Figura conhecida do público forrozeiro, o cantor paraibano Felipão surpreendeu os fãs ao abandonar a carreira para se tornar cantor gospel. Oito anos depois, ele retorna ao ritmo que lhe consagrou por não concordar com o comércio que envolve a música religiosa. “Não queria viver aquilo. Para mim era muito pesado. No meu coração não sentia paz nessa comercialização da música e da fé”, afirma em entrevista ao Viver, do Diário de Pernambuco.

O artista visitou a capital pernambucana para divulgar a nova fase e falou sobre as mudanças na vida e na carreira. Felipão anunciou que será atração principal de uma festa marcada para o dia 22 de setembro, em Recife. Ele também vai cumprir agenda em Caruaru, em outubro.

Durante o período em que se dedicou à música gospel, ele lançou três CDs, um DVD, e escreveu dois livros. Nascido em Campina Grande, Felipe Gurgel se instalou em Fortaleza, onde mora há 25 anos com a esposa e duas filhas (10 e 6 anos). Com a maturidade adquirida nos últimos anos, o cantor de 33 anos volta a cantar forró, mas garante adotar um novo comportamento. “Tem músicas de duplo sentido que não cantaria novamente. Mas não carrego esse peso. Estava preocupado em prestar conta, mas fiquei em paz com as minhas escolhas”, explica o artista que resgatou o bordão “vagabundo”.

Por que decidiu voltar para o forró?
Foram muitos fatores. Não tinha a intenção de ser cantor gospel. Estava cansado daquela correria e quis desistir. Pensava em sair da música e montar um negócio próprio. Foi aí que entrei na igreja, por acaso, e gostei muito do ambiente. Quando encerrei a carreira e anunciei na TV, as igrejas começaram a me convidar para dar testemunhos e contar a minha história. Tudo foi acontecendo. Recebi um convite de uma gravadora no Rio de Janeiro, assinamos contrato e a coisa começou a andar. Só que eu não queria viver aquilo comercialmente. Para mim era muito pesado.Não queria viver aquilo. Para mim era muito pesado. No meu coração não sentia paz nessa comercialização da música e da fé. A coisa para funcionar tem que ser profissional. Tem que barganhar, negociar e bajular. São práticas normais no meio musical. Mas a minha intenção não era essa. Isso me doía por dentro. Não podia fazer isso com a fé, com o que estava pregando. Esse foi um dos motivos.
Como essas mudanças interferem no público que te segue? 
A maioria das pessoas não aceita o que eu faço. Estou no meio desse processo de adaptação. Voltei a estaca zero em relação ao público forrozeiro. Ele se renovou totalmente. Agora é essa galera de 15 a 2

5 anos que está na pista. Muito já ouviram falar do Felipão, mas está tendo acesso ao meu trabalho pela primeira vez. E o público gospel não costuma aceitar esse trabalho. Então parei de me comunicar com eles e realmente vou focar nesse outro mercado.

Existe algum arrependimento por suas escolhas?

Fui muito criticado na saída do forró. Disseram que eu estava ficando louco. Me mandaram para o psicólogo e psiquiatra. Mas não ficou nenhum arrependimento. Da época do forró construímos uma história muito legal. Entrei e saí bem, não me queimei com nenhum contratante. Já no gospel, pude fazer um trabalho muito intenso e dedicados a uma causa. A gente amadurece e nota as mudanças no dia a dia. São questões de visão de vida.

E agora, fica proibido de algo?
Fica difícil voltar ao forró sem cantar o público quer ouvir e sem falar a linguagem que eles estão acostumados. Analiso o que está em voga no mercado e no que eu sinto. Terei o meu limite. Não venho de lá trazendo nenhum peso ou regras para ser podado. Estou procurando viver e deixar acontecer.

O repertório de show você canta sucesso de outros artistas. O que acha dessa pluralidade?
A música se misturou muito. Isso é bom e ruim. Está tudo mais agregado. Particularmente, acho ruim. Sinto saudade da época em que se subia no palco para cantar o meu próprio repertório. Hoje é quase uma obrigação cantar o que faz sucesso. Quero pegar a contramão e explorar bem o lado autoral. Mas não ficarei desatualizado, vamos colocar o que o povo gosta de ouvir.

Fonte: Diário de Pernambuco

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