O deputado federal Eli Borges (PL-TO)
O deputado federal Eli Borges (PL-TO)

O deputado federal Eli Borges, novo líder da Frente Parlamentar Evangélica, mais conhecida como bancada evangélica, disse, em recente entrevista para a Folha de S. Paulo, que Bolsonaro agiu com prudência após derrota, minimizou os pedidos de intervenção, criticou o Supremo Tribunal Federal (STF) e defendeu os atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro.

Eli Borges, que vai se revezar com Silas Câmara (Republicanos-AM) nos próximos dois anos no comando da bancada evangélica, um dos grupos mais representativos do Legislativo e que ampliou seu poder no mandato de Bolsonaro, disse que “muita gente boa” foi presa após os ataques antidemocráticos em Brasília no dia 8 de janeiro e que os baderneiros existiram, mas seriam uma “minoria infiltrada” que nada tinha a ver com a “imensa maioria, de boa-fé, na frente dos quartéis cantando o hino nacional”.

O deputado defendeu remover o direito ao aborto em casos de estupro e criticou a escola de samba paulistana Gaviões da Fiel por causa de seu enredo neste Carnaval, “Em Nome do Pai, dos Filhos, dos Espíritos e dos Santos”.

Sobre ser oposição ao governo Lula, o deputado disse que a bancada tem postura de defender bandeiras como a família, luta contra ideologia de gênero, luta pela defesa da vida e contra aborto, contra jogo de azar e que não vai amenizar nenhuma das pautas que a bancada defende em Brasília.

Perguntado se é um bolsonarista, ele disse: “Eu me considero um deputado federal que tem afinidade com as bandeiras que Bolsonaro defende. Até porque tenho uma postura política muito interessante. Se você analisar as minhas votações, elas são votações que estão muito ligadas à minha consciência. O Solidariedade foi para o PT, e eu tinha que ficar onde eu estava inserido nas bandeiras que eu defendo. Nesse momento que passou, esse lado era o do Bolsonaro.”

Sobre estar decepcionado com o comportamento de Bolsonaro após a derrota eleitoral, como alguns pastores disseram que estavam, Borges disse que Bolsonaro “apenas exercitou a prudência que deveria ter e não se envolveu em função de estarmos vivendo, entre aspas, uma ditadura da toga no Brasil. E isso com certeza levou o Bolsonaro a exercitar o espírito prudente nesse tempo de início do governo Lula. Ele é um ser humano, e nós temos que respeitar.”

Sobre as invasões aos prédios dos três poderes em Brasília no dia 8 de janeiro ser um ato antidemocrático, Borges disse que concorda que “uma pequena minoria de baderneiros infiltrados praticaram atos antidemocráticos. Porém a imensa maioria, de boa-fé, na frente dos quartéis cantando o hino nacional com a bandeira nacional, estava a serviço da consolidação da democracia brasileira.”

“Vi todos os segmentos religiosos que defendem as cores da nossa bandeira, a nossa brasilidade, vi todos na porta dos quartéis. Evangélicos, católicos e espíritas na luta pela democracia”, disse ao ser perguntado sobre a participação evangélica nos atos do dia 8 de janeiro.

Sobre os pedidos de intervenção das Forças Armadas após o resultado das urnas, o líder da bancada evangélica disse: “Se você abrir a Constituição está muito claro: as Forças Armadas exercem um papel de atender ao clamor popular, e essa população foi fazer um clamor que a Constituição define como um direito constitucional. Não vi nada de errado na sociedade fazer o seu clamor.”

Perguntado se Bolsonaro continuará contando com o apoio maciço dos evangélicos nas próximas eleições, Borges disse: “Não posso ser vidente para daqui a quatro anos. Entendo que, se ele continuar defendendo o que as igrejas defendem, vai conseguir esse apoio. Se o Lula se converter e começar a defender o que defendemos… A igreja não tem partido.”

Sobre o Estatuto do Nascituro, que propõe impedir o aborto em casos de estupro, o que hoje a legislação aceita, Borges disse que “neste jogo que fazem, esquerda contra direita, prefiro colocar a mãe que foi violentada. Tem omissões aí, que é esta criança. Será que ela também deveria falar no processo, dizendo: ‘Olha, não tenho culpa de nada, sou uma vida, tenho direito de nascer’? É importante pensarmos que tem essa figurinha lá, que a mãe emprestou sua barriga para que ela nasça.”

“Não concordo que tenha aborto no Brasil. Defendo a vida desde o nascituro. Defendo a vida, e o dono da vida é Deus”, disse ao ser perguntado sobre ser favorável a remover esse direito específico ao aborto da legislação.

Sobre a posição da bancada contra o enredo da escola de samba Gaviões da Fiel, ele disse que vê no Brasil uma cristofobia forte. Temos que oferecer uma reação. Queremos respeito ao nosso culto. Isso inclusive é uma garantia constitucional.

Ao ser questionado sobre o respaldo constitucional do pastor americano que disse num congresso da Assembleia de Deus, em Brasília, que homossexuais, trans e até quem usa calça apertada têm reserva no inferno, no mesmo fim de semana do desfile da Gaviões da Fiel, Eli Borges disse: “Olha, deixa eu ser claro. Uma coisa é uma escola de samba, devidamente organizada, com a clara visão de afrontar mesmo a fé brasileira. Outra coisa é uma preleção de um pastor que, dentro do regramento de sua fé, com a Bíblia aberta, se posicionou. Tenho o direito de verbalizar minha visão de sociedade desde que eu esteja enquadrado no meu manual, que é a Bíblia.”

Fonte: Folha de S. Paulo

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