Lideranças cristãs brasileiras não católicas consideram que a divulgação do documento Respostas a Questões Relativas a Alguns Aspectos da Doutrina sobre a Igreja pelo Vaticano e o papa Bento 16 aconteceu em momento inoportuno.
O documento, apresentado pela Congregação para a Doutrina da Fé – presidido anteriormente por Joseph Ratzinger -, afirma que a única Igreja de Cristo é a Igreja Católica e que as denominações protestantes não podem ser chamadas de Igrejas.
O conteúdo do texto, no entanto, é tido como coerente com o posicionamento histórico da Igreja Católica. “O documento está dentro da linha teológica tomista defendida pela Igreja Católica. Acreditamos que estão apenas reafirmando essa crença”, afirma o presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil, Roberto Brasileiro. O bispo primaz da Igreja Episcopal Anglicana, d. Maurício Andrade, diz que o documento católico não traz novidades. “Poderia ter sido um comunicado interno.”
Outros líderes acreditam que faltou bom senso. “Bento XVI jogou uma pá de cal na linha alegre e solidária que foi adotada pela Igreja Católica durante o papado de João XXIII”, diz o pastor evangélico e ex-presidente da Associação Evangélica Brasileira (AEvB), Ariovaldo Ramos. Para ele, a atitude do Vaticano equivale à expulsão de casa de membros de uma mesma família.
Ecumenismo
Para o secretário-executivo do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (Conic), reverendo Luiz Alberto Barbosa, a divulgação do texto pelos católicos ocorreu no momento errado. “As denominações cristãs mantêm um diálogo ecumênico tranqüilo, mas o texto suscita reações.”
O Conic é composto pelas Igrejas Católica, Ortodoxa, Cristã Reformada, Episcopal Anglicana , Luterana e Presbiteriana. Na visita do papa ao Brasil, a entidade foi apontada por Bento XVI como meio para o diálogo ecumênico com os demais cristãos.
Novas “feridas” entre as denominações podem ser levantadas pela divulgação do documento, de acordo com o reverendo Barbosa. Mas ele também avalia que a maior parte da polêmica está sendo criada pela mídia, já que o texto do Vaticano também afirma que a Igreja Católica permanece aberta ao diálogo. “Apesar de cada um ter uma doutrina própria, os cristãos precisam caminhar juntos e o texto não diminui essa possibilidade.”
O cardeal responsável pelas relações com outros cristãos, Walter Kasper, disse ontem que as reações ao documento foram exageradas. Ele reafirmou o compromisso do diálogo católico com as demais denominações cristãs em entrevista à Rádio do Vaticano.
Fonte: Estadão