Ex-cantores do Regensburger Domspatzen contaram à “Spiegel” que sofreram violência física e sexual em dois internatos ligados ao famoso coro católico. Um ex-cantor diz que é “inexplicável” que o irmão do papa, Georg Ratzinger, ex-diretor do coro, não soubesse de nada.

O escândalo de abuso no coro Regensburger Domspatzen é maior do que se imaginava até agora. Terapeutas de Munique e arredores estão tratando vários ex-cantores traumatizados pelo abuso sexual e outra formas de violência física.

Um homem que foi vítima de abusos contou à “Spiegel” sobre os rituais cruéis do internato Etterzhausen, uma escola preparatória para meninos, de onde o coro escolhe seus cantores.

Ele disse que no final dos anos 50, o diretor da escola, um padre católico, administrava duras punições físicas. Ele com frequência praticava o que chamavam de “surras peladas” em sua sala particular, nas quais meninos de oito ou nove anos eram obrigados a se despir e o padre batia neles com as mãos. Em alguns casos, diz a vítima, havia penetração.

“Prazer sexual”

O diretor e compositor Franz Wittenbrink, que viveu no internato do coro de Regensburg até 1967, disse que a escola tinha um “sistema elaborado de punições sádicas combinado com prazer sexual.”

Ele disse que o diretor na época “escolhia dois ou três meninos dos dormitórios à noite e os levava ao seu apartamento”. Ele disse que havia vinho tinto e que o padre se masturbava com os alunos. “Todo mundo sabia disso”, diz Wittenbrink. “Acho inexplicável que o irmão do papa, Georg Ratzinger, que foi chefe da banda da catedral desde 1964, aparentemente não soubesse de nada.”

Um colega cometeu suicídio pouco antes de fazer seus exames para entrar no ensino médio, disse Wittenbrink. Apesar de muitas indicações, a diocese de Regensburg não tornou públicos os casos de abuso até ser contatada pela “Spiegel” na quinta-feira (4). Agora ela prometeu investigar tudo rigorosamente e apresentar um relatório preliminar no final de março.

As alegações contra ex-professores são as mais recentes a virem à tona no escândalo de abuso sexual nas escolas católicas da Alemanha.

Irmão do papa diz que não sabia de nada

Georg Ratzinger, irmão do papa Bento 16, disse a um jornal italiano que estava disposto a testemunhar sobre o escândalo sexual, mas que não sabia de nada sobre o suposto abuso de meninos no coro de Regensburg.

Numa entrevista publicada no domingo, Ratzinger disse, segundo o diário “La Repubblica” de Roma, que não havia terror, mas, sim, “disciplina e rigor” durante os 30 anos que foi chefe do coro de Regensburg, de 1964 a 1994.

O irmão do papa também disse que as acusações de abuso também refletem “uma certa animosidade em relação à igreja”.

O Vaticano disse no sábado que dois casos de abuso sexual ligados ao coro de Regensburg não coincidem com o período de 30 anos em que ele foi liderado por Georg Ratzinger.

“Muita raiva”

O jornal do Vaticano, “L’Osservatore Romano” divulgou no sábado uma declaração do bispo de Regensburg, Gerhard Ludwig Müller, dizendo que um caso de abuso por parte do vice-diretor de uma escola primária ligada ao coro foi detectado em 1958.

Além disso, o jornal pediu que fossem tomadas providências contra os responsáveis. Walter Kasper, presidente do Conselho Pontífice para Promoção da Unidade Cristão, disse ao jornal que os responsáveis precisam ser levados ao tribunal e as vítimas, indenizadas por seu sofrimento.

Ele disse que acompanhou o escândalo, que não para de crescer na Alemanha, com “grande decepção, dor e muita raiva”. Não é possível “justificar, nem tolerar”, continuou ele. A questão é um “crime odioso que precisa ser investigado com total determinação”.

Fonte: Der Spiegel

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