Apesar de não estar entre as escolhas mais populares dos vestibulandos, a graduação em teologia tem um público fiel. Isso porque quem em geral escolhe fazer o curso é porque segue alguma religião e quer aprofundar seus conhecimentos.

As disciplinas estudadas normalmente abrangem desde aquelas teorias mais gerais, como filosofia, sociologia e psicologia, até história das religiões e da bíblia e o ensinamento das línguas grega e hebraico. O que irá imprimir a identidade do curso será justamente a sua confissão religiosa.

Ou seja, dependendo da instituição a qual o curso está ligado, o foco do estudo será nessa direção e os alunos verão disciplinas específicas sobre a história e os rituais dessa religião. E há opções para todos os gostos, ou quase todos: católica, espírita, umbandista, batista, presbiteriana, metodista, messiânica, adventista e luterana são algumas delas. As graduações existentes são bacharelados.

“Essa característica, de seguir uma confissão religiosa, é o que basicamente difere um curso de teologia de um curso de ciências da religião”, afirma Afonso Maria Ligorio Soares, presidente da Sociedade de Teologia e Ciências da Religão (Soter) e professor do curso de pós-graduação em ciências da religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

“Não é preciso seguir uma religião para estudar teologia. A maioria, é verdade, segue uma, mas não necessariamente a mesma em que o curso enfoca. Temos alunos budistas, católicos e, inclusive, ateus”, afirma Wilson Santa Silva, coordenador do curso de teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Até por conta dessa “mistura” de religiões, mesmo com disciplinas específicas, os cursos tentam oferecer uma abordagem ecumênica. Outra característica marcante é que, geralmente, a pessoa que escolhe fazer o curso é mais velha do que a maioria dos alunos de carreiras mais tradicionais.

Disciplinas

Dependendo do curso, entre as disciplinas que o aluno irá estudar estão a história das religiões, como o cristianismo (antiga, medieval, moderna e contemporânea), pneumatologia (sobre o Espírito Santo), homilética (arte de pregar sermões), exegese (interpretação do texto bíblico), hermenêutica (debate entre a compreensão humana e a interpretação de textos escritos) e até a gestão de templos ou igrejas, com noções de administração para tocar o dia-a-dia de uma instituição religiosa.

Na Faculdade Evangélica do Paraná, que formou a sua primeira turma no final de 2008, os alunos assistem a aulas de todas essas áreas históricas e têm ainda disciplinas específicas na área da saúde.

“Há uma parte do curso destinada à saúde, em que são tratados assuntos como bioética, psicologia e saúde mental”, explica o reverendo Jean Carlos Selleti, 41 anos. “Esses temas são de grande relevância para a atuação na nossa área.”

O estágio no curso de teologia é obrigatório. Na Universidade Metodista de São Paulo, por exemplo, os estudantes fazem um laboratório em que são treinados atos do culto. “Há até enterros simbólicos simulados para eles aprenderem o que deve ser dito”, explica o coordenador do curso, Paulo Roberto Garcia.

Campo de atuação

Muitos dos que vão estudar teologia o fazem porque já têm alguma atuação na área, mesmo que não seja como pastor ou sacerdote. Foi o caso de Claudecir Bianco, 42 anos, que terminou a Faculdade Evangélica em 2004. Ele trabalha num projeto social que promove palestras e faz aconselhamento espiritual, especialmente a pessoas com algum problema de saúde. “O sofrimento físico tem uma explicação”, afirma.

Além da capelania em hospitais, como é chamado o trabalho desenvolvido por Claudecir, o teólogo também pode prestar esse tipo de serviço em outras instituições, como corporações militares e presídios.

Para o publicitário Osvaldo Olavo Ortiz Solera, 49 anos e que há 30 é umbandista, o curso que está concluindo na Faculdade de Teologia Umbandista tem um sentido especial. “Desde o meu primeiro contato com a umbanda, sempre quis entender mais e me aprofundar no estudo da religião.” Ele conta que pretende continuar trabalhando como publicitário, mas quer se especializar e, mais tarde, dar aulas.

Ser professor de teologia é mais uma possibilidade de mercado de trabalho. O profissional pode dar aula no ensino superior ou para a educação básica de ensinamento religioso.

Em geral, como a formação do teólogo tem mais enfoque numa confissão religiosa específica, ele dará aula em escolas com esse perfil. Por exemplo, um teólogo com diploma de uma faculdade católica, geralmente irá dar aula de ensino religioso em colégios católicos.

Seminário

Nem sempre quem sai dos bancos das faculdades de teologia será líder religioso de alguma comunidade, como padre, pastor, reverendo, sacerdote e pai de santo. Essa formação vai depender muito da instituição religiosa.

No caso da católica, para ser padre é preciso passar por um seminário. “Principalmente nas grandes cidades, é muito comum o padre ser também formado em teologia, mas é do seminário que virá a sua formação”, explica o padre Antonio Manzatto, diretor da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, que, a partir do vestibular deste ano, passa a ser integrada à PUC-SP.

Fonte: G1

Comentários