Quase 3.000 mulheres atenderam ao chamado da pastora Sarah Sheeva, 38, na noite de terça-feira passada.

“Aqui, homem não entra. É o nosso complô contra o espírito da cachorrice”, diz a filha dos cantores Baby do Brasil e Pepeu Gomes, missionária da Igreja Celular Internacional.

De Bíblia, agendas e bloquinhos nas mãos, as candidatas a “princesas” dizem “amém” aos ensinamentos da ex-cantora que hoje prega abstinência sexual até o casamento.

“Estou há dez anos sem sexo. Uns nove sem dar beijo na boca. Sou radical”, relata Sarah. “Era ninfomaníaca, não ficava sem homem. Minha alma foi curada por Jesus.”

Ela diz que busca em Deus força para adormecer os desejos carnais. “Ele supre minhas necessidades emocionais. Supre minhas necessidades sentimentais”, afirma o refrão da canção que entoa.

O tom emotivo da música leva várias mulheres ao choro convulsivo, algumas parecem em transe. A cada frase de efeito, a plateia responde com gritos e aplausos, entremeados por risos e choros.

Crente desde 1997, Sarah é um fenômeno entre os evangélicos. Roda o Brasil com o “Culto das Princesas”, misto de palestra de autoajuda e pregação, alternados com os seminários Santificação 1 e 2.

Ela diz que não cobra cachê. Vive da venda de dois livros. Um deles chama-se “Defraudação Emocional”, em que ensina as solteiras a arrumar um casamento abençoado com um “príncipe”.

A receita, porém, ainda não funcionou para ela. Sarah diz que tem muitos pretendentes, mas nenhum ainda aceitou suas regras: não pegar na mão até o noivado; beijo de língua e sexo só na noite de núpcias.

Do púlpito, com um laptop à frente, ela faz um apelo para o público feminino aderir à sua meta de santificação: ficar seis meses sem dar beijo na boca do namorado.

É o pedágio para virar princesa e fazer o príncipe colocar a aliança no dedo. Depois, é festa. “Solteira diz não, casada diz sim”, prega.

Casou pode tudo e muito mais. “Agora, sexo lá em casa é de manhã, de tarde e de noite. Voltei para casa uma princesa. Meu marido adorou”, diz Paloma Affonso, 24.

Na espera por um autógrafo, ela se diz “do lar”. Paloma investiu R$ 200 no vestido floral e nos adereços para ver sua guru. Não faltou nem tiara na produção em tons de azul. “Princesa moderna não usa rosa, usa azul”, ensina.

A vestimenta é um capítulo à parte. “Nesse nosso clube, vocês vão aprender como deixar de ser cachorras”, diz Sarah ao microfone, para delírio das companheiras de fé.

A missionária da abstinência conduz o show com segurança. Adota um estilo retrô. O visual é “moça de família” dos anos 60. Usa um vestido rodado, com anágua de tule por baixo, arrematado por um romântico bolero.

Ataca o estilo “vulgar” das periguetes, cachorras e afins, com suas roupas coladas e decotadíssimas. “Não uso decote, aqui não tem amostra grátis”, diz para muitas garotas vestidas com calças bem justas e tops de fazer inveja a muita “preparada do funk”.

Elas lotam o salão térreo e o mezanino da Comunidade do Casarão, igreja evangélica de Mauá, Grande São Paulo.

SÓ PRA VOCÊ

Na parte final do culto, dedicada a perguntas, Sarah dá conselhos a uma senhora que quer saber se tem direito de recusar o marido sexualmente.

Vai na farmácia, compra um lubrificante e dá glória a Deus por ter um peru só para você em casa. Tem que dar valor, responde Sarah. Risos e amém, em uníssono.

É a preparação para o grand finale. Princesas, como é que se diz?, pergunta Sarah. Fora, cachorrada, respondem em coro uma plateia a essa altura dominada pela oratória e pelas piadas da pastora/artista. É quase meia-noite, hora de princesa dormir.

[b]Fonte: Folha.com[/b]

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