O documento, feito a pedido do próprio papa Bento XVI (foto), contém informações detalhadas sobre o desvio de dinheiro no Vaticano e o mapeamento de uma rede de prostituição dentro dos muros da Santa Fé.

Os escândalos na Igreja Católica Apostólica Romana explodiram ontem em plena sala de imprensa do Vaticano, a uma quadra dos altos muros que separam a cidade-Estado em tese santa da pecadora Roma: padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, se viu forçado a responder que não comentaria nem desmentiria nem confirmaria extensa reportagem no jornal “La Repubblica” sobre o dossiê entregue em dezembro ao papa sobre escândalos de natureza sexual e financeira.

O relatório foi encomendado por Bento 16 aos cardeais Julián Herranz, Salvatore de Giorgi e Josef Tomko. É devastador, se for verdadeira a reconstituição feita pelo jornal.

Que há um relatório, Lombardi confirma: “A comissão fez seu trabalho e entregou seu relatório ao Santo Padre, do qual partira o mandato”. Sobre a veracidade, acrescentou: “Não estamos correndo atrás de todas as ilações, fantasias ou opiniões que sejam expressas sobre esse tema, e não esperem que os três cardeais deem entrevistas”.

“La Repubblica” atribui a “um homem muito próximo aos que redigiram o relatório” a informação de que “tudo gira em torno à não observância do sexto e do sétimo mandamentos”: “não cometer atos impuros” e “não roubar”.

Sobre “atos impuros”: “Alguns altos prelados sofreram ‘influência externa’ [que o jornal prefere chamar de “chantagem”] de leigos aos quais são ligados por vínculos de ‘natureza mundana'”.

Cita nomes como o de monsenhor Tommaso Sttenico, suspenso após entrevista ao canal La7 em que contava encontros sexuais em pleno Vaticano. Cita também “as coristas das quais amava cercar-se Angelo Balducci”, homem com responsabilidades cerimoniais no Vaticano.

Os “atos impuros” ocorriam numa sauna do bairro Quarto Miglio, em um centro estético no centro, em uma vila fora de Roma e em dependências do próprio Vaticano.

A violação do sétimo mandamento diria respeito ao Instituto para Obras da Religião, o banco do Vaticano, mas a reportagem não dá detalhes.

O papa recebeu as 300 páginas do relatório no dia 17 de dezembro de 2012. Mas desde abril era informado do andamento da investigação.

A reportagem atribui às informações recebidas a fala do papa no dia 11 de outubro, em que disse aos jovens da Ação Católica: “Em 50 anos [desde o Concílio Vaticano 2º], aprendemos que a fragilidade humana está presente também na igreja”.

O relatório, guardado no cofre dos aposentos papais, será entregue ao sucessor de Bento 16, completa o jornal.

Longe do Vaticano, um dos citados como “papabili”, o cardeal Timothy Dolan, de Nova York, depôs ontem sobre abusos sexuais na arquidiocese de Milwaukee, que chefiou de 2002 a 2009. Dolan não é acusado de abuso, mas a Promotoria quer apurar eventual ocultamento.

[b]Fonte: Folha de São Paulo[/b]

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