O papa Bento e seus ex-alunos de doutorado pretendem publicar a ata de um seminário realizado no fim de semana sobre a evolução, visando promover um diálogo entre religião e ciência sobre as origens da vida, informaram participantes no seminário.

A ata, a ser publicada ainda este ano, vai mostrar que os teólogos católicos não vêem contradição entre sua crença na criação divina e a teoria científica da evolução, disseram os participantes após o final do encontro anual a portas fechadas, no domingo.

A teoria da evolução provoca polêmica há anos nos EUA, onde setores cristãos conservadores combatem seu ensino nas escolas públicas e promovem teorias rivais, como a do “desígnio inteligente”, rejeitada por cientistas que a qualificam como religião disfarçada.

O papa Bento e alguns de seus assessores começaram a participar do debate no ano passado, argumentando a favor da evolução como teoria científica, mas contra o “evolucionismo”, que o papa vê como “uma filosofia fundamental … que pretende explicar a realidade como um todo” sem Deus.

O padre Stephan Horn, que organiza os encontros entre estudantes de alto nível que o então professor universitário Joseph Ratzinger orientou nos anos 1960 e 1970, disse: “Ele (o papa) falou que o encontro pode representar um impulso para reanimar a discussão entre teólogos e evolucionistas.”

Falando ao telefone desde Roma, Horn disse: “Ele se preocupa há muito tempo, e especialmente agora que é papa, em fomentar uma discussão entre a fé e a razão.”

FILOSOFIA, NÃO CIÊNCIA

O cardeal de Viena Christoph Schoenborn, o assessor do papa mais ativo na tarefa de divulgar publicamente a visão católica da evolução, disse à agência austríaca de notícias Kathpress: “Foi um encontro importante, no mais alto nível acadêmico.”

Antes do encontro, a mídia especulava que a discussão poderia levar o Vaticano a mudar sua postura, aderindo à idéia do “desígnio inteligente”, que afirma poder provar cientificamente que a vida não poderia ter evoluído, simplesmente, ou para adotar a visão “criacionista”, segundo a qual Deus criou o mundo em seis dias.

“Não foi nada disso”, disse à Reuters o padre jesuíta Joseph Fessio, da Universidade Ave Maria, na Flórida. Segundo ele, a sessão do papa com 39 de seus antigos alunos foi “um encontro de amigos com alguns acadêmicos para discutir um tema interessante”.

Diferentemente dos criacionistas que se opõem à teoria da evolução, a Igreja Católica não interpreta literalmente o relato bíblico, segundo o qual Deus criou o mundo em seis dias.

O papa Bento e Schoenborn já disseram várias vezes no último ano que a inteligência, sob a forma da vontade de Deus, participou da criação, e que os neodarwinistas que negam Deus tiram uma conclusão ideológica que não é comprovada pela teoria.

Eles afirmam usar raciocínio filosófico para concluir que Deus criou o mundo, e não argumentos que os defensores da teoria do desígnio inteligente afirmam que podem ser cientificamente comprovados.

“Existe uma polêmica nos EUA devido à falta de consciência da filosofia”, disse Fessio, cuja editora Ignatius Press publica os livros de Bento em inglês.

“Essa consciência geralmente falta aos evangélicos e aos criacionistas, mas não aos católicos.”

“Quando você contempla o mundo e vê o que parece ser ordem e desígnio, a conclusão de que alguém foi o autor desse desígnio não é científica, mas filosófica.”

Papa pede que religiões promovam “pedagodia eficaz de paz”

O Papa Bento XVI pediu ontem que seja promovida uma “pedagogia eficaz de paz” contra o “terrorismo e a violência”, para impulsionar o diálogo entre culturas e religiões e evitar que os jovens sejam “educados com sentimentos de ódio e vingança”, em um encontro ecumênico organizado na cidade de Assis, na Itália.

Em mensagem enviada ao bispo de Assis, Domenico Sorrentino, o Pontífice lamenta que o terceiro milênio “tenha sido aberto com cenas de terrorismo e violência”, e ressalta que, em primeiro lugar, “a paz se constrói no coração”.

Bento XVI lembrou o encontro Ecumênico de Oração pela Paz, celebrado em Assis, em 1986, sob os auspícios de João Paulo II, e afirmou que nele se manifestou “o valor da oração na construção da paz”.

“A oração não divide, mas une, e constitui um elemento determinante para uma pedagogia eficaz de paz, baseada na amizade, no amparo recíproco, no diálogo entre homens de diversas culturas e religiões”, afirma o Pontífice.

Bento XVI lamentou que muitos jovens que crescem em zonas castigadas pela guerra recebam a educação de “ódio e vingança” em “contextos ideológicos nos quais se cultivam as sementes de antigos rancores e se preparam as almas para futura violência”.

“É necessário abater esses muros e favorecer o encontro”, defende Bento XVI, que adverte no entanto que o encontro não deve ser interpretado como sincretismo, nem se baseia em um conceito relativista.

“É preciso evitar confusões inoportunas. Quando nos encontramos juntos para rezar pela paz, também é necessário que a oração seja feita segundo os caminhos diferentes próprios de cada religião”, afirma.

O Papa enviou sua mensagem no primeiro dia do encontro “Por um mundo de paz – Religiões e culturas em diálogo”, organizado pela Comunidade de Sant’Egidio, vinte anos após o grande encontro ecumênico convocado em Assis pelo Papa Karol Wojtyla.

O cardeal Paul Poupard, presidente do Conselho Pontifício para o diálogo ecumênico, fez um discurso no qual lamentou que “as religiões sejam frequentemente acusadas de fomentar o ódio e causar violência”.

Segundo Poupard, “longe de serem um problema, as religiões são uma parte da solução para conseguir paz e harmonia”. Segundo o cardeal, os líderes religiosos devem ensinar suas comunidades a “viverem em paz”.

O congresso de Assis reúne representantes cristãos, muçulmanos, hebreus, ortodoxos, xintoístas, coptas e budistas, entre outros. O encontro será encerrado nesta terça-feira.

Fonte: Reuters e EFE

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