A Igreja Católica argentina se comprometeu nesta sexta-feira a realizar um estudo sobre sua atuação durante a última ditadura militar no país (1976-1983) e rechaçou qualquer tipo de conivência entre seus bispos e o regime.
O anúncio foi feito num comunicado veiculado pela igreja local. “Nossos bispos disseram que estão revisando todos os documentos ao seu alcance”, disse o comunicado.
“Não podemos nem queremos evitar a responsabilidade de avançar no conhecimento dessa verdade dolorosa e comprometedora para todos.”
O anúncio é uma resposta à denúncia feita pelo ex-ditador Jorge Rafael Videla, que afirmou em uma entrevista de 2010 (divulgada no último mês de julho) que membros da Igreja Católica estavam cientes dos desaparecimentos durante a ditadura e que até se ofereceram para informar familiares das vítimas sobre suas mortes.
“Colaboramos com a Justiça quando nos pediram informações que possuíamos. Além disso, incentivamos as pessoas com informações sobre o paradeiro dos desaparecidos ou de cemitérios clandestinos a informarem as autoridades competentes”, diz o comunicado.
A igreja lamentou a época ditatorial, “um tempo de desencontro”, segundo ela. Também disse reconhecer “crimes cometidos pelo Estado” na época, bem como “morte e desolação causadas pelos guerrilheiros”.
“Sabemos que há feridas abertas em milhares de famílias. Compartilhamos da dor de todas elas, e reiteramos o pedido de perdão a quem causamos algum dano, ou a quem não acompanhamos como deveríamos.”
Na entrevista com Videla, ele afirmou ter conversado sobre os desaparecimentos de guerrilheiros com muitas pessoas, entre elas o então líder católico do país, Pío Laghi, além de outros bispos argentinos influentes.
Videla foi o primeiro dos quatro ditadores militares argentinos a ser condenado à prisão perpétua por crimes contra a humanidade. Entre as acusações contra ele, está a morte do bispo católico Enrique Angelelli em 1976, que investigava a morte de outros dois sacerdotes pelas mãos de militares.
[b]Fonte: Folha de São Paulo[/b]