Felipe Frazão
Portal Terra

O flerte entre o presidente Jair Bolsonaro e veículos de comunicação católicos simpáticos ao governo representa uma investida do Palácio do Planalto na divisão latente na Igreja.

De um lado, conservadores alinhados ao governo, principalmente aqueles ligados à Renovação Carismática Católica, e, de outro, progressistas e críticos do bolsonarismo vinculados à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Episódios recentes marcaram uma escalada no tensionamento. A presença constante de Bolsonaro nos protestos antidemocráticos e a posição dele às recomendações sanitárias no combate à pandemia da covid-19 fizeram a CNBB elevar o tom contra o governo e dizer que o presidente “ameaça a saúde” e perdeu “credibilidade” social.

Entidades ligadas ao episcopado defenderam o impeachment. “A hora é de unidade dos humanistas, democratas e movimentos sociais para o afastamento do presidente e modificação deste governo que ameaça a vida e que deseja destruir a Constituição e a democracia”, conclamou a Comissão Brasileira Justiça e Paz.

A fissura ficou evidente no texto do bispo de Vacaria (RS), d. Silvio Guterres Dutra que causou furor nas redes sociais. Ele acusou o presidente de disseminar “divisão e confusão” e repreendeu os atos com tom religioso nos arredores do poder. “Infelizmente, alguns dos chamados ‘apoiadores’ de Bolsonaro têm protagonizado verdadeiras cenas farisaicas de orações públicas, de flagrante falsa veneração às imagens sacras de Nossa Senhora de Fátima e do Jesus da Divina Misericórdia no intento de dar legitimidade aos seus pensamentos”, afirmou o bispo.

Padres identificados com movimentos de leigos (católicos praticantes não ordenados) conservadores e carismáticos, por outro lado, se aproximaram do Planalto. Eles têm tido resultado. Bolsonaro apelou ao discurso religioso desde a eclosão da pandemia. Convocou um dia nacional de jejum, rezou ajoelhado na portaria do Palácio da Alvorada, ergueu uma imagem de Jesus Misericordioso na rampa do Planalto e promoveu videoconferências com líderes religiosos na Páscoa, com evangélicos e católicos, à margem da CNBB.

Ex-assessor da CNBB, o padre Manoel de Godoy, doutor em Teologia, diz que a Igreja nunca foi uníssona, mas sempre buscou a unidade entre as correntes internas – uma delas a dos carismáticos, movimento que fez, para ele, uma adesão política oportunista e contrária ao apartidarismo que pregava antes. “A renovação carismática, sempre tão rigorosa na sua linha moral, quando lhe interessa aceita qualquer coisa. O presidente nunca foi praticante de religião nenhuma”, analisou Godoy. “A RCC sempre condenou outra parte da Igreja que tinha vínculos com partidos, políticos e luta social, achava que não era dever da Igreja se meter nisso.”

Fonte: Portal Terra

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