Totem com mensagem do “Setembro Amarelo” na campanha criada pela Igreja Wesleyana de Vila Velha (ES). (Foto: Reprodução/Facebook)
Totem com mensagem do “Setembro Amarelo” na campanha criada pela Igreja Wesleyana de Vila Velha (ES). (Foto: Reprodução/Facebook)

Adriana Bernardo
Guia-me

A Igreja Metodista Wesleyana de Vila Velha, no Espírito Santo, participa da campanha “Setembro Amarelo”, cujo foco é a prevenção do suicídio.

O alto índice de suicídio “não só na cidade, mas em todo o mundo, inclusive entre clérigos” foi um dos fatores determinantes para o envolvimento da igreja na campanha, que escolheu o tema “A vida vale a pena ser vivida”.

De acordo com o bispo Luis Fernando Hammes, Superintendente Regional da Oitava Região Eclesiástica da Igreja Metodista Wesleyana, o suicídio “não pode ser encarado como natural pela igreja”.

“Há uma conjunção de fatores que podem levar uma pessoa a este ato de desespero. Daí começou a surgir entre nós o desejo de encher as pessoas de vida e ‘expulsar’ a morte”, disse o bispo Hammes, em entrevista exclusiva ao Guiame.

A campanha realizada na igreja pretende “trazer o debate para dentro dos muros eclesiásticos e buscar um diálogo sério sobre o tema”, afirma o bispo. 

Para ele, “espiritualizar, de modo barato, o tema, nos custa caro”. 

“Temos clérigos e leigos dentro das igrejas que já cometeram um ato contra a própria vida, e que não são levados tão a sério”, revela Hammes, que mostra a importância da prevenção ao dizer que “é preciso levar esperança para quem pensa em tentar contra a própria vida”. 

Casado com Tânia e pai de Gabrielle e Giselle, o bispo Hammes acredita que estar envolvido numa campanha desse porte “é levar significado para a existência”. 

“Não basta ao ser humano existir, é necessário viver. E Jesus é nossa vida.  Veio para trazer vida e vida com abundância. Ações como esta revelam para a sociedade que existe um povo evangélico antenado com o discurso social sério”, justifica.

Ouvir as pessoas

Hammes compartilha que a tarefa de ajudar na prevenção ao suicídio “é a missão e o desafio” da igreja, que também precisa se estruturar para isso.

“Temos incentivado os pastores e missionárias que reúnam equipes de apoio e deem treinamento [às pessoas que servem na igreja]. Um bom modelo é o CVV (Centro de Valorização da Vida – cvv.org.br – 188) que tem plantão 24 horas para ser ouvidos e mãos estendidas para quem está desesperado”, diz. 

Segundo o bispo, é necessário um esforço conjunto para que haja êxito no trabalho de prevenção. “Parcerias podem e devem ser buscadas. Um mutirão social pode dar mais vida e dignidade a uma sociedade perdida em seus afazeres e entretenimentos”, diz. 

Para Hammes, que tem 54 anos de idade e 30 de pastorado, “o ser humano tão ‘independente’ descobre que a solidão e outros males modernos, são fatais”.

Ele explica que “estamos mostrando nossa cara para ser mão que socorre, pois temos um coração que ama, e por isso nossos pés caminham em direção ao sofredor, e nossa boca se abre”.

Levar a sério

Para que a Igreja possa ajudar as pessoas que pensam em suicídio, Hammes diz que primeiramente ela precisa levar o tema a sério. “Não dá para achar que tudo é diabo”, enfatiza.

“Depois disso”, ele diz, “precisamos demonstrar ao ser humano que somos tão frágeis (nossa origem é o pó da terra). Nossa estrutura emocional/psicológica pode ser abalada sem nos darmos conta. Todos temos nossos pontos fracos. Nesses tempos de coach, onde se celebra tanto nossos pontos fortes, descobrimos que o que nos derruba são nossos pontos fracos.”

O superintende diz ainda que “a igreja precisa ser ouvido e mão”, e que a “atitude de misericórdia expressa bem os valores do Reino de Deus. Aliás, nossa mensagem deveria nos levar a sair do templo e servir à sociedade, e não nos fazer mais egoístas pensando somente em nós mesmos.”

Hammes mostra que o respaldo para esse tipo de ação da igreja está na Bíblia. “Se não olharmos a Bíblia como a voz de Deus que procura encher o ser humano de vida e significado, estamos sim perdidos”, afirma.

“A Palavra de Deus demonstra que somos pecadores caídos e que a sociedade que busca ser cada dia mais humanista, está se deteriorando em si mesma. Desde Babel, a síndrome de Ninrode tem percorrido os povos. Querem conquistar, mas acabam sendo prisioneiros. Jesus é a resposta clara a quem sofre. Ele sofreu de fato (Isaías 53). Foi homem de dores. Desprezado, abandonado, maltratado, surrado, ignorado etc. Mas venceu. Fez-se forte na dor. E o próprio profeta Isaías que profetizou as dores do Messias (Jesus) também anuncia o poder do Sofredor em socorrer quem sofre (Isaías 61:1-3). O apóstolo Paulo (II Coríntios 4:8-9) revela que em Deus podemos superar os dramas da vida”, declara.

Trabalho social

Esta é a primeira vez que a igreja Wesleyana se envolve e protagoniza uma campanha nesses moldes sim. “Temos gente séria falando sobre isso dentro de nossos limites, mas com essa abrangência, é a primeira vez”, conta Hammes, que revela que “a cada ano queremos adotar um tema social e reavivar a discussão, como Outubro Rosa, Novembro Azul, Maio amarelo, que trata de acidentes de trânsito.”

O bispo conta que a vocação metodista em seus primórdios, tem um braço social. “John Wesley imprimiu uma marca forte em seus discípulos com relação às questões sociais e ao cuidado com a criança. Apoiou a reforma educacional na Inglaterra e lutou pela abolição da escravatura e pela reforma das prisões”, explica. 

Ainda sobre Wesley, Hammes diz que “suas obras filantrópicas em prol dos pobres e enfermos eram variadíssimas”.

Para respaldar essa veia social da igreja Wesleyana, Hammes cita John Wesley: “O evangelho de Cristo não conhece religião, que não seja religião social; não conhece santidade, que não seja santidade social”.

A campanha “Setembro Amarelo” promovida pela Igreja Wesleyana de Vila Velha acabou se espalhando por outras cidades da Região Eclesiástica comandada por Hammes. “Cachoeiro do Itapemirim, Guarapari, Cariacica, Serra, Viana, Colatina, Aracruz, bem como cidades da Bahia (Teixeira de Freitas e extremo sul baiano, Itabuna, Jequié) estão abraçando a ideia”, diz.

Hammes diz que apesar de a campanha estar sendo organizada pela igreja Wesleyana de Vila Velha, é importante que todos participem. “Estamos convidando a todas as pessoas de bem e que queiram ajudar outros a não cometerem algo tão mal contra as próprias vidas. Creio que uma ação assim, há de inspirar a outras cidades e igrejas”, finaliza o bispo, que agendou um ato público para o dia 7 de setembro, às 15 horas, no Point do Ciclista, na Praia de Itaparica, em Vila Velha.

Campanha “Setembro Amarelo” da Igreja Wesleyana terá ato público na Praia de Itaparica, em Vila Vilha (ES). (Foto: Reprodução/Facebook)

Fonte: Guia-me

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