A Igreja Anglicana publicou um novo guia de aconselhamento contra o bullying por orientação sexual destinado aos professores de suas 4.700 escolas, intitulado Valuing All God’s Children (Valorizando Todos os Filhos de Deus).
Entre suas recomendações para difundir a mensagem cristã “sem exceção ou exclusão”, há uma que diz que as crianças não devem se ver restringidas por seu gênero na hora de se vestir. Pelo contrário, os meninos devem se sentir livres para escolher usar roupas geralmente associadas ao sexo oposto, como uma saia de balé, uma tiara ou saltos, e as meninas, cintos de ferramentas e capas de super-heróis. Além disso, seus educadores não devem corrigir esses comportamentos nem fazer comentários ou avaliações sobre eles.
O documento, conforme relatado pelo jornal The Guardian na segunda-feira, defende “uma visão inclusiva da educação” e convida os professores a evitar usar rótulos que possam alienar o comportamento das crianças “apenas porque não está de acordo com os estereótipos de gênero”.
O objetivo desse guia, de acordo com a Igreja da Inglaterra, é evitar que os alunos de suas escolas –elas têm um milhão de alunos– tenham sua autoestima diminuída ou se sintam intimidados por causa de “sua orientação sexual ou sua identidade de gênero real ou percebida”. Na primeira edição, publicada há três anos, o guia incluiu o bullying homofóbico, que agora foi ampliado para incluir o bullying transfóbico – contra transexuais – e o bullying bifóbico – ódio ou aversão a pessoas bissexuais.
A Igreja aconselha que a Educação Infantil e o Ensino Fundamental sejam períodos de “exploração criativa” para as crianças, no qual elas possam ter liberdade para “experimentar as muitas camadas de identidade” que podem ter – inclusive no sentido literal com uma caixa de fantasias – e de “explorar as possibilidades de quem eles poderiam ser sem ser julgados ou ser objeto de zombaria” por isso.
“Por exemplo, um menino ou uma menina podem escolher uma saia de balé, uma tiara e saltos de princesa e/ou um capacete de bombeiro, um cinto de ferramentas e uma capa de super-herói sem expectativas ou comentários”, diz o manual, que acrescenta que as crianças estão em um período de “experimentar” em que nada é permanente, razão pela qual não é necessário corrigir qualquer rótulo. “A infância é um espaço sagrado para que cada um imagine a si mesmo criativamente”, diz o texto.
Na hora de fazer comentários, elogiar ou dar instruções, os professores são incentivados a “evitar rótulos e suposições que considerem o comportamento das crianças irregular, anormal ou problemático simplesmente porque não está de acordo com os estereótipos de gênero ou as preferências atuais das brincadeiras”. Também convida os professores a trabalhar para evitar que as crianças usem termos como “gay” de forma negativa, como “você é um maricas” ou “seus lápis são gays”.
No prefácio do guia, o arcebispo de Canterbury, Justin Welby, enfatiza que “a orientação sexual nunca deve ser motivo de assédio ou preconceito” e adverte que o bullying homofóbico, bifóbico e transfóbico causa “danos profundos que levam a níveis mais altos de distúrbios mentais, como automutilações, depressão e suicídio”.
A Igreja Anglicana, ao contrário da Igreja Católica, admite a ordenação de mulheres e casamentos homossexuais e tem em suas fileiras um bispo abertamente homossexual. Nesse documento, reconhece que existe uma ampla gama de pontos de vista entre cristãos e pessoas de diferentes religiões em relação ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e que o assunto é espinhoso, mas lembra que “a teologia central para os cristãos é que cada um dos homens é feito à imagem de Deus e é incondicionalmente amado por Deus”.
“Devemos evitar a todo custo diminuir a dignidade de qualquer indivíduo a um estereótipo ou um problema”, pede o arcebispo de Canterbury no prólogo, no qual enfatiza: “Este guia ajuda as escolas a oferecer a mensagem cristã de amor, alegria e celebração da humanidade sem exceção ou exclusão”.
De acordo com o jornal The Telegraph, o número de crianças que manifestam dúvidas sobre o gênero atribuído está aumentando. O jornal se refere aos números publicados no início deste ano pelo Serviço de Desenvolvimento de Identidade de Gênero, que mostram que o número de menores de 18 anos enviados para tratamentos de saúde por esse motivo passou de 314 em 2011 para 2.016 no ano passado. Aos menores de 18 anos que dizem ter nascido em um corpo que não combina com seu gênero não se oferece cirurgia, mas às vezes eles recebem hormônios que suprimem a puberdade. Também afirma que 800 crianças receberam tratamento hormonal no país desde o começo do ano.
As organizações que lutam pelos direitos LGBT, como a Stonewall, saudaram a publicação desse guia. No Reino Unido, um número crescente de escolas começou a liberalizar sua política de uniformes para permitir que as crianças usem saias e vestidos se quiserem, enquanto outras começam a adotar uniformes para meninos e meninas.
