Em entrevista a revista Veja, o apresentador e católico praticante, Gugu Liberato, falou da sua saída do SBT e sua ida para a Rede Record, que pertence a Igreja Universal do Reindo de Deus. “Eu vim para trabalhar na Record, não na Igreja Universal do Reino de Deus. Uma coisa não tem nada a ver com a outra”.

Na segunda-feira, Gugu Liberato e Silvio Santos tiveram uma reunião de mais de duas horas no SBT. O objetivo do encontro – o primeiro entre ambos desde que Gugu concretizou sua transferência para a rival Record, há duas semanas – era resolver um impasse. Como o contrato com a emissora de Silvio só expiraria em março de 2010, Gugu seguia à frente do Domingo Legal – mas o clima de mal-estar no bastidor ficou insustentável. Na reunião, os dois concluíram que a melhor saída era antecipar o rompimento e deixar de lado as multas milionárias previstas contratualmente. Agora livre de vez do SBT, Gugu tem sua estreia na Record anunciada para 9 de agosto. Nessa entrevista realizada na quarta-feira passada em seu novo camarim na Record, o apresentador fala pela primeira vez da saída do SBT, das expectativas no novo emprego – e até do segredo de seus cabelos loiros.

O senhor flertou várias vezes com a Record nos últimos anos, mas acabava sempre optando por continuar no SBT. Por que agora, enfim, resolveu mudar de emissora?

Por um conjunto de fatores. Havia, em primeiro lugar, a questão financeira. Eu já andava insatisfeito desde 2006, quando o Silvio impôs uma redução de meus ganhos pela metade (de até 4 milhões de reais mensais, os rendimentos de Gugu caíram para no máximo 2 milhões). Pelo sistema que ele instituiu, deixei de ser um funcionário contratado para ser sócio da emissora. Dividia os lucros do Domingo Legal com o SBT, mas tive de assumir responsabilidades que, a meu ver, não combinavam com a função de apresentador, como discutir os reajustes de salários da minha equipe e o planejamento de gastos da produção. Com o tempo, isso passou a me angustiar. Além disso, em determinado momento me senti desprestigiado no SBT. Há algum tempo, foi feita uma campanha de marketing que convidava os anunciantes a investir em atrações como a Hebe, A Praça É Nossa e o Programa Silvio Santos. Estranhamente, não constava dela o Domingo Legal. Naquele momento percebi que eu não importava mais para o SBT.

O senhor assinou com a Record há duas semanas, mas continuou cumprindo seu contrato com o SBT até o rompimento definitivo, na segunda-feira. Nesse período, Silvio Santos mudou seu programa para um horário ruim e seu diretor foi expulso das dependências da emissora. Foram retaliações?

Prefiro não acreditar nisso. Fiquei chocado ao ser avisado por telegrama da mudança de horário do programa. Todas as vezes que precisava mudar o horário, ele me telefonava pessoalmente para dar satisfação. Não achei justo, depois de 35 anos de trabalho, ser tratado assim. Eu sei que isso não partiu do Silvio. Nunca houve problema em nossa relação pessoal. Só que hoje o Silvio não manda sozinho no SBT. Tem outras pessoas que influem nas decisões. Talvez aí tenha havido algum atrito.

No começo da década, o senhor batia a Globo no ibope. Por que seu desempenho nunca mais foi o mesmo?

O desempenho de um programa reflete a situação da emissora em determinado período. Nos tempos em que batíamos o Faustão, o SBT também tinha outros grandes sucessos: Show do Milhão, Chiquititas. Quando a média geral da emissora é alta, todos os programas acompanham essa tendência. Quando a audiência do SBT caiu, nós sofremos com isso. É natural.

Então a culpa da queda de audiência de seu programa não foi sua, e sim do SBT?

Não só do SBT. Mas a gente sofre as conseqüências da situação da emissora. Eu costumo dizer o seguinte: dar ibope na Globo é muito fácil. Muito mesmo. Porque a média geral da Globo é imensa. Pode ver: a Globo dá 30 pontos de ibope no horário eleitoral e, se está fora do ar por problemas técnicos, ainda registra 15. Difícil é dar audiência fora da Globo. Naquele período em que estávamos com grandes números em cima do Faustão, é porque o SBT como um todo estava bem. Em televisão, você não faz milagre sozinho.

