde Cunha faz inserções de um minuto e meio, duas vezes por dia, falando de assuntos variados, desde crise na Ucrânia à escassez de energia. “O povo não está nem aí para o que eu digo, só pega a última frase”, reconhece Cunha – e repete o slogan “Afinal de contas, o povo merece respeito”, que encerra as falas no rádio. “A frase pode virar demagógica, mas tem que prestar atenção à entonação. Digo ‘o povo mereeeeece respeito’! Todos caem na gargalhada”.
[b]Campanha[/b]
O deputado fez uma campanha cara em 2010: arrecadou R$ 4,7 milhões, dos quais R$ 500 mil da empreiteira Camargo Corrêa e o mesmo valor da Usina Naviraí de Açúcar e Álcool. A maior parte dos recursos foi repassada pelo comitê partidário. Este ano, pretende repetir a estratégia de não pedir votos colado ao candidato a governador. “Gosto de fazer campanha sozinho, tenho minha agenda própria, mas defendo os candidatos. Em 2010, fiz campanha para Dilma. Este ano, vou fazer campanha para o (vice-governador do Rio) Luiz Pezão e defender o governo do Sérgio Cabral”, promete.
Processado no Supremo Tribunal Federal por uso de documentos falsos para encerrar uma investigação de supostas irregularidades na Companhia de Habitação do Estado do Rio, Cunha diz estar certo de que será inocentado. Garante que não sabia que os documentos tinham assinatura falsificada. A Cehab foi presidida por ele durante o governo de Anthony Garotinho, pré-candidato do PR ao governo e um dos muitos desafetos de Cunha.
Comparado ao protagonista da série americana House of Cards, Francis Underwood, um parlamentar inescrupuloso capaz de qualquer coisa para alcançar as ambições políticas, Eduardo Cunha ri e diz que viu apenas a primeira temporada. “Não gostei. O cara é ladrão, gay e corno. Não posso me sentir identificado com um cara desses”, responde.
[b]Fonte: Estadão[/b]