A Polícia Civil segue investigando a morte do pastor Anderson do Carmo. Ele foi assassinado na madrugada do último domingo (16) na garagem de sua casa, em Pendotiba, Niterói (RJ).
Anderson era casado há 25 anos com Flordelis, pastora e deputada federal pelo Rio de Janeiro. Sempre ao lado da esposa, ele atuava como secretário-geral do PSD no Estado.
Após participar da cerimônia de sepultamento do marido nesta segunda-feira (17), Flordelis enfrentou novas dificuldades. Viu o próprio filho, Flávio dos Santos, filho biológico de Flordelis e enteado de Anderson, ser detido no encerramento do enterro, que aconteceu no Memorial Parque Nycteroy, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio. Flávio tinha um mandado de prisão por violência doméstica contra a ex-esposa.
Além disso, a deputada, que também luta contra o aborto e faz campanha a favor da adoção, foi cercada por notícias que informavam sobre novas suspeitas e especulações sobre o caso. Uma das linhas de investigação, por exemplo, aponta que dois filhos de Flordelis teriam matado Anderson do Carmo para defender a mãe de um caso extraconjugal, já que Anderson estaria traindo a esposa.
Para esclarecer sobre os últimos acontecimentos e diante de tantos rumores, Flordelis recebeu o Pleno.News na noite desta segunda-feira (17) em sua casa no bairro de Pendotiba para uma entrevista exclusiva. No quarto, rodeada de filhos por todos os lados, ela demonstrava exaustão, atendia telefonemas e ainda chorava. Mas decidiu falar tudo o que sente, o que passou e sua opinião sobre as acusações. Flordelis quer que a verdade seja dita e encontrada.
O que acha sobre esta coincidência de seus dois filhos serem
detidos exatamente neste momento de investigações e sobre a
possibilidade de serem suspeitos de homicídio contra o pai?
Não podem dizer nada sem uma prova. Meus filhos foram presos
por outros crimes. O Flávio cometeu violência doméstica faz muito tempo.
E foi violência verbal e não física. E nesta terça mesmo, a ex-mulher
dele vai retirar a queixa. O Lucas fez 18 anos neste mês. É meu filho
adotivo e se envolveu com tráfico de drogas quando era menor de idade.
Ele foi transferido para uma unidade do Degase para cumprir um mandado
antigo. Vai ficar lá por três meses e depois será libertado. E ainda o
levaram para uma delegacia errada. Ele foi parar na Delegacia de
Homicídios. E eu pergunto: por que foram querer cumprir este mandado só
agora? Tem muito sensacionalismo em cima de tudo isso.
Como avalia a ação da polícia que executou uma ordem de prisão de seu filho no ambiente de um enterro e bem no sepultamento de um familiar?
A polícia queria “aparecer”. Minha filha conta que os mesmos policiais que levaram meu filho também estavam na cerimônia de velório em nossa igreja na noite anterior. Por que não agiram naquele momento, mas só no enterro? Vou avaliar tudo isso e vou entrar com uma ação com tudo o que for cabível.
O laudo da necropsia feito pela polícia mostra que o pastor
teve 30 ferimentos pelo corpo. A maior parte foi nas costas, peito e
região da virilha. Acha que foi uma execução?
Não. E isso é uma inverdade. Nós ouvimos apenas seis tiros.
Estão falando em 30 tiros, 60 tiros. E vão inventando. Ele teve 12
perfurações e mais as duas perfurações que encontraram no carro. Ou
seja, um total de 14. Chegaram a dizer que não seria possível abrir o
caixão porque meu marido estaria com o rosto desfigurado, já que tinha
levado muitos tiros. Mas eu mandei abrir o caixão e o rosto dele estava
normal. Ninguém me chamou ou chamou alguém da família para ir ao IML
checar alguma coisa. Mas foi meu sobrinho que vestiu ele e disse que ele
não estava cheio de furos.
Nós fizemos a foto da localização marcada de todos os projéteis encontrados pela perícia. E não passam de oito. E agora também estão dizendo que meu marido estuprava os filhos, que era pedófilo. Quanta mentira.
Você mantém a sua versão de que você e seu esposo chegaram
tarde de noite, colocaram o carro na garagem e ele foi surpreendido por
bandidos?
Nós saímos de casa por volta de meia-noite e fomos dar uma
volta na Zona Sul do Rio. Estou acostumada a chegar tarde em casa. Estou
sempre em viagens e eventos. Chego tarde de cidades como Itaperuna ou
da Baixada Fluminense. E nesta noite nós chegamos por volta de 2:45 hs.
Estacionamos na garagem. Eu subi para nosso quarto, tirei o sapato,
coloquei minha bolsa na cômoda. Desci de novo e descalça e vi que uma
das portas da casa estava aberta. Era a porta onde existe uma sala de
roupas, um closet grande, que dá direto na garagem. Foi quando falei
para ele não esquecer de fechar o portão e voltei a subir. Ainda fui
falar com alguns filhos que estavam acordados, fui ao banheiro. E então
ouvimos seis tiros seguidos.
