[img align=left width=300]http://s2.glbimg.com/PoP59uVY50ls8GX58vIe7FBntBE=/620×465/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2016/02/22/blasfemia1.jpg[/img]

Coordenador da comunicação da Arquidiocese de Brasília, o padre João Firmino afirmou ao G1 nesta terça-feira (23) que a Igreja Católica estuda entrar na Justiça contra criadora de estatuetas de santos caracterizados como personagens de histórias em quadrinhos ou artistas – Nossa Senhora, por exemplo, ganhou versões de chifre, Mulher Maravilha, Malévola, Frida Kahlo, David Bowie, Galinha Pintadinha e Minnie. A responsável pela “Santa Blasfêmia”, Ana Smile, disse ter crescido dentro da igreja e afirmou não se considerar cometendo nenhuma infração.

“A gente quer evitar que se intensifiquem coisas que já estão acontecendo, como a artista e a dona da loja sofrendo ameaças. Mas isso [as estatuetas] é realmente uma afronta à fé. Não pela arte, a arte não é uma afronta à fé, mas como ela escolheu manifestar essa arte. Ela pegou várias imagens católicas e manifestou algo que em um primeiro momento até poderia ser divertido, mas é um elemento da fé. Acaba que é uma afronta a nós católicos”, disse.

“Não é só desenhar uma Galinha Pintadinha, o desenho do Chaves, a roupa do Chaves, elementos do Batman. Na foto que saiu no jornal, é a Nossa Senhora com chifre. Tudo isso afronta a nossa fé, machuca aqueles fiéis”, completou.

O padre disse que a posição oficial é de repúdio. “Estamos vendo um jeito de evitar um mal maior. Toda publicidade que faz isso pode levar ao extremismo daqueles que se sentem muito ofendidos com a imagem. Não queremos tornar esse fato como uma manifestação de intolerância religiosa. Tem gente que põe fogo em terreiro de umbanda. Não queremos ninguém invandindo as lojas e quebrando as peças.”

Para um grupo de católicos, a iniciativa fere o artigo 208 do Código Penal, que fala sobre crimes contra o sentimento religioso. Em documento enviado ao Ministério Público, o grupo diz ver o trabalho como sátira à fé católica.

[img align=right width=300]http://s2.glbimg.com/StzmSBnKNtCoJwrKGkClhdPQk-I=/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2016/02/22/blasfemiam3.jpg[/img]“As características fundamentais destas estatuetas foram dadas pela Igreja Católica há pelo menos alguns milhares de anos. O seu uso indevido, além de ser contra a ética, constitui-se como um ato de violência à dita Instituição, bem como ao meu sentimento religioso”, diz o texto.

Para Ana, as chances de a petição evoluir em punição são pequenas. Ela começou com o trabalho há quase três anos, por acaso. A mulher viu um meme com o Batman e o Robin e a expressão “Nossa Senhora de Bátima”. “Achei incrível, fui pesquisar na internet se achava algo do tipo para vender e quis uma imagem dessa para mim, para decorar minha casa.”

Amigos viram o “santo estilizado” e passaram a encomendar peças. O trabalho foi crescendo com o boca a boca. Há um ano, Ana decidiu criar uma página em redes sociais para divulgar as estatuetas. Os objetos têm entre 30 centímetros e 55 centímetros. Os preços variam de R$ 200 a R$ 400. As vendas são feitas pela web ou em uma loja na 306 Sul.

“Fiz só uma exposição até hoje. Foi no fim do ano, no ‘Picnik’. As críticas que ouvi no dia foram educadas”, lembra. “Tem três ou quatro dias que alguém passou na loja e não gostou. Tinha uma peça minha na vitrine. Entrou, reclamou, chamou gerente, mandou e-mail para o dono da loja, criticaram de todas as formas. Pegaram cartão meu, entraram na página [do ‘Santa Blasfêmia’, vazaram meu telefone. Tenho WhatsApp de pessoa me xingando, desmerecendo meu trabalho. Tanto falando da forma mais educada e da mais grosseira também.”

Ana disse que estava ignorando as mensagens, mas que decidiu nesta segunda se posicionar pela primeira vez. Ela conta que cresceu dentro da igreja, fez primeira comunhão e crisma e acredita em Deus. Atualmente, a mulher se define espírita.

[img align=left width=300]http://s2.glbimg.com/f_9X7bBJpX6RC4wIiHYP4EwL7UY=/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2016/02/22/blasfemiam4.jpg[/img]“A intenção sempre foi um trabalho artístico, de humor mesmo, nunca de forma a denegrir ou desrespeitar qualquer crença”, explica. “Não acho nem acredito que eu esteja agredindo ninguém.”

“Estou recebendo muito apoio. A maioria das pessoas que está do lado vê com bom humor isso tudo, não vê como possível problema ou nada que me ofenda ou vá me prejudicar de alguma forma. Eu sinceramente estou meio apática a isso tudo, de em pleno 2016 ter pessoas que não consigam separar religião e arte ou não consigam respeitar pessoas com interesses diferentes”, completa.

[b]O trabalho
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As peças de Ana são feitas com base em cinco santos: São Benedito, Santo Antônio, São Judas, Nossa Senhora de Guadalupe e Nossa Senhora das Graças. A confecção das estatuetas leva cerca de duas semanas.

A mulher, que também trabalha em um bar, compra os santos em gesso, os lixa e os molda em casa. Depois, seca, laqueia, pinta e inverniza. Ela diz que consegue fazer no máximo cinco estatuetas ao mesmo tempo.

As imagens já foram encomendadas por todos os estados brasileiros e até exportadas para Nova York. A maior dificuldade na venda é justamente a conservação. “Todas têm um filetinho de metal por dentro justamente para tentar diminuir esse risco [de quebra], para ficar um pouquinho mais rígida.”

[b]Fonte: G1[/b]

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