O principal santuário católico português e um dos preferidos pelos peregrinos brasileiros que vão à Europa vai ganhar uma nova igreja – a quarta maior do mundo.

Com uma previsão da presença de 200 mil a 250 mil peregrinos, será inaugurada nesta sexta-feira em Fátima a Igreja da Santíssima Trindade, a maior casa de culto religioso do país, com capacidade para 8.760 pessoas sentadas.

A nova igreja, de formato circular e com 125 metros de diâmetro e 15 metros de altura, será inaugurada pelo enviado do papa, o Cardeal Tarcisio Bertone, com uma sequência de 12 missas em oito línguas: português, inglês, italiano, francês, espanhol, alemão, holandês e polonês.

Sua inauguração é o ponto alto das comemorações dos 90 anos das primeiras aparições da Virgem Maria aos três pastorinhos em Fátima.

Concebida pelo arquiteto grego Alexandros Tombasis, a nova igreja segue a estrutura idealizada com base na doutrina seguida por João Paulo 2º – o altar tem o formato de um grande palco central, enquanto os fiéis ficam num plano mais elevado, como se fosse um grande teatro.

Ao contrário do tipo de arquitetura que passou a ser privilegiado após o Concílio Vaticano 2º, que idealizou a igreja como local de recolhimento para uma experiência mística individual, a nova igreja celebra o culto como um evento de massa.

“Não há nenhuma coluna na igreja, nada que impeça a visão do altar”, afirma Tombasis. Além da forma circular e da estrutura, o projeto procura apresentar a nova igreja como um local de luz. “Busquei a sensação de luz natural”, diz Tombasis, um sistema controlado por computador permite criar diferentes iluminações dividindo o espaço da igreja através da luz.

O mais impressionante da nova igreja é o altar, que tem por trás um mural de 500 metros quadrados em ouro e terracota, o maior painel em mosaico do mundo, feito pelo artista esloveno Marko Ivan Rupnik. A imagem retratada, com o título Chamamento Universal da Igreja, que lembra ícones da igreja ortodoxa, tem 400 metros quadrados dos mosaicos folheados a ouro, com quatro qualidades diferentes de ouro para dar tons diferentes: de 33, 20 e 18 quilates e de 23 quilates misturado com cobre para um tom avermelhado. Representando a nova Jerusalém, a partir da decrição dos capítulos 21 e 22 do Livro do Apocalipse, o mosaico retrata de um lado os apóstolos e do outro os pastorinhos que viram as aparições de Nossa Senhora em 1917. No centro, um crucifixo de 7,5 metros de altura feito em bronze pela irlandesa Catherine Green. Outros sete artistas foram convidados para colocar suas obras na igreja, como o alemão Robert Schad, responsável pela cruz alta que fica ao lado da igreja, o arquiteto português Álvaro Siza Vieira, com um mural de azulejos, o italiano Benedetto Pietrogrande, com uma imagem da Nossa Senhora de Fátima, e a cipriota Maria Loizidou, com uma escultura para o pórtico da entrada principal.

Segundo o reitor do santuário de Fátima, monsenhor Luciano Guerra, a nova igreja procura mostrar uma ligação ao Leste Europeu, o que é demonstrado desde a iconografia até as pessoas que trabalharam na sua construção. Por exemplo, o altar foi feito por pessoas de nacionalidades eslovena, sérvia, georgiana, letã e ucraniana. “”Pretendemos trazer o Leste cristão da Europa”, explica.

Monsenhor Guerra explica por que era necessária uma nova igreja: “Na basílica apenas cabiam até 3,5 mil pessoas. Precisávamos de um local para a celebração para grupos maiores, de até 9 mil pessoas. Há 30 anos que já falávamos em construir uma nova igreja em Fátima”. Mas as celebrações para as grandes peregrinações, que chegam a reunir centenas de milhares de pessoas vão continuar a ser feitas ao ar livre, no espaço entre a nova igreja e a basílica, onde no centro fica a gruta das aparições – local onde sobre uma árvore teria sido vista a Virgem Maria.

Quando foi concebida, em 2002, o custo previsto da igreja era de 46 milhões de euros. Duas semanas antes de ter a construção terminada, Monsenhor Guerra não tinha uma estimativa da conta final: “Vai ficar entre 70 e 80 milhões de euros. Isso porque ainda falta construir o túnel”, diz referindo-se a uma obra para desviar o tráfego da parte de trás da igreja. Ele conta que todo o dinheiro foi pago a vista a partir das doações dos fiéis, sem recorrer a empréstimos bancários – o que indica que Fátima é, provavelmente, um dos santuários mais ricos da Europa. Num encontro de santuários católicos europeus, ao relatar isso, os responsáveis pelos outros santuários teriam dito a monsenhor Guerra que não teriam condições de pagar esses valores sem recorrer a financiamentos.

Fonte: BBC Brasil

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