O candidato do PT ao Planalto, Fernando Haddad, esteve diante de lideranças evangélicas, nesta quarta-feira (17) em São Paulo, num esforço para tentar conter a onda em apoio a seu adversário, Jair Bolsonaro (PSL), entre religiosos, pobres e mulheres, um eleitorado tradicionalmente petista.
Haddad se apresentou como cristão, neto de um líder religioso no Líbano e casado há 30 anos com a mesma mulher, Ana Estela. Disse que o Poder Executivo não deve tratar de temas sensíveis como o casamento gay, a legalização das drogas e do aborto, a cargo do Congresso e desmentiu boatos de que defende pedofilia em sua campanha.
“Não estou fazendo nenhuma concessão, é no que eu acredito. Há temas que nós sabemos que são sensíveis e que dividem a sociedade, que envolvem valores. Sabemos que, em toda eleição, a questão de drogas, aborto, casamento [gay], tudo isso vem à tona e é natural que venha porque as pessoas são livres para pensar, para se manifestar, para formar o seu próprio juízo sobre temas que são muito sensíveis a todos nós. Defender a liberdade de expressão é uma coisa, a outra coisa é o papel do Poder Executivo diante de um país”, declarou o petista.
“O Poder Executivo tem limitações que devem ser respeitadas. Um presidente não pode ser eleito para impor o seu ponto de vista sobre as coisas. […] Há todo um amadurecimento em torno de temas relevantes e o Executivo tem que ter a sabedoria de respeitar os valores das pessoas e garantir que esses valores sejam expressados nos cultos, no seio das famílias, nas comunidades”, completou.
Desde as vésperas do primeiro turno, a equipe de Haddad tem se preocupado com notícias falsas que circulam contra o candidato nas redes sociais —e com o fato de não ter encontrado um antídoto eficaz para combatê-las. O petista atribui a circulação dessas informações caluniosas a Bolsonaro e a seus apoiadores.
Mesmo ciente das dificuldades para dilatar o apoio entre as denominações —segundo o Datafolha, 70% dos evangélicos estão com o capitão reformado—, Haddad fez um discurso em que se comprometeu com os valores da família e criticou o candidato do PSL.
Para Haddad, alguém que não se coloca a serviço do bem “não pode ser alçado à condição de presidente da República”.
“Fiquei muito preocupado com a onda de calúnias difamatórias que passaram a frequentar nossas redes sociais. Esses boatos atravessaram uma arena em que não é possível debater”, afirmou Haddad.
“De que vale um voto ganho dessa maneira?”, completou.
O candidato petista ressaltou que a justiça “demora a acontecer” porque não tem mecanismos para conter o fenômeno das fake news.
Haddad firmou ainda três compromissos frente a plateia de cerca de 200 pessoas, integrantes das igrejas Metodista, Presbiteriana, Batista, Anglicana, Assembleia de Deus, entre outras.
São eles: a prioridade de seu eventual governo será os mais pobres; o acolhimento, por parte do Estado, de todas as religiões; e delegar ao Congresso decisões sobre temas como aborto, legalização das drogas e casamento gay.
“O Estado não pode ser propriedade de uma religião, tem que abraçar todas”, disse ao defender a liberdade religiosa. “Muitas vezes as pessoas confundem a expressão ‘Estado laico’, que não é o que volta as costas para as religiões, é o que reconhece todas as crenças e oferece oportunidade para a pregação”.
A carta que Haddad preparou aos evangélicos —divulgada nesta quarta— já continha esses compromissos e trata também do que o petista chama de “calúnias” e “mentiras” que circulam entre os cristão sobre os candidatos de seu partido desde as eleições de 1989.
“A legalização do aborto, o kit gay, a taxação de templos, a proibição de culto público, a escolha de sexo pelas crianças não constam de meu programa de governo”, diz o documento em referência a notícias que circulam sobre o petista e já foram desmentidas.
Por fim, pastores falaram sobre casos em que há registro de boletim de ocorrência contra igrejas que se recusam a realizar casamentos entre casais gays e perguntaram a posição direta de Haddad sobre o aborto, mas o petista não falou nada além do que já tinha dito em seu discurso de quase meia hora.
Fonte: Folha de São Paulo