O ex-capelão da Polícia Militar de São Paulo Osvaldo Palópito foi condenado na segunda-feira (17) a 26 anos e dois meses de prisão por desvio de dinheiro de fiéis destinado a obras assistenciais.
Padre da Igreja Católica e tenente-coronel, Palópito foi considerado culpado pela Justiça Militar pelos crimes de peculato, falsidade ideológica, abandono de posto e exercício de comércio por oficial. A sentença foi proferida pelo juiz Ênio Luiz Roseto.
Eliézer Martins, advogado do ex-capelão, afirmou que recorrerá da decisão. Enquanto isso, Palópito poderá aguardar em liberdade.
Segundo a Promotoria, os crimes ocorreram entre junho de 2009 e janeiro de 2015, período em que o padre foi responsável pela paróquia Santo Expedido, na Luz (centro de São Paulo), onde funcionava a capelania.
A paróquia era frequentada por civis e militares. Para viabilizar o esquema, de acordo com a acusação, Palópito abriu em junho de 2009 uma conta no Bradesco em nome da “Mitra do Ordinariado Militar do Brasil”.
A corregedoria descobriu, porém, que a mesma não pertencia à instituição e era administrada pelo próprio padre sem ser submetida a qualquer tipo de controle ou auditoria da Polícia Militar. Nela, eram feitos depósitos regulares de dinheiro recebido de doações de fiéis que frequentavam a igreja.
O dinheiro era movimentado pelo padre, por Edson Moreira Costa, que atuava como contador, e por Terezinha Silva Barbosa, que trabalhava na administração paroquial. Costa e Barbosa não são réus no processo que condenou Palópito porque são civis e não respondem à Justiça Militar.
Segundo a defesa, apenas Barbosa e Costa foram responsáveis pelos desvios, dos quais o padre não estava ciente. “Uma perícia provou nos autos que a assinatura dele foi falsificada. Ele não estava ciente dos desvios”, afirmou Martins. Ele também citou uma interceptação telefônica que indicaria a inocência de Palópito, mas não forneceu a gravação à reportagem.
A defesa também contesta a competência da Justiça Militar para condenar o ex-capelão pelo crime de peculato, uma vez que o dinheiro desviado não pertenceria à PM, mas à igreja.
Segundo a acusação do Ministério Público, somente em 2014 o esquema desviou R$ 600 mil destinados por fiéis às obras assistenciais da igreja.
Para aumentar a renda recebida, a paróquia expedia carnês de mensalidades aos frequentadores que se cadastraram à igreja, que faziam pagamentos recorrentes em valores diversos.
Com o dinheiro desviado, Palópito comprou um estabelecimento comercial e uma cobertura em Bertioga, no litoral de São Paulo, incompatíveis com sua renda, segundo a Promotoria. O comércio, chamado Empório São Lourenço, é registrado no nome de uma amiga de Palópito. Mas, segundo a Promotoria, era o padre quem o administrava. A prática comercial é proibida para oficiais da PM.
Palópito ainda foi acusado de falsidade ideológica e abandono de posto. A Justiça constatou que, durante o mês de novembro de 2014, Palópito forjou o controle de frequência e não cumpriu suas funções de capelão durante seu expediente, sem autorização para se ausentar.
[b]O ÚLTIMO CAPELÃO
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Com a crise instaurada na capelania após a repercussão do caso, o comandante-geral da corporação, coronel Ricardo Gambaroni, determinou à época a extinção do cargo de capelão militar.
Antes do caso, Palópito chegou a gravar discos de canções religiosas e fazia shows para centenas de pessoas. Ele tem diversos vídeos publicados na internet.
[b]Fonte: Folha de São Paulo[/b]