Ideologia de gênero aumenta em 500% os conflitos psicológicos em crianças
Após a ideologia de gênero passar a ser aceita em escolas e outras instituições da Escócia, o número de crianças confusas com relação ao seu próprio gênero (masculino ou feminino) que foram enviadas para especialistas aumentou cerca de 500% em quatro anos, no país.
Em 2013, apenas 34 crianças foram enviadas para apoio especializado a crianças com disforia de gênero (distúrbio que gera o conflito sobre a definição de gênero), de acordo com o jornal ‘The Times Scotland’. Mas esse número tem vindo a multiplicar quase todos os anos desde então, acabou excedendo a quantidade de 200 crianças no ano passado.
O jornal escocês ‘The Times’ informou que estas crianças são levadas aos especialistas porque estão “preocupadas com sua identidade de gênero ou sua expressão de seu gênero”.
As estatísticas anteriores divulgadas pelo Serviço de Desenvolvimento de Identidade de Gênero mostraram que houve um grande aumento no número de crianças que se dirigem a clínicas de identidade de gênero como um todo no Reino Unido, com os números quadruplicando nos últimos cinco anos.
Os conservadores argumentam que a disforia de gênero está sendo resultado de uma pressão imposta sobre as crianças, no entanto.
“Isto tornou-se uma indústria, as pessoas estão se preparando cada vez mais para encorajar as crianças a questionarem o seu gênero em uma época em que elas só precisam fazer o seu papel de filhos e filhas. Quando os professores criam essas questões, as crianças podem ficar confusas ou infelizes e traumatizadas por isto”, afirmou Chris McGovern, ex-conselheiro do Departamento de Educação, em um artigo para o jornal ‘The Telegraph’ no início de julho.
“Em certo sentido, estamos impondo preocupações de adultos às crianças. As escolas também estão sendo pressionadas para cumprir uma agenda politicamente correta”, acrescentou McGovern.
A Dra. Joanna Williams, professora universitária e autora do livro ‘Women vs Feminism’ (‘Mulheres X Feminismo’) argumentou ainda que é justamente a ideologia de gênero que está levando as crianças a sofrerem com tal confusão.
“As pesquisas sugerem que apenas um por cento da população tem problemas com questões de gênero. Embora o número de crianças transgênero seja pequeno, está crescendo rapidamente”, afirmou Williams em junho, advertindo que as crianças estão sendo forçadas a “desaprender” a diferença entre meninos e meninas.
“As crianças – incentivadas por suas experiências na escola – estão começando a questionar sua identidade de gênero em idades cada vez mais jovens”, acrescentou, ressaltando que algumas escolas estão agora “encorajando até mesmo as crianças mais jovens a questionarem se são realmente um menino ou uma menina”.
Crianças expostas ao lixo
Recentemente em um evento em outubro deste ano na igreja Assembleia de Deus de Cosmópolis, em São Paulo, a cantora Cristina Mel fez um alerta aos pais sobre a ideologia de gênero.
“Uma igreja que cuida dos pequeninos é uma igreja que tem visão, porque as crianças não são somente a igreja do futuro, mas a igreja do presente. Nunca os nossos filhos estiveram tão expostos a tanto lixo. Nunca foram tão agredidos como neste ano, nos últimos tempos”, iniciou.
“É importante que a igreja tome uma posição, estamos em guerra. Precisamos orar mais, cuidar mais dos nossos filhos. Estamos perdendo nossos filhos debaixo do nosso nariz, no quarto ao lado. Adolescentes cometendo suicídio. A cada três minutos um adolescente se suicida”, ressaltou.
Cristina ainda alertou sobre influências que atacam o público infantil. “Jogos assassinos e criminosos, exposições nos museus hediondas, sujas e acham que a gente tem que aceitar isso. Que geração é essa que não sabe nem dizer se é menina ou menino? O que estão fazendo com a mente dos nossos filhos? A internet não é um lugar seguro. E onde estamos como pais? Os pais têm que tomar uma posição, tem que vigiar, cuidar”, colocou.
“Fale sobre assuntos, ensine seu filho sobre sexo, porque quem está ensinando é a professora lá na escola com a teoria de gênero, tudo torto, tudo errado. Estão machucando, estão usando, estão ferindo, confundindo nossas crianças. Mas não vamos desistir dos nossos filhos, não vamos entregar nossos filhos a sorte, eles não são órfãos”, ressaltou.
“Você que tem que sentar e explicar: ‘Filha é assim, não pode deixar ninguém tocar em você, conte tudo para mim’. Não se iluda, eles sabem mais do que você imagina. Essa geração está exposta a tudo muito rapidamente. Seja pai e seja mãe. Tem pai e mãe querendo ser coleguinha do filho. Eles têm que te ver como pai e mãe, porque se não tem criança dando na cara do pai, batendo na mãe”, pontuou.
Fonte: El País