A recente série de escândalos de abuso sexual de crianças envolvendo membros da Igreja Católica em vários países do mundo e as suspeitas de que o papa Bento 16 acobertou muitos dos casos mexeram com os ânimos em um dos lugares onde o pontífice encontrava mais apoio: sua cidade-natal, Traunstein, na Alemanha.
No vilarejo de cartão-postal, localizado aos pés dos Alpes, na região da Baviera, muitos habitantes falam em “decepção”.
“Estávamos orgulhosos de termos um papa alemão”, disse uma moradora que passeava pela principal praça da cidade. “Mas este orgulho acabou.”
Outra habitante declara: “Os escândalos de abuso foram um choque. As pessoas estão deixando a Igreja”.
Traunstein, no entanto, ainda atrai visitantes por causa de seu filho mais ilustre. No centro da cidade, turistas se aglomeram para serem fotografados ao lado do busto do papa Bento 16. E um passeio turístico passa pelos locais associados a Joseph Ratzinger.
Castigos e abusos
A Alemanha é um dos países onde recentemente surgiram acusações contra padres católicos.
Até agora, foram relatados mais de 300 casos de abuso físico e sexual, que datam desde a década de 50 e envolvem clérigos de escolas católicas, mosteiros e até o famoso coral de meninos de Regensburg.
Um desses meninos era o hoje compositor Franz Wittenbrink, que foi membro do coral entre 1958 e 1967. Segundo ele, os padres tinham um sistema de “castigo semi-sexual”.
“Eles escreviam em um caderno quantas surras os meninos tomavam. Se chegássemos a 20, tínhamos que ir até eles, geralmente em seus aposentos particulares”, contou Wittenbrink à BBC.
“Tínhamos que abaixar a calça e apanhávamos com vara. Três dos padres usavam suas mãos para bater nas nádegas nuas.”
Ainda de acordo com Wittenbrink, outros meninos eram abusados sexualmente pelo diretor da escola onde funcionava o coral.
Para ele, Joseph Ratzinger, que foi arcebispo de Munique entre o final da década de 70 e o início dos anos 80, e foi nomeado como o papa Bento 16 em 2005, “sabia do que acontecia”.
“Não consigo imaginar que ele não soubesse”, disse. “Acho que naquela época, a Igreja tentou varrer tudo para debaixo do tapete. Eles não queriam ninguém falando coisas ruins sobre a Igreja.”
Na sexta-feira, o Vaticano negou que o papa tenha acobertado casos de abusos.
Fonte: Estadão