As igrejas evangélicas têm se proliferado ao longo dos anos no Brasil, justamente pelo aumento do número de fiéis. As pesquisas têm evidenciado esse vertiginoso crescimento. Em duas décadas, elas cresceram 543% no país, segundo o levantamento “Surgimento, Trajetória e Expansão das Igrejas Evangélicas no Território Brasileiro ao Longo do Último Século (1920 a 2019), que foi realizado pelo Centro de Estudos da Metrópole (CEM) da Universidade de São Paulo (USP), e divulgado recentemente.
O estudo desenvolvido pelo pesquisador Victor Augusto de Araújo Silva, que também faz parte do Departamento de Ciência Política da Universidade de Zurique, revela ainda que o Espírito Santo registra um crescimento emblemático. Em 1970, o Estado tinha apenas 0.2501 de igrejas evangélicas por 100 mil habitantes. Menos de cinco décadas depois, em 2019, ele atingiu 93 templos evangélicos por 100 mil habitantes, o que representa a maior concentração em todo o território nacional.
“As igrejas crescem no Estado devido ao trabalho de evangelização, que é muito forte. Um Estado muito evangelizado, que as pessoas valorizam muito o Evangelho. E também porque, de uma maneira geral, as igrejas investem no crescimento, na expansão do Evangelho”, opina o pastor Evaldo Carlos dos Santos, da Igreja Batista da Praia da Costa, em Velha Velha (ES) e coordenador do Jesus Vida Verão, o maior evento evangélico em praia do Brasil.
Já o pastor Rodolfo Capler, que é teólogo, escritor e pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo/PUC-SP, aponta o fluxo de nordestinos que fugiram da seca que atingiu o interior do Nordeste na segunda metade do século 20. “A paisagem social brasileira modificou-se com milhares de famílias trabalhadoras dirigindo-se para o Sudeste do país. Essa alteração demográfica forjou o terreno onde se processou o chamado boom evangélico”.
Isto porque, segundo Rodolfo, as famílias, predominantemente católicas, que deixaram a seca não encontravam ambientes de culto nos locais para os quais se dirigiam. “Dessa forma, as comunidades evangélicas – que para funcionarem necessitam apenas de um registro em cartório – ocuparam essa lacuna deixada pela Igreja Católica em Estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo, acolhendo milhões de pessoas, sobretudo nas últimas três décadas finais do último século”.
E é justamente o Rio de Janeiro que está logo atrás do Espírito Santo em número de templos evangélicos, de acordo com a pesquisa do CEM. São mais de 80 por 100 mil habitantes. Isso significa que existe uma igreja evangélica para cada 1.250 moradores no Estado.
O demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, que é professor aposentado da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) do IBGE e estudioso do tema, explica que, historicamente, o Rio de Janeiro projeta, com até 20 anos de antecedência, o que deve acontecer no Brasil em termos religiosos. “O Rio de Janeiro funciona como uma antecipação do que vai acontecer no Brasil. Se você quer saber como estará a questão da religiosidade no Brasil em 2040, basta olhar para o Estado hoje.” Segundo ele, isso explica pelo fato de o Estado ser historicamente o mais avançado em termos de transição religiosa.
Após o Espírito Santo e o Rio de Janeiro, estão Rondônia, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Distrito Federal e Minas Gerais. Estes estados variam entre 30 e 50 igrejas evangélicas por 100 mil habitantes. Vale salientar que a pesquisa leva em consideração apenas as igrejas evangélicas registradas, ou seja, aquelas que possuem CNJP e, portanto, cadastro na Receita Federal.
Fonte: Comunhão