A Jordânia continua deportando pastores evangélicos estrangeiros. O governo admitiu na semana passada ter expulsado estrangeiros por causa de suas atividades de evangelismo.

O ministro interino das Relações Exteriores, Nasser Judeh, declarou ao parlamento jordaniano na quarta-feira (20 de fevereiro) que autoridades expulsaram missionários que atuavam “sob a cobertura de realizarem trabalho humanitário”, sugerindo que a atividade evangelística é ilegal na Jordânia.

Se este tipo de trabalho evangelístico é ilegal – seja com uma permissão missionária ou não – a Jordânia pode estar se abrindo às acusações de violar o artigo 18 da Declaração Internacional dos Direitos Civis e Políticos, que o país publicou em seu Diário Oficial em julho de 2006, dando força de lei à declaração.

O artigo 18 da declaração determina que todos têm o direito inerente de “manifestar sua religião ou crença em culto, costume, prática e ensino” publicamente ou de forma privada. No entanto, ela também declara que esta liberdade pode estar sujeita a limitações prescritas pela lei para proteger a “ordem” pública.

Na Jordânia, deixar o islamismo é proibido

Em 29 de janeiro o site de notícias cristãs Compass Direct apresentou uma reportagem relatando que a Jordânia havia deportado e negado permissão de residência a pelo menos 27 cristãos estrangeiros e suas famílias em 2007 ( leia mais).

Em 20 de fevereiro o ministro interino das Relações Exteriores, Nasser Judeh, leu uma declaração do Conselho de Líderes de Igrejas da Jordânia condenando a reportagem.

Depois da declaração de Judeh sobre grupos estrangeiros que “descumpriram a lei e realizaram atividades missionárias”, o parlamento jordaniano aprovou na quinta-feira (21 de fevereiro) uma resolução condenando o artigo do Compass.

“Nós categoricamente condenamos e rejeitamos a falsa reportagem que tinha como objetivo prejudicar as relações entre muçulmanos e cristãos na Jordânia”, declarou o parlamento, segundo a agência de notícias France Presse.

Mais deportações

Não ficou claro o que o governo considerava falso na reportagem, mas o fato das deportações de cristãos foi observado claramente quando as autoridades em 10 de fevereiro expulsaram um pastor egípcio da igreja Assembléia de Deus em Madaba – uma das cinco denominações evangélicas registradas junto ao governo.

Casado com uma cidadã jordaniana e pai de dois filhos, Sadeq Abdel Nour, foi algemado e vendado, e levado para o porto da cidade de Aqaba. Lá ele foi colocado em um barco para o Egito.

Na semana anterior, um pastor egípcio da Igreja Batista em Zarqa foi preso, ficou detido por três dias e foi também enviado para o Egito de barco, saindo do porto da cidade de Aqaba. O pastor de 43 anos é casado com uma mulher jordaniana e é pai de três filhos.

Estudante de árabe também sai

Além disso, uma cristã estrangeira que estudava árabe deixou a Jordânia em 18 de fevereiro depois que a inteligência da polícia ordenou que ela saísse do país até 20 de fevereiro.

Autoridades acusaram a estudante de aprender árabe para ocultar seu trabalho de evangelização de muçulmanos, baseados no fato de que ela participava de uma igreja de fala árabe.

As autoridades não forneceram uma explicação por escrito para a deportação de nenhum dos dois pastores egípcios. Um ministro de Estado contatado pelo Compass não respondeu aos múltiplos pedidos de informação com relação às expulsões.

Os pastores de ambas as denominações da Assembléia de Deus e Igreja Batista, oficialmente reconhecidas pelas autoridades jordanianas, se negaram a comentar os incidentes.

Mas um membro do Conselho de Líderes da Igreja da Jordânia, que é composto por clérigos das igrejas católica, ortodoxa e arminiana, confirmaram as deportações.

Governo exige declaração do Conselho

“O governo disse que eles tinham suas próprias razões para expulsá-los, mas pessoalmente eu não sei quais são”, declarou o secretário do conselho John Nour.

Nour disse que uma autoridade do Ministério do Exterior da Jordânia se dirigiu ao conselho, a maior representação dos cristãos na Jordânia, pedindo que ele respondesse às acusações de aumento da pressão sobre cristãos estrangeiros apresentadas em 29 de janeiro pelo artigo do Compass.

“Eles nos deram um papel com o porquê de os estrangeiros terem sido deportados”, disse Nour ao Compass, por telefone, de Amã. “Nenhum deles estava trabalhando legalmente sob a liderança de uma igreja definida, e se eles estivessem trabalhando em uma igreja [registrada] no país, eles não estariam fazendo o que eles supostamente deveriam fazer”.

A resposta dos bispos em 4 de fevereiro, publicada em inglês, na página da Embaixada Americana na Jordânia antes de ser retirada, dias depois, recebeu ampla divulgação na mídia árabe.

A declaração dizia que erros no artigo do Compass “distorceram a verdade e feriram as relações entre cidadãos muçulmanos e cristãos”. Mas além de discordar do número de cristãos na Jordânia, 4% em oposição a 3%, e de negar as queixas de que cristãos locais temem que o governo pudesse retroceder em sua política de tolerância religiosa, a declaração fracassou em identificar qualquer erro na matéria.

Contatado sobre a declaração do conselho, Nour reclamou que o artigo falhou em não ter obtido um comentário de um membro do conselho ou de uma autoridade do governo com relação às acusações aos missionários, apesar da história de 29 de janeiro ter citado uma autoridade jordaniana que pediu para que seu nome não fosse usado.

Desmentido

O líder Conselho Secular Ortodoxo da Jordânia e da Palestina disse ao Compass que a matéria estava incorreta nas suas declarações de que a liberdade religiosa na Jordânia estava sob ameaça.

“Nós cristãos na Jordânia temos todos os direitos e liberdades de todos os cidadãos”, declarou o Dr. Raouf Abu Jaber, da cidade de Amã.

A declaração de 4 de fevereiro denunciou que existem aproximadamente 40 grupos estrangeiros dos quais se disse que teriam ido para a Jordânia sob “o pretexto de organizações humanitárias” e que seriam uma “ameaça à segurança pública”.

“Isto não foi contra o povo evangélico [local]”, disse Nour. “As igrejas evangélicas são respeitadas pelas igrejas tradicionais e pelo governo”.

Os batistas, a Aliança Cristã Missionária, a Igreja do Nazareno, as Assembléias de Deus e os evangélicos livres estão no país há décadas e são registrados junto ao governo.

Deportados por distribuírem Bíblias

No entanto, como mostraram as duas deportações do início do mês, a oposição do governo não está limitada aos missionários não filiados a uma das cinco denominações evangélicas registradas. Nour disse que missionários estrangeiros mesmo com permissão para trabalhar em igrejas evangélicas registradas foram deportados pelo não cumprimento da lei e por distribuir Bíblias em áreas muçulmanas.

“Aqui a religião do país é o islamismo, e de acordo com a lei, não é permitido alcançar os muçulmanos”, declarou Nour. Mas depois ele mudou sua afirmação, dizendo que todos são livres para compartilhar sua fé com qualquer pessoa que vá a uma igreja pedir informações.

Questionado depois sobre a lei jordaniana, Nour especificou que a todos os cidadãos jordanianos é garantida a liberdade de religião desde que isso não “interfira em outras religiões”.

Fonte: Portas Abertas

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