Paulo Barreto, pesquisador sênior do Imazon, compara campanha da Igreja pela Amazônia à pressão de protestantes nos EUA contra aquecimento global
O pesquisador sênior do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Paulo Barreto, faz um paralelo entre a Campanha da Fraternidade brasileira – “Amazônia, vida e missão neste chão”- e a movimentação da comunidade evangélica americana, que pressionou o presidente George W. Bush a adotar medidas para reduzir o ritmo do aquecimento global.
“Muitas vezes, o que cientistas ou ambientalistas dizem não têm impacto tão grande quanto setores com os quais a população esteja mais identificada”, afirma Barreto, nesta entrevista concedida ao Estado. “Esse tipo de aproximação de grupos religiosos com causas ambientais pode ser muito produtiva.”
O que o senhor acha de a Igreja abordar temas como a defesa ambiental?
Acredito que a iniciativa poderá trazer ótimas conseqüências. O discurso de um líder religioso com seus fiéis tem um impacto totalmente diferente do que o de um cientista ou um ambientalista. É algo muito mais próximo, afetivo.
Quais os maiores benefícios de tal proximidade?
As pessoas despertam para o tema. E o mais importante: facilita a ação, a transformação do discurso em mudança de comportamento.
O que o faz chegar a essa conclusão?
A experiência recente nos Estados Unidos é um indício dessa reação. Diante das notícias do aquecimento global, a comunidade protestante passou a cobrar ações efetivas do presidente Bush. Acho que aqui algo semelhante pode ocorrer. E já está acontecendo.
Mas a campanha mal começou.
O simples anúncio da iniciativa (antes do lançamento oficial da campanha) aumentou muito o interesse sobre o assunto, por exemplo, na mídia católica. O assunto já passou a ser discutido. E será ainda mais, depois de ser abordado durante as mensagens dominicais dos padres. Daí para as pessoas se conscientizarem da necessidade da mudança de comportamento, cobrarem dos governantes, é apenas um passo.
Fonte: Estadão