Após uma batalha de seis anos dentro e fora dos tribunais, a apresentadora da televisão pública egípcia Ghada el-Tawil conseguiu romper um velho tabu e aparecer na tela com o cabelo coberto com o hiyab, o véu islâmico.

Apesar da onipresença do véu no Egito, o regime continua vetando sua introdução em alguns setores que considera sensíveis como na televisão, nas linhas aéreas e nos hotéis, para tentar manter uma imagem laica em um país de maioria islâmica com um número cada vez maior de mulçumanos.

Há apenas três semanas, Tawil, que tinha sido afastada de suas funções durante seis anos após usar o hiyab, fez sua aparição perante as câmeras para apresentar o primeiro programa da televisão pública egípcia conduzido por uma apresentadora com seu cabelo coberto.

“Até agora não entendo por que me proibiram de aparecer na tela” depois que vesti o hiyab em 2002, disse à Agência Efe Tawil, que frisou que sua decisão “é uma questão de liberdade pessoal”.

Apesar de no Egito não existir nenhuma lei que proíba esta vestimenta islâmica na televisão pública, tradicionalmente se afastaram da tela todas as pessoas que tentaram aparecer com o tradicional hiyab.

“Não pedia para apresentar programas com um maiô, mas com um véu que representa uma grande parte da comunidade” comentou Tawil, apresentadora do “Canal 5” da televisão estatal.

Tawil, Hala al-Maliki e Rania Radwán, as três primeiras apresentadoras que foram proibidas de aparecer na televisão com o hiyab, denunciaram a emissora perante os tribunais em 2003.

Apesar de em 2005 a Justiça egípcia ter ordenado a anulação do veto imposto a Tawil e às outras duas apresentadoras afastadas, a emissora se negou a acatar a decisão judicial e Tawil não recuperou seu posto perante as câmaras.

“Não me tiraram apenas todos os programas que eu apresentava, mas também me proibiram de participar de todos os atos públicos que a cadeia organizava”, disse Tawil, que continua trabalhando no “Canal 5”.

Tawil, assim como suas duas colegas de profissão, teve que suportar “muita pressão, discriminação e injustiça” após ganhar o caso judicial.

Após longas brigas com seus chefes, eles a encarregaram, há três semanas, da apresentação de um programa de conteúdo social de uma hora de duração e que é transmitido todas as sextas-feiras ao vivo.

A primeira aparição de Tawil na tela com o véu islâmico em 23 de outubro foi recebida com mensagens de felicitação do público.

“Os espectadores que ligaram para o programa me felicitaram” dizendo que eu iluminava a tela, disse Tawil, feliz por ter vencido esta batalha.

Tawil afirma que o lenço nunca afetará seu profissionalismo, já que “o que chama a atenção do espectador não é o aspecto físico do apresentador, mas a maneira como conduz uma entrevista”.

Fora isso, ela afirma que se nega a trabalhar em programas de televisão religiosos. “Agora com o hiyab, não sou um clérigo. Tenho as mesmas idéias que antes de cubrir meu cabelo”, insistiu Tawil.

No entanto, a luta por seus direitos ainda não terminou, já que Tawil está decidida a recuperar seu posto como apresentadora do telejornal egípcio em língua inglesa, que perdeu após usar o véu.

Agora a televisão quer fazer com ela um teste em inglês antes de determinar seu retorno ao telejornal com o hiyab.

“Quando cobri o cabelo, não perdi minha capacidade de ler em inglês” comentou Tawil, que apresentou o telejornal no idioma estrangeiro por 12 anos.

A apresentadora acusou a emissora de tentar fazer todo o possível para impedir seu retorno ao telejornal, e explicou que em algumas ocasiões substituiu a única apresentadora do telejornal em língua inglesa por outra especializada em francês para evitar a aparição de Tawil.

A apresentadora está pensando em recorrer novamente aos tribunais para recuperar seu posto nos programas e agora ela garante não ter medo, já que conseguiu romper o tabu do véu na televisão.

Fonte: EFE

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