Religiosos cubanos de diversas crenças, que vivem no único país comunista do continente e, tradicionalmente ateu, convocam para os próximos dias atos religiosos, sacrifícios e até mesmo “toques de tambores” pela saúde do presidente Fidel Castro, a paz e o governo provisório em funções há oito dias.

Os problemas de saúde de Fidel, convalescentes de uma delicada cirurgia, assim como sua entrega interina do poder pela primeira vez em 47 anos para seu irmão Raúl, são acompanhados com atenção pelas diferentes crenças que existem em Cuba.

Enquanto a igreja católica mantém em suas missas, desde domingo, as orações pelos irmãos Castro; e os evangélicos organizaram uma cerimônia ecumênica, os “santeiros” da religião yoruba aderiram com sacrifícios e toques de tambores.

De raízes africanas e com uma grande devoção no país, um grupo de sacerdotes yoruba emitiu toques de tambores e ofereceu aves sacrificadas ao orixá dos mares Olokún pedido paz e, implicitamente, a recuperação do presidente Fidel Castro.

A cerimônia de quase sete horas com “toque de tambores” e oferendas a Olokún foi organizada por Víctor Betancourt, “babalao” (sacerdote) do Templo Iranlowo, começou em uma modesta casa no bairro de Havana Velha, com a presença de 90 pessoas e terminou na praia com o sacrifício entregue ao mar.

“Decidimos planejar essa cerimônia para pedir aos orixás amenizarem a situação, e nos ampararem. Assim, supostamente, fazem parte do pedido a evolução do estado de saúde do comandante, a normalidade, a não violência. Que tudo continue como está”, Betancourt explicou à ANSA.

A oferenda de quatro aves sacrificadas – galinhas, galos, galinhas d’angola e pombas – foi “aceita” depois do lançamento de cocos cortados em quatro partes: “se eles caem com a parte interna viradas para cima, quer dizer que a divindade aceita a oferenda”, acrescento o santeiro.

Formado por jesuítas em sua infância, porém ateu, o presidente cubano de alguma forma parece ligado à fé desde sua ascensão em 1959, quando, em um ato vitorioso, pombas brancas posaram em seus ombros enquanto falava para o povo, imagem que foi registrada por um fotógrafo que já é um “clássico” do álbum revolucionário.

“Muita gente interpretou que isso era um sinal de Obbatala, que ele está sob o manto, sob a proteção de Obbatalá”, disse à ANSA a antropóloga María Faguaga.

A Associação Cultural Yoruba de Cuba também pediu ao panteão dos orixás pela saúde do presidente: “como religiosos, nossa posição é seguir as designações dos deuses, que são entender e apoiar as decisões tomadas pelo nosso máximo líder”, disse a entidade.

A Catedral episcopal da santíssima Trindade realizou à noite uma cerimônia pelo governo provisório e pela paz em Cuba, com a presença de integrantes das igrejas evangélica, protestante e ortodoxa grega.

“Não pedimos a Deus que Fidel seja eterno e sim que ele fique o maior tempo possível onde é mais útil”, esclareceram as pessoas presentes na reunião feita pela Seção Ecumênica em Defesa da Humanidade.

A relação sinuosa que tem com Havana não foi obstáculo para a igreja católica em Cuba, que chamou sua fiéis para orarem pelo líder convalescente e para que Deus “ilumine” o governo provisório.

Fidel manteve uma relação cordial com o falecido João Paulo II, que realizou uma visita histórica ao país em 1998.

Fontes eclesiásticas locais calculam que cerca de 60% dos 11,2 milhões de cubanos são batizados, porém uma porcentagem reduzida pratica a religião, enquanto uma ampla maioria se declara crente “em algo”.

A atual Constituição cubana “reconhece, respeita e garante a liberdade religiosa” e estabelece a separação do Estado das instituições vinculadas à fé.

Fonte: ANSA

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