O porta-voz da Associação Católica Patriótica da China (criada pelo Governo chinês e não reconhecida pelo Vaticano), Liu Bainian, declarou hoje à Efe que a carta enviada pelo Papa aos católicos chineses é um “avanço” nas relações entre Pequim e a Santa Sé.

“É um grande avanço em comparação com os papas anteriores”, disse Liu por telefone. “Os anteriores também tinham enviado cartas à China nas décadas de 1940, 1950 e 1960, mas sempre se opunham ao comunismo e condenavam o regime chinês”, afirmou.

Desde que China e Vaticano romperam laços, em 1951, a Igreja excomungou os bispos nomeados pela Associação.

“Mas na carta atual o Papa Bento XVI não mencionou nada disso, e expressou seu amor e interesse pelos fiéis chineses e pelos jovens pastores”, disse Liu.

Na carta, o Papa deseja que “os fiéis amem a Deus e a seu país” e desempenhem um papel de “luz e sal” para os chineses.

Há ainda um apelo aos sacerdotes clandestinos para que saiam da obscuridade e trabalhem junto aos padres da igreja oficial comunista.

No entanto, “a informação que aparece na carta do Papa provém de outras fontes católicas na China e não de nós para conhecer a situação. Não menciona a Igreja Patriótica, o que pode causar mal-entendidos”, afirmou o porta-voz.

Liu Bainian lembrou que o catolicismo cresceu muito na China, principalmente nos últimos 20 anos, e sua igreja, a única reconhecida pelo Partido Comunista (PCCh, no poder desde 1949) conta com 5 milhões de fiéis, 1.900 padres, 6 mil igrejas, 70 conventos e 3 mil freiras.

Cerca de 8 a 10 milhões de chineses são seguidores da Igreja Católica clandestina, que apesar de perseguida pelo Governo comunista, na prática mistura seus fiéis com os da Igreja Patriótica.

“Pode-se dizer que é o melhor momento da história para a Igreja Católica na China”, avaliou Liu, vice-presidente da associação.

“Todos estes sucessos foram obtidos com a ajuda da Associação Católica Patriótica, que faz de ponte entre o Governo e as igrejas.

Desejamos que o Vaticano melhore as relações com a China de forma rápida e sincera. Rezamos por isso, porque beneficiará ambas as partes”, disse.

O porta-voz do Ministério de Assuntos Exteriores, Qin Gang, se remeteu hoje de novo a um comunicado emitido pela chancelaria após a publicação da carta de Bento XVI, no sábado.

Em sua resposta do fim de semana, o Governo chinês reiterou as condições para que o país estabeleça laços com a Santa Sé: romper relações diplomáticas com Taiwan e não interferir na nomeação de bispos pela Igreja Patriótica, um dos principais conflitos nos últimos anos.

O segundo ponto parece ser o que vem interrompendo o avanço da reconciliação entre Pequim e Vaticano, já que, em sua carta, Bento XVI afirmava a necessidade de uma “autêntica liberdade religiosa”, o que inclui a nomeação de bispos por parte da Igreja Católica.

Fonte: EFE

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