O fato de fazer doações de altas quantias à Igreja Renascer (cerca de R$ 2 milhões por ano), comandada pelos bispos Estevam Hernandes Filho e Sônia Haddad Moraes Hernandes, não deve prejudicar Kaká, segundo um especialista em Direito Penal.

Intimado pela Justiça a prestar esclarecimentos sobre seu relacionamento com a igreja e seus líderes, o melhor jogador do mundo tem chances reduzidas de ver seu nome atrelado a qualquer irregularidade. Pelo menos é o que garante o advogado Leonardo Pantaleão, especialista em Direito Penal.

– Nada impede o Kaká de doar o quanto quiser. Ele só pode ser usado neste processo como testemunha, como fonte de informação. A única chance de Kaká sofrer alguma implicação legal por suposta colaboração em lavagem de dinheiro seria com a hipótese de se comprovar que ele faz a doação, recebe de volta o dinheiro e abre espaço para este valor ser preenchido com outro montante (de dinheiro sujo) – explica Pantaleão, lembrando que esta hipótese é para lá de improvável.

Os bispos Estevam e Sônia já foram presos nos Estados Unidos por entrarem naquele país portando dinheiro não declarado. Mesmo que Kaká seja freqüentador da casa dos líderes de sua igreja, isto pouco muda sua figura no caso.

– Há que se lembrar que Kaká faz a doação para a Igreja Renascer, não para os bispos. E o fato de você ir à casa de alguém não significa nada. Se eu faço uma visita à sua casa não sou obrigado a saber que você sonega imposto de renda, por exemplo – completa Pantaleão, que é professor do Complexo Jurídico Damásio de Jesus, em São Paulo.

Segundo publicou a revista “Carta Capital”, após um pedido do promotor Marcelo Batlouni Mendroni, da 1ª Vara Criminal de São Paulo, o Ministério Público enviou à Procuradoria Geral de Milão, em 14 de setembro de 2007, um pedido de depoimento de Kaká sobre seu envolvimento com os bispos da Igreja Renascer. As perguntas do promotor seriam: “Qual é seu grau de amizade e que relação tem com as pessoas acusadas? Os acusados costumam freqüentar a sua casa na Itália ou no Brasil? O senhor freqüenta a casa deles no Brasil ou nos Estados Unidos? Você sabe o destino que foi e que é dado ao dinheiro das suas colaborações?”.

Nesta segunda, a Igreja Renascer divulgou nota repudiando o pedido do promotor Marcelo Batlouni Mendroni.

Renascer ataca promotor por chamar Kaká para depor

A Igreja Apostólica Renascer em Cristo, liderada pelo casal Estevam e Sônia Hernandes, informou por meio de nota, nesta segunda-feira (14), que vai apelar para reverter o pedido de interrogatório ao jogador Kaká, do Milan. A igreja diz que a solicitação foi feita pelo promotor Marcelo Batlouni Mendroni, da 1ª Vara Criminal de São Paulo, e enviada à Procuradoria Geral de Milão em 14 de setembro de 2007. O Ministério Público não confirma o pedido.

Kaká teria recebido os Hernandes em suas casas de São Paulo e Milão, além de pagar o dízimo, com valores anuais que chegam aos R$ 2 milhões. A Promotoria quer saber qual a ligação do atleta com os líderes da Renasce

A nota disse ainda que a Igreja Renascer prepara uma representação judicial contra o promotor. O Ministério Público Estadual informou ao G1 que até esta segunda-feira (14) não havia conseguido confirmar a solicitação de pedido de interrrogatório com o promotor.

A assessoria de imprensa do jogador não havia se manisfestado até por volta das 15h10 desta segunda.

Em dezembro, Kaká entregou à Renascer o troféu de melhor jogador do mundo em 2007, concedido pela Fifa. O jogador e a mulher, Caroline Celico, estiveram na sede da igreja, na Avenida Lins de Vasconcelos, na Zona Sul de São Paulo, na passagem do ano. Além do prêmio, de acordo com a assessoria da Renascer, o jogador foi ao culto agradecer pelo filho que o casal espera.

Prisão nos EUA

Os Hernandes foram presos no dia 9 de janeiro de 2007 no Aeroporto de Miami depois de tentar passar na alfândega com US$ 56,5 mil, apesar de terem declarado apenas US$ 10 mil. Ficaram presos durante dez dias, pagaram fiança e conseguiram liberdade assistida, monitorada pela polícia por tornozeleiras eletrônicas. A Justiça também determinou que o dinheiro apreendido não seja devolvido aos fundadores da Renascer.

Em audiência em 8 de junho, Estevam e Sônia se declararam culpados dos crimes de evasão de divisas e formação de quadrilha para violar a lei. Na ocasião, Sônia chegou a chorar durante a audiência.

No Brasil

No Brasil, o casal de fundadores da Renascer, Estevam e Sônia Hernandes, também respondem a processos por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e estelionato. Eles chegaram a ter a prisão preventiva decretada em São Paulo.

Fonte: Globo e G1

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