A Igreja Católica necessita crescer nos grandes centros urbanos para estar ao lado dos fiéis que se transferem de cidade e acabam atraídos por outras religiões, como já acontece com os evangélicos.

A reação já começou, segundo constata o arcebispo de Aparecida (SP), Raymundo Damasceno, quando questionado sobre a perda de seguidores.

“A pessoa sai do interior, num ambiente totalmente católico, mas muitas vezes sem uma formação profunda de suas convicções. Chega, fica longe de sua família, do seu ambiente social, perdido numa periferia de São Paulo ou do Rio de Janeiro”, afirmou dom Damasceno à Reuters em sua residência.

“É claro que o primeiro que chega e começa a reunir as pessoas, a valorizá-las, a oferecer-lhes alguma proposta religiosa… elas correm o risco de mudar de religião”, completou.

Os números constatam a redução de católicos. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que 83 por cento da população brasileira era formada por católicos em 1991, índice que caiu para 73 por cento nove anos depois, data do último censo.

Enquanto isso, a quantidade de evangélicos pulou de 9 por cento para 15 por cento no mesmo período, informa a Fundação Getúlio Vargas.

Dom Damasceno, de 70 anos e há três como arcebispo de Aparecida, admite que há muito por fazer, ecoando declarações do arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, recém-nomeado.

“Faltam igrejas nos grandes centros como São Paulo, faltam sobretudo locais de reuniões da comunidade (católica), falta um número maior de ministros ordenados (presbíteros ou diáconos), falta uma presença mais ativa e dinâmica do leigo, sobretudo nas periferias das cidades, para justamente dar uma acolhida a essas pessoas que saem da zona rural, que se sentem desenraizadas.”

Na sua avaliação, a Igreja já reage, na ação evangelizadora e na maior participação dos leigos, e não necessita de recursos muitos altos para esta missão.

“Você faz um salão simples onde as pessoas se encontram, se reúnem. É importante que elas se reunam, para sentirem-se pessoas, reconhecidas, valorizadas, para serem ouvidas”, afirmou.

Apesar da redução indicada pelo IBGE –tendência que dom Damasceno acredita já estar estancada– 50 por cento de todos os católicos do mundo se encontram na América Latina e o Brasil ainda é o maior país a praticar a religião.

Este é um dos motivos da vinda do papa Bento 16 ao Brasil em maio, quando visitará as cidades de São Paulo e Aparecida e rezará missas ao ar livre além de participar de encontros com bispos da região.

“A maioria dos católicos está na América Latina. Por isso, o futuro da Igreja depende desta ação do trabalho no continente”, disse dom Damasceno no dia em que apresentou a reforma do seminário que vai hospedar o papa em Aparecida.

A cidade, a 167 quilômetros a noroeste de São Paulo, tem apenas 35 mil habitantes e é local de peregrinação de católicos que visitam a Basílica. De acordo com a prefeitura, 8 milhões de praticantes passaram por lá no ano passado.

Fonte: Reuters

Comentários