Os brasileiros deverão gastar R$ 5,1 bilhões neste ano em dízimos e outros tipos de doações para igrejas e orfanatos. A estimativa foi publicada ontem pelo economista Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), na segunda parte do estudo Economia das Religiões: Aspectos Locais e Ascensão Social.
“Esse valor supera o que é divulgado oficialmente pelas empresas como investimentos de responsabilidade corporativa”, afirmou Neri.
A projeção se baseia em uma atualização do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) sobre os R$ 3,7 bilhões declarados pelos entrevistados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2003, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
Segundo a pesquisa, em 2003 os brasileiros destinavam R$ 1,76 ao mês per capita nas doações, o que representa R$ 2,26 em valores atuais. De toda a população brasileira, 10,6% efetua contribuições, ao valor médio de R$ 16,62 mensais. Em valores absolutos, o Estado que faz mais doações é São Paulo, respondendo por R$ 1,14 bilhão do total.
As diferenças
O levantamento da FGV criou também um ranking de gastos por brasileiro ao mês, no qual o Distrito Federal ficou em primeiro lugar (R$ 4,48), seguido por Espírito Sant(R$ 3,33), São Paulo (R$ 2,48), Minas Gerais (R$ 2,18) e Rio de Janeiro (R$ 2,03). “O maior problema é que não se conhece a origem desse recurso, podendo ser, por exemplo, fruto de lavagem de dinheiro”, disse o pesquisador.
Divididos por religião, os brasileiros que mais doam são os evangélicos. “Tanto os pentecostais quanto os tradicionais possuem a menor renda, mas são os que contribuem com maior valor”, informou Neri. A média do dízimo dos pentecostais ficou em R$ 34 ao mês, enquanto a dos católicos doam cerca de R$ 11.
O pesquisador levantou a hipótese de as doações partirem exatamente de grupos menos beneficiados pelo Estado com serviços essenciais.
Religiões
Os católicos continuam o maior grupo religioso do País – 73,79% da população. Teresina (PI) tem a maior participação de católicos entre as capitais (86,09%) e a cidade de São Paulo registrou índice de 66,18% de católicos, ficando na 15ª posição. Entre os que se declaram “sem religião” – 5,1% do total dos entrevistados – a maior incidência relativa ficou com Salvador, onde 18,2% da população assinalou a opção.
Os evangélicos pentecostais respondem por 12,49% dos brasileiros – em Porto Velho eles chegam a 18,37% da população. O índice nacional de evangélicos tradicionais foi de 5,39%, sendo que a cidade do Rio de Janeiro possui a maior proporção relativa, com 10,07%.
“O que podemos notar é que a população de renda mais alta opta por crenças alternativas ou não tem religiosidade”, disse Neri. “Por outro lado, onde o Estado não se fez presente, houve um vácuo religioso”
Fonte: Estadão