A polêmica sobre os comentários do papa a respeito do Islã e a trapalhada burocrática de ter nomeado um bispo polonês que havia sido espião comunista faz muitos especialistas se perguntarem quem realmente está comandando o Vaticano.

“No mínimo, vários departamentos foram superficiais e negligentes ao lidar com ambos esses assuntos”, disse um influente prelado do Vaticano, sob anonimato.

Muitos na Santa Sé ficaram chocados ao saber que Stanislaw Wielgus renunciou minutos antes de assumir arcebispo de Varsóvia. O bispo foi obrigado a admitir –após inúmeras negativas– que havia espionado para o extinto regime comunista polonês, justamente no país do papa que deixou como um de seus principais legados o combate ao comunismo, João Paulo 2o.

Para Roma, a questão é como os assessores do papa Bento 16 e seu núncio em Varsóvia deixaram de fazer sua lição de casa a respeito de Wielgus, o que teria resultado em conselhos diferentes ao pontífice.

“Parece que houve uma imprudência geral, tanto aqui no Vaticano quanto na Polônia”, disse uma fonte do Vaticano. “O núncio (embaixador do papa) na Polônia deveria saber melhor (sobre Wielgus).”

O papa só sagra bispos e arcebispos sob recomendação da Secretaria de Estado e da Congregação para os Bispos.

Fugindo à habitual reverência da imprensa italiana pelo Vaticano, a revista Panorama publicou na sexta-feira uma reportagem de capa sobre as “Guerras Não-Santas” entre facções burocráticas de vários departamentos que assessoram o papa.

Observadores dizem que desde sua eleição, em abril de 2005, Bento 16 tenta desmantelar o tráfico de influência que ele herdou na Secretaria de Estado, que atua tanto como chancelaria quanto na intermediação entre os departamentos do Vaticano.

Em vez de um diplomata de carreira, Bento 16 nomeou para a Secretaria de Estado um teólogo, seu ex-colega no departamento doutrinário do Vaticano.

“Esse papa chegou ao cargo herdando guerras internas de poder, e esse episódio claramente de muito pouco serviu para reforçar sua confiança na capacidade dos diplomatas do Vaticano”, disse John Allen, norte-americano autor de vários livros sobre a Igreja Católica.

“Alguns verão isso mais uma vez como parte de um padrão do corpo diplomático que constrange o papa deliberadamente, ou simplesmente por sua incompetência”, afirmou ele por telefone de Nova York.

A imagem do ainda jovem pontificado de Bento 16 não se recuperou totalmente da ira despertada no mundo islâmico por um discurso feito em setembro, na Alemanha, na qual ele sugeria um caráter violento do Islã.

Naquele episódio, assessores não conseguiram prever a reação mundial ao pronunciamento, e algumas fontes disseram que o discurso nem chegou a ser revisto por assessores diplomáticos.

O escândalo polonês obriga a diplomacia vaticana a priorizar a redução de danos pela segunda vez em quatro meses. “Certamente, tudo isso não é muito agradável para o papa”, disse uma fonte.

Polônia: jornal retira revelações sobre outro bispo envolvido com comunismo

O jornal Dziennik retirou de circulação, no sábado de madrugada, uma parte de sua edição de fim de semana que revelava o nome de outro bispo polonês que no passado teria colaborado com os serviços secretos (SB) durante o governo comunista.

A Gazeta Wyborcza disse hoje sobre o assunto que o bispo em questão já está aposentado, e era antes conhecido somente por seu apelido “Teolog” e foi registrado como colaborador dos serviços secretos no ano de 1961.

Dziennik havia anunciado já na edição de 10 de janeiro a publicação do nome de “Teolog”.

Nos exemplares retirados de circulação, segundo o jornal, haviam sido impressos o nome e a foto do bispo acusado, junto a uma breve declaração do religioso.

Na sexta-feira, os bispos poloneses – em meio a renúncia do monsenhor Stanislaw Wielgus a seu cargo de arcebispo de Varsóvia – aceitaram se submeter ao controle da comissão histórica do episcopado que irá investigar se nos arquivos dos serviços secretos, agora nas mãos do Instituto da Memória Nacional, existem documentos que provem uma eventual atividade destes religiosos na época comunista.

Fonte: Reuters e Ansa

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