A Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo, publicou um texto em seu site oficial, no domingo 23, no qual afirma que “um cristão de verdade não pode nem deve compactuar com ideias esquerdistas”.
O texto, apócrifo, argumenta que “a esquerda prega contra o casamento convencional” e destrói “a rede de apoio familiar para ‘salvar’ o povo usando um assistencialismo manipulador”.
A postagem se encerra com uma mensagem assinada pelo bispo Renato Cardoso: “Se você se diz cristão e ainda vota na esquerda, há apenas duas possibilidades: ou você não segue realmente os ensinamentos do cristianismo ou os segue e ainda não entendeu o que a esquerda é verdadeiramente”.
A publicação da IURD ocorre em meio à perda de apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao avanço do ex-presidente Lula (PT) entre os evangélicos.
Pesquisa
Pesquisa PoderData divulgada na última quinta-feira 20 mostra que Lula cresceu 10 pontos percentuais entre os evangélicos desde dezembro e empata tecnicamente, nesse segmento, com Bolsonaro.
O atual presidente tem 40% do eleitorado evangélico, enquanto Lula atinge 36%. No mês passado, Bolsonaro liderava por 43% a 26%.
Entre católicos, Lula lidera por 46% a 21% – em dezembro, Bolsonaro chegava a 29%.
Em uma projeção de 2º turno, Lula chegaria a 47% entre os evangélicos, mesmo percentual de Bolsonaro. Entre os católicos, o petista venceria com folga: 56% a 25%.
No geral, Lula mantém folgada liderança da corrida rumo à Presidência em outubro. Ele aparece com 42% das intenções de voto – todos os adversários, somados, chegam a 45%, o que indica possibilidade de vitória do petista no 1º turno.
Lula e Dilma
De acordo com o site O Antagonista, Edir Macedo foi aliado de primeira hora do PT durante longos 13 anos. Em 2007, o então presidente Lula participou da inauguração da Record News: o petista e Edir Macedo apertaram juntos o botão que ativou o canal.
Já na primeira posse de Dilma Rousseff, em 1º de janeiro de 2011, o Antagonista diz que Edir Macedo furou a fila reservada a representantes de países estrangeiros para cumprimentar a petista, cuja primeira entrevista após as suas eleições, em 2010 e em 2014, foi justamente para a Record.
Por fim, lembrou também que o ex-prefeito do Rio, Marcelo Crivella, sobrinho de Edir Macedo, chegou a ser ministro da Pesca durante o primeiro mandato Dilma.
Já a Veja online, lembrou do então deputado Carlos Rodrigues, à época o principal porta-voz político da Igreja Universal, que renunciou ao mandato em 2005 e também deixou a igreja após ser descoberto o seu envolvimento no mensalão.
Segundo O Antagonista, a Igreja Universal se ligou ao bolsonarismo nos últimos três anos interessada em perdão de dívidas, isenções tributárias e espaços de poder nunca antes ocupados, e finaliza ironizando: “Pela lógica do texto divulgado hoje pela igreja, é possível dizer que a Universal não era cristã e “se converteu” no governo Bolsonaro?”.
De acordo com a Veja, Lula ainda deseja recuperar o apoio da Universal, e a brecha para isso seria o fato de que os pastores da igreja estão descontentes com a forma como o presidente Jair Bolsonaro lidou com a crise em Angola – onde ela perdeu os seus templos para religiosos locais – e com a falta de empenho para colocar Crivella como embaixador na África do Sul (o governo chegou a indicar, mas, diante da resistência sul-africana, desistiu).
Há, também, uma crescente insatisfação na cúpula da Universal em relação a Bolsonaro, pois, na avaliação de Edir Macedo e dos principais pastores, Bolsonaro é “mais preocupado com os filhos do que o povo” – nas palavras de um integrante da cúpula da igreja.
Na visão da Universal, Bolsonaro é um líder frágil, que ignora o sofrimento do povo em nome de defender os filhos. A explosão do desemprego, o crescimento da miséria, a volta da fome com força, a insensibilidade com as mortes causadas pela Covid, tudo isso contrastaria com o empenho do presidente para defender seus quatro filhos que são alvo de investigações – Flávio, Eduardo, Carlos e Jair Renan Bolsonaro.
Para ler a íntegra do texto publicado pela Igreja Universal, clique aqui.
Fonte: O Antagonista, VEJA e Carta Capital