O SBT perdeu o rumo?

Eu não chegaria tão longe. O SBT é um avião muito potente. É claro que, num momento de turbulência como agora, alguém precisa segurar o manche desse avião com força. Não existe no SBT ninguém mais capaz de fazer isso do que o próprio Silvio Santos. Ele é de uma inteligência incomparável como ser humano, artista e empresário.

Silvio é um patrão difícil?

Nem um pouco. São 35 anos de convivência, posso afirmar isso com segurança. Metódico demais, talvez. Difícil, não.

Sua moral foi ao fundo do poço com o caso da falsa reportagem sobre o PCC, em 2003. Como é conviver com essa mácula do passado?

Ora, veja: eu não estava lá no momento daquela entrevista. E quem fez a reportagem jura até hoje que aquelas figuras eram realmente do PCC. Quando tive de depor, dois anos depois, eu fui à delegacia dirigindo meu carro. Os demais envolvidos foram escoltados porque estavam presos por outros delitos. Então, levanto a pergunta: como se prova se eles eram ou não do PCC? Tem de mostrar carteirinha? É impossível saber ao certo. Mas a imprensa martelou o caso durante dois meses em função da audiência que tínhamos naquela época.

Não foi bem assim. A farsa foi desmontada pela polícia – a imprensa só cumpriu seu papel de informar.

Outros repórteres do país também caíram em contos desse tipo e ninguém falou nada. O fato é que meu produtor foi incumbido de fazer uma entrevista com bandidos do PCC, apresentou a fita e eu acreditei nele. Fui crucificado por algo que não fiz.

Um dos itens que o seduziram na proposta da Record foi a possibilidade de ter um talk show. Por que todo artista de TV sonha em virar entrevistador?

Acho que tem a ver com o avanço da idade. Vou terminar meu contrato na Record com 58 anos. E fico imaginando: quando for quase sessentão, será que ainda vou dar certo em programa de auditório? Será que as novas plataformas tecnológicas – internet, telefonia celular – não vão mudar completamente esse formato? O talk show, por outro lado, nunca perderá espaço. Ver duas pessoas dialogando sobre um assunto interessante sempre vai ser atraente. Ontem, vi uma entrevista no Globo News sobre pressão alta, que é um problema que eu tenho (e mantenho sob controle). Já pensou sentar com um médico e esmiuçar um assunto assim num programa inteiro? As pessoas vão conhecer um Gugu diferente daquele Gugu que vai para o palco, que brinca e dança. Eu quero mostrar um lado que nada tem a ver com o Gugu popular. Pretendo conversar com escritores, políticos, cientistas. O (apresentador americano) David Letterman é minha grande referência. Mas talvez seja difícil fazer o que ele faz, porque não sou engraçado. Como vou começar na Record News, não terei de me preocupar com os índices de audiência. Será um laboratório.

Como devoto de Nossa Senhora, não o incomoda trabalhar na emissora que ficou marcada pelo episódio do “chute na santa”?

Eu vim para trabalhar na Record, não na Igreja Universal do Reino de Deus. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Nas negociações do meu contrato, a religião nunca esteve em pauta. Até onde fui informado, a Igreja Universal é só uma anunciante da Record.

É possível mesmo que o padre Marcelo Rossi participe de seu programa de estreia?

Não sei se vai ser na estreia, se vai ser mais tarde, enfim. Mas me foi garantido que posso convidar todos meus amigos padres – tem o padre Marcelo, o padre Robson (de Oliveira), o padre Antônio Maria. Ainda não conheço o padre Fábio de Melo, mas já fica aqui o convite para ele participar de meu talk show. Outro dia vi uma entrevista do padre para a Marília Gabriela, em que ele se mostrou extremamente inteligente. Esclareceu um monte de dúvidas que eu, como católico, sempre tive. Sinto que essa história de que não pode padre na Record é uma grande mentira.

Nunca se viu um padre cantor num programa da Record.

Não sei, não sei. Mas tenho ouvido do nosso diretor Gonçalves (o bispo Honorilton Gonçalves, chefão da emissora) que tenho toda liberdade. Tomara que isso aconteça para que, se ainda existir algum impedimento, ele caia por terra. Eu gosto de circular por todas as religiões. No antigo Sabadão Sertanejo, veiculava mensagens do Chico Xavier.

Fonte: Veja.com

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