A Diocese de Caraguatatuba (173 km de SP), no litoral norte, produziu um DVD para reafirmar a posição antiaborto da Igreja Católica e rebater a proposta defendida pelo ministro José Gomes Temporão (Saúde) de realizar um plebiscito sobre a descriminalização do aborto.

O filme foi distribuído às 16 paróquias da diocese e será exibido aos fiéis após as missas, a adultos em aulas de catequese e a grupos de crismandos.

O DVD, intitulado “Campanha pela Vida”, tem 39 minutos. Nele, chamam a atenção imagens com a nítida intenção de chocar os telespectadores.

Além de abortos, são mostrados fetos decapitados, pedaços de pequenas mãos e pés, bebês jogados dentro de baldes.

O filme traz o bispo local, dom Antônio Carlos Altiera, criticando os que são favoráveis ao aborto, dizendo que eles têm “argumentações empobrecidas pela falta de Deus”.

Na seqüência, há entrevistas com seis especialistas da cidade. Um deles é o médico Marcelo Ugatti, que, questionado sobre a início da vida, responde que ele se dá “no momento da fecundação, quando o gameta masculino fecunda o gameta feminino, o óvulo”.

Outro é Diego Perez, que critica a Lei de Biossegurança, de 2005, que libera pesquisas com células-tronco embrionárias. “O governo federal aprovou uma lei que permite que se matem bebês para fazer experiências científicas com eles. Esse é o primeiro ataque do governo federal às crianças ainda não nascidas. A partir daí, o ministro da Saúde tem editado regulamentações que procuram aumentar os casos de aborto permitidos”, diz, citando como exemplo a distribuição da chamada pílula do dia seguinte.

O Ministério da Saúde disse ontem que não tem competência para regulamentar a prática do aborto e negou que a pílula do dia seguinte seja abortiva.

Feministas

“Esse DVD é uma resposta que a diocese quis dar a partir das discussões sobre a realização de um plebiscito sobre a liberação do aborto”, diz o coordenador de pastoral da diocese, padre Marcos Vinícius Rosa.

A respeito das imagens de fetos abortados, ele diz que elas foram inseridas com a intenção de realmente chocar a platéia.
“As pessoas não têm noção da gravidade do aborto e do risco a que as mulheres se submetem.”

Representantes de ONGs feministas condenaram a iniciativa da diocese. Dulce Xavier, do grupo Católicas pelo Direito de Decidir, afirmou que o DVD é um “desserviço”, feito para chocar as pessoas.

“Poderíamos também fazer um vídeo mostrando imagens de mulheres que morrem fazendo aborto em clínicas clandestinas ou os órfãos dessas mulheres, mas não apelamos para esse tipo de coisa”, disse. Na opinião de Xavier, a própria Igreja Católica contribui com o aborto quando condena métodos anticoncepcionais.

Para Simone Diniz, da coordenação do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, a igreja tem por hábito usar “métodos truculentos” para manter a “maternidade forçada”.

Fonte: Folha de São Paulo

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