A polícia de segurança eritréia torturou dois cristãos até a morte, em 17 de outubro, dois dias depois de prendê-los por promover um culto em uma casa particular no sul de Asmara.
As mortes aconteceram logo depois que oficiais detiveram um cidadão americano e conduziram novamente à prisão uma cantora cristã que foi hospitalizada em decorrência dos 29 meses em que passou encarcerado em um container de metal.
Immanuel Andegergesh, 23, e Kibrom Firemichel, 30, morreram em conseqüência dos ferimentos provocados pela tortura e da séria desidratação em um campo militar nos arredores da cidade de Adi-Quala, disseram testemunhas ao Compass.
Os militares enterraram, no dia 17, os dois cristãos, que não eram casados, na cidade que fica no sul da Eritréia, próximo à fronteira com a Etiópia, onde eles tinham prestado o serviço militar.
Immanuel e Kibrom foram presos no domingo, 15, junto com outros 10 cristãos, quando participavam de um culto na casa de Teklezgi Asgerdom.
As três mulheres e sete homens, todos membros da Igreja Evangélica Rema, foram mantidos em confinamento militar, junto com Immanuel e Kibrom, e submetidos a “maus-tratos selvagens”, disse uma fonte.
O destino dos outros dez cristãos permanece desconhecido.
Cantora volta ao cárcere
No início deste mês, autoridades eritréias mandaram de volta à prisão militar a cantora Helen Berhane, depois que ela passou três dias no Hospital Halibet de Asmara, para tratamento médico.
A perna de Helen estava seriamente machucada em conseqüência das agressões que ela sofreu enquanto estava presa em um container de metal, desde sua prisão em maio de 2004.
Fontes disseram ao Compass que Helen, membro da Comunidade Kidane Mehrete (anteriormente identificada como pertencente à Igreja Rema), tinha sido mandada de volta para o campo militar Mai-Serwa e que agora era capaz de andar sem ajuda de bengala.
O governo continua com sua campanha contra os obreiros cristãos, e prendeu um cidadão americano no início deste mês.
O cristão evangélico Aregahaje Woldeselasie e seu assistente, um homem identificado apenas como Mushie, estão detidos na Delegacia 5 de Asmara desde o dia 4 de outubro.
Aregahaje, de aproximadamente 60 anos, é um cidadão americano nascido na Eritréia, e tem trabalhando junto ao Ministério Internacional Neemias, na Eritréia, desde 1991, providenciando treinamento para liderança em novas congregações.
A esposa de Aregahaje e seus dois filhos estavam nos Estados Unidos quando ele foi preso.
Escolas na mira
Em sua campanha para manter todos os grupos religiosos sob controle, o governo da Eritréia recentemente centrou sua atenção em escolas dirigidas por grupos religiosos.
Em 10 de outubro, o Ministério da Educação ordenou a Escola Missão Finlandesa a trocar sua administração e passar ao controle do governo.
Fundada pela Missão Finlandesa há 15 anos, “era uma das escolas privadas na Eritréia onde os estudantes aprendiam o temor do Senhor”, comentou uma fonte cristã.
Fontes disseram ao Compass que a principal razão pela qual o governo tomou o controle da escola foi por não gostar de seu caráter cristão.
O Ministério da Educação também exigiu que a Escola Árabe Alumni, uma instituição privada muçulmana, se torne uma instituição pública. Anteriormente conhecida como Escola Árabe Jalia, a Alumini ensinava árabe e o Alcorão para crianças da comunidade muçulmana eritréia.
Além disso, o governo pressionou a Igreja Evangélica (Luterana) da Eritréia (ECE, sigla em inglês) a fechar a escola anglicana de ensino fundamental em Asmara.
O governo tinha colocado a congregação anglicana sob o controle da ECE, que é registrada junto ao governo. O pastor da igreja anglicana, Nelson Fernandez, recebeu ordens de deixar o país em outubro de 2005.
Desde então, têm circulado rumores de que o governo deveria fechar a escola de ensino fundamental, que era freqüentada principalmente pelos filhos de obreiros estrangeiros ligados à igreja.
Além da decisão de fechar a escola, o Departamento de Assuntos Religiosos também ordenou que uma antiga funcionária da igreja desocupasse a casa em que morava, localizada no terreno da igreja.
Duras restrições
Desde maio de 2002, o governo da Eritréia baniu todos os grupos religiosos independentes que não pertencessem às religiões ortodoxa, católica, luterana ou muçulmana. Todas as igrejas protestantes independentes tiveram seu registro negado e foram consideradas ilegais.
Qualquer pessoa que for flagrada cultuando fora dessas instituições sancionadas pelo governo – mesmo em grupos pequenos em casas particulares – é presa, torturada ou submetida à intensa pressão para negar sua fé.
Até mesmo líderes das quatro grupos reconhecidos estão experimentando duras restrições do governo. Ignorando os cânones da igreja, autoridades seculares removeram o patriarca da Igreja Ortodoxa Eritréia de sua posição eclesiástica em agosto de 2005. O patriarca Abune Antonios está sob prisão domiciliar desde então.
Recentemente estatísticas comprovadas indicaram que pelo menos 1.918 cidadãos estão presos apenas por causa de sua religião, sem qualquer acesso a um processo judicial.
Pelo terceiro ano consecutivo, o Departamento de Estado dos Estados Unidos mencionou a Eritréia como um “País de Preocupação Específica” em seu relatório anual de liberdade religiosa, divulgado em fevereiro, designando o país como um dos piores violadores da liberdade religiosa no mundo.
Fonte: Portas Abertas