Eu fiquei nervosa e comecei a gritar: “Aconteceu algo com seu pai! Ajuda!” Não me deixaram ver o que tinha acontecido. Dois dos meus filhos ajudaram e nos levaram para o hospital Niterói D’or. Lá eu estava com a pressão tão alta que a médica não permitiu que eu visse meu marido. E só me informou que ele já estava morto. No dia seguinte, a perícia esteve em minha casa e eu fui depor na delegacia.
A equipe da perícia apenas me disse que não tinham encontrado nenhuma impressão digital no carro. Apenas as dos meus filhos. O carro, inclusive, tem alguns amassos pequenos. São algumas pancadas que indicam que pode ter acontecido luta corporal.
Meu marido havia ido até o carro para pegar uma mochila e depois deve ter entrado no quarto de roupas. Deve ter tirado a blusa e a calça. Foi quando algo aconteceu, que fez com que ele saísse de cueca, segurando a blusa na mão. Estava muito escuro. A garagem é escura e nós temos um portão na frente e na parte de trás da casa, que é bem escuro. Depois dos tiros, meu marido estava caído ao lado do carro, com a chave do carro agarrada em sua mão e a blusa agarrada na outra.
Com certeza, meu marido jamais sairia da casa usando cueca. Ele devia estar trocando de roupa no quarto de baixo para depois subir.
Você acha que ele deve ter enfrentado a pessoa que o atacou?
Sim! Ele não tem medo. Ele sempre enfrentou bandido. E eu
costumava dizer para ele sempre entregar tudo em caso de assalto. A
nossa rua tem histórias de assaltos. Tem um vizinho médico que já teve o
carro roubado. Minhas filhas já foram assaltadas. Infelizmente, acho
que ele tentou reagir.
Certa vez, roubaram o celular dele no centro da cidade, e ele correu atrás do assaltante até conseguir pegar a pessoa e o celular. Outra vez, assaltaram o carro em que eu e ele estávamos e os bandidos estavam de fuzil. Mesmo assim, ele discutiu com os assaltantes e levou um soco e mandaram ele calar a boca. Ele não se entregava, não baixava a cabeça e lutava. Isso era dele.
Você fala de motoqueiros que poderiam estar seguindo vocês.
Quando voltamos do Rio, decidimos vir pelo bairro de São
Francisco. Foi quando vi a moto e achei estranho e comentei. Como ele
não ficou preocupado, eu resolvi jogar meu joguinho no celular e ficar
tranquila. Ao chegar em nossa rua, vi alguns carros estacionados e entre
eles tinha um carro prata parado e com a lanterna acesa. Mas eu já
estava na porta de casa. Ele abriu o portão, colocou o carro na garagem e
não fechou o portão. E eu não sei quantos bandidos eram. Se um ou dois
ou três.
Existem boatos de que vocês não teriam saído. Vocês estariam em casa quando tudo aconteceu. E que o homicídio pode ter acontecido por vingança, já que seu marido poderia estar traindo você.
Na delegacia me perguntaram sobre alguma suspeita dele estar me traindo. Eu respondi que, pelo que sei, meu marido não estava me traindo. Que eu saiba, nunca vi nada. Disse que poderiam entrar em minhas redes sociais e investigar minha vida com ele. Nós estávamos muito bem. Nunca percebi nenhum envolvimento de meu marido com ninguém. Podem até dizer que eu estou tentando proteger. Mas ele nunca saia sozinho, estava sempre com um filho ou com outro, trabalhando sem parar. Como ele teria tempo para isso?
O que pensa sobre a fala do governador Wilson Witzel que
disse que uma das suspeitas para o crime é que um dos filhos adotivos do
casal tenha cometido o crime?
Na verdade, eles querem achar algo, querem resolver o caso, já
que o da Marielle não foi resolvido. Não só o da Marielle. Aponte pra
mim crimes no Rio de Janeiro que foram resolvidos. E eu sou uma pessoa
pública, não sou só uma deputada federal, sou de uma grande igreja, sou
uma cantora gospel e de uma grande gravadora e o governador achou de me
pegar como bode expiatório para dar uma resposta à população porque ele
está sendo cobrado. Ele não está sendo cobrado por este crime. Está
sendo cobrado por toda a violência que acontece no Rio de Janeiro. Agora
me usar para isso eu não vou permitir.
Seus filhos estavam em casa quando tudo aconteceu, sejam acordados ou dormindo?
Sim. Alguns deles, os maiores ajudaram.
Os cachorros estavam mesmo dopados?
Eles não latiram na hora do ocorrido. Mas morrem de medo de
barulho, de fogos e de tiros. Agora estão tristes como nós estamos.
Vamos aguardar os exames.
E sobre a suspeita do crime ter ocorrido devido à uma desavença familiar?
Não existe isso. Não aconteceu nenhuma desavença familiar em casa nos últimos dias. Nunca alguém veio nos cobrar alguma coisa, seja dívida ou não. E quem cuida de nossa vida financeira é o nosso filho Mizael e André. Quem sabe pode ter sido uma tentativa de sequestro? Não sei.
Fonte: Pleno News