Mohammed Higazi, um cristão convertido, é o protagonista da última polêmica no Egito sobre o espinhoso assunto das mudanças de religião, ao ser o primeiro a pretender processar o Estado para que reconheça sua nova fé oficialmente.

No entanto, o histórico processo judicial não durou mais que quatro dias, já que tanto a pressão social como a do Estado obrigaram Higazi a desistir de seu processo.

A razão oficial que fez o advogado de Higazi, Mamduh Najla, retirar a denúncia foi “proteger a união nacional e evitar envergonhar os irmãos muçulmanos”, embora ele mesmo tenha reconhecido que na realidade acabou cedendo à pressão de um país majoritariamente muçulmano.

“Caso insistisse em continuar o processo, o matariam, e com permissão do Estado”, disse à agência Efe, Emad Gad, analista do centro de estudos estratégicos Al-Ahram.

Segundo o analista, o erro de Higazi, de 25 anos, foi pedir que sua mudança de religião, do islã para o cristianismo, constasse em sua documentação, “algo que nunca aconteceria no Egito, país que não respeita a liberdade de credo”.

Risco de morte

“Caso Mohammed Higazi insista em continuar como cristão convertido, a única alternativa para que continue vivo é sair do país”, acrescentou Emad Gad.

A história de Higazi – que agora quer se identificar com o nome copta de Bishoy e não com o de Mohammed, que vem do profeta Maomé – despertou novamente a discussão sobre o tabu das conversões religiosas, sobretudo se são do islã para o cristianismo.

Os obstáculos apresentados pelo Ministério do Interior do Egito nos trâmites administrativos necessários para que um cristão converso declare oficialmente sua nova fé fazem com que a maior parte prefira permanecer com documentos de muçulmanos.

No entanto, se um copta se converte ao islã, “em cerca de 15 minutos terá a nova documentação na qual é dito que é muçulmano. Será muito bem-vindo pelo Estado”, declarou Emad.

Mohammed Higazi mudou de religião por vontade própria e mesmo assim sua família acusou Najla, também ativista copta, de o pressionar e pagar a ele para que se tornasse cristão, afirma o advogado.

A ousadia de Higazi de pedir oficialmente sua mudança de religião levou setores muçulmanos a denunciarem a existência de “células de evangelização” por trás desta história.

“O caso de Higazi mostra sinais de um conflito confessional e não tem relação alguma com a liberdade de religião, mas com um movimento de apostasia”, declarou Abdel Moti Bayumi, analista em estudos islâmicos da instituição Al-Azhar, a de maior prestígio do islã sunita.

O “apóstata”

Bayumi, que já descreve Mohammed Higazi como “o apóstata”, está convencido de que ele recebeu dinheiro ou foi alvo de pressões de “células de evangelização” para que abandone o islã, uma decisão que significa que “irá para o inferno”.

De fato, segundo Bayumi, entrar no islã “não é tão fácil como se pensa”, já que qualquer interessado em adotar esta crença tem que passar primeiro por Al-Azhar para fazer um exame de religião “muito difícil”.

“Al-Azhar não oferece dinheiro nem faz promessas a nenhum copta que se converte”, disse Bayumi, defendendo sua instituição das acusações de liderar um movimento de islamização no país, tal como pensa o analista Gad.

Seja por própria vontade, tal como afirma seu advogado, ou por pressões recebidas, Higazi já é um símbolo por desafiar o Estado.

E embora a polêmica ainda continue, Gad prevê que Higazi será obrigado pelo Estado a renunciar de sua iniciativa e a dizer que foi pressionado por células de evangelização para se tornar um cristão.

Fonte: Portas Abertas

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