“Se os repórteres atuais estivessem no desembarque da Normandia, no Dia D, diriam: “Hoje, milhares vão morrer, enquanto enquanto Churchill e Roosevelt fumam charutos em Londres. Hitler teria ganho.”

O reverendo Russell Johnson conduz o pequeno grupo de jornalistas estrangeiros pela sede do centro ecumênico que dirige em Lancaster, Ohio.

Chama-se Farfield Christian Church e abriga o Ohio Restoration Project. É o centro nervoso da direita religiosa local.

Foi daqui, na nave freqüentada todos os dias por 1.000 religiosos, 3.000 aos finais de semana, que saiu a tropa de choque que, em 2004, garantiu a vitória de George W. Bush em um Estado que até a última semana se mostrava inclinado a votar no candidato democrata.

Russell Johnson estava à frente do batalhão de líderes de cem igrejas de diferentes denominações que foi a telefones, igrejas, paróquias e internet convocar às urnas seus fiéis –um contingente que historicamente se mantém alheio às eleições. Em 2004, porém, o reverendo contava com uma arma que lhe falta agora: assim como em outros 12 Estados, além do presidente, o eleitor tinha de escolher se aprovava ou não o casamento homossexual.

Desta vez, não só Johnson não tem o trunfo na manga como vê seu público cada vez mais alienado pelo Partido Republicano, ante acusações de corrupção envolvendo políticos locais e federais e sobretudo pelo escândalo do ex-congressista Mark Foley, que renunciou sob suspeita de envolvimento sexual com secundaristas que trabalham na Câmara. “É deprimente”, deixa escapar esse homem atarracado, que olha o interlocutor nos olhos e fala o que pensa.

Abaixo, o que pensa sobre alguns tópicos:

Eleições de 2004

“Quase 6 milhões votaram em Ohio. Bush venceu por nosso trabalho. Mandei e-mail para 410 mil lares. Lares, não pessoas. Vencemos nas quatro propostas da cédula que lidavam com questões morais. Nosso lema era “reze”, “sirva” e “participe”. Conseguimos registrar 39 mil amish, que votaram pela primeira vez na vida!”

Eleições de 2006

“Queremos liberdade de expressão nas igrejas, não queremos que (o cineasta) Michael Moore tenha poder de veto sobre quem vai ser o próximo presidente dos EUA. Mas a base está desmobilizada. Na verdade, os conservadores mais reagem do que agem.”

Bush

“Não apoiamos candidatos, por lei as igrejas não podem fazer isso nos EUA, mas nossos líderes apoiam os que defendem os valores bíblicos.”

Valores morais

“Acreditamos na vida, em vez de no aborto, na vida em vez de nas células-tronco. Não acreditamos que o ser humano seja um Frankenstein, que recebe pedaços de várias pessoas diferentes. Não acreditamos na evolução, mas defendemos a liberdade acadêmica, queremos que as escolas tenham o direito de ensinar evolução e também criação. Cremos que casamento é entre homem e mulher, não entre cachorros e gatos.”

Iraque e imprensa

“Se sairmos do Iraque, daremos razão a nosso inimigos. Será então como na Somália, no Vietnã. É como na Segunda Guerra. Só que lá, a imprensa era parte da solução. Hoje, pode ser parte do problema. Vocês nos comparam aos amish, o que é o mesmo que eu falar que todos os jornalistas são Jayson Blair (do “New York Times”, demitido por inventar reportagens). A imprensa hoje é 80% de extrema esquerda, sabia?”

Fonte: Folha Online

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