Os assaltos a igrejas tornaram-se tão freqüentes que padres e sacristãos precisam dar uma ajudinha aos “santos” e passaram a contratar seguranças, instalar alarmes e até colocar câmeras no altar para evitar furtos e roubos. Nem sempre, no entanto, todo esse aparato é suficiente.
Bastou a última missa do domingo da semana passada terminar para os religiosos da igreja de São Judas Tadeu, no Jabaquara (zona sul) constatarem que, pela terceira vez em dois meses, tinham sido assaltados. O ladrão furtou o cofre onde estavam as oferendas do dia. Os padres não sabem o valor nem têm pistas do ladrão.
Três semanas atrás, porém, um dos quatro seguranças que se revezam no local identificaram um assaltante. “A polícia o prendeu e recuperou o dinheiro. Era o mesmo ladrão que nos roubou há menos de dois meses”, diz o padre Augusto Pereira, um dos vigários da igreja. “Ainda não temos câmeras, mas a segurança se tornou preocupação nas paróquias.”
Assaltar igreja não é caso raro na capital. De 20 paróquias consultadas pela Folha, 13 sofreram algum roubo ou furto neste ano ou no passado. Ou seja, 65% das paróquias foram vítimas de ladrões. De agosto para cá, foram sete assaltos.
“Não tem ano que a gente não seja roubado, mas agora está demais”, diz o padre João Enes, da paróquia Nossa Senhora Casaluce, no Brás, centro. “Em agosto, levaram botijão de gás e 600 refrigerantes e cervejas de uma festa. Não se respeita mais nem a igreja.”
Furtos de pára-raios
Falta juízo aos ladrões, afirma padre Pascoali Priolo, da São Januário, na Mooca (zona leste). “A situação é terrível, não sei mais o que fazer. Os assaltantes abusam e só a guarda de Deus não dá conta de tudo.”
A igreja de Priolo já foi furtada duas vezes neste ano. Em março, os ladrões levaram cálices, depredaram o sacrário e roubaram até o pára-raios. “Como era de cobre, levaram para vender ao ferro-velho.” Na semana passada, a igreja da Consolação, no centro, foi mais uma que teve os fios de seu pára-raios furtados.
O ferro-velho foi o destino, ainda, da cruz de R$ 3.000 que adornava a igreja Nossa Senhora da Paz, no Glicério, centro, dizem os religiosos de lá. Já a Bom Jesus, no Brás, não sabe o que aconteceu com a coroa de Nossa Senhora Aparecida, furtada há um mês.
Histórias de assaltos são comuns entre os padres. No ano passado, roubaram o ofertório no meio de uma missa na paróquia Imaculada Conceição, na Bela Vista (centro). Também em 2005, ladrões levaram microfones e pedestais da Nossa Senhora do Rosário, na Pompéia (zona oeste). No mês passado, assaltantes furtaram o cofre do grupo de orações na igreja de Santa Cecília, no centro.
Imã para pegar moedinha
Ladrão “pé-de-chinelo” também não falta, contam os párocos. Para roubar as moedinhas dos ofertórios, os assaltantes usam imãs ou bolinhas de piche e, assim, atraem o dinheiro. É para evitar esse tipo de furto que a Sagrado Coração de Jesus, no Morumbi (zona oeste), assaltada em 2005, decidiu depositar no banco o dinheiro das oferendas logo após as missas.
Segurança maior, porém, está na instalação de câmeras nas igrejas. Das 20 paróquias consultadas, seis já têm o sistema e muitas estudam a instalação.
“Depois de sofrermos vários roubos, decidimos no começo do ano que era melhor gastar dinheiro com as câmeras e colocar o cofre no seguro”, conta Eugênio João Mezzomo, padre da igreja do Calvário, em Pinheiros (zona oeste). “Sempre somos assaltados na época da quermesse; desta vez, só tivemos pequenos furtos.” A manutenção do sistema custa cerca de R$ 900 por mês.
As paróquias que não podem colocar câmeras contratam seguranças. Das 20 consultadas, 13 têm vigias. Mas na igreja da Cruz Torta, também em Pinheiros, o que espanta os ladrões são os nove cachorros do padre Ilson Frossard. “São cinco cães policiais e quatro vira-latas, que latem muito. Ninguém se atreve a chegar perto.”
Paróquias também são alvos no litoral e no interior de SP
Igrejas do litoral e do interior também estão tomando medidas de segurança para evitar prejuízos. Na Praia Grande, litoral sul de São Paulo, por exemplo, os ladrões levam torneiras de banheiros.
A solução encontrada por 14 capelas que fazem parte da igreja Nossa Senhora das Graças foi colocar alarmes. “Já passamos por inúmeros assaltos neste ano. Tivemos até de fazer uma missa para pedir que os ladrões dêem uma trégua”, conta a secretária da paróquia, Cristina Rossi. “Eles roubam dinheiro, instrumentos musicais e violam os sacrários.”
Como os alarmes ainda estão sedo instalados, não dá para saber se serão suficientes. “Há duas semanas, assaltaram a comunidade Caiçara, vítima cinco vezes em dois meses.”
Em Franca, no interior, a solução foi colocar grades nas entradas das igrejas, cercas elétricas e contratar vigilantes. A paróquia São Judas Tadeu, por exemplo, agora tem seguranças e câmeras. Em agosto, ladrões entraram na paróquia e levaram R$ 2.000 do dízimo. Pelo menos mais quatro igrejas foram roubadas este ano.
No centro de SP, fiéis são furtados durante a missa
Boa parte dos fiéis que freqüenta as igrejas do centro de São Paulo já sabe: nem durante uma missa pode-se bobear. Na hora de comungar, a bolsa precisa ir junto. Ao dar uma oferenda, não se deve abrir a carteira na frente de todo mundo. Celulares e relógios não podem ser ostentados.
Em igrejas como as da Consolação e de Santa Cecília e na catedral da Sé, são comuns casos de fiéis que são roubados durante as celebrações. Alguns, são vítimas do próprio descuido. “É comum as pessoas serem assaltadas nas missas”, conta um funcionário da igreja de Santa Cecília, que pede para não ser identificado. “Temos um vigia aqui, mas ele não dá conta de tudo.”
Para evitar qualquer dor de cabeça, sugere, o melhor é não deixar bolsas e carteiras nos bancos. “Quem bobeia perde tudo porque por aqui tem muito malandro.” Freqüentadora da paróquia, Maria Emília Souza, 48, não desgruda dos seus pertences. “Graças a Deus nunca fui roubada, mas já vi ladrõezinhos furtando carteiras e celulares sem os donos nem perceberem”, diz. “A gente não tem sossego nem para falar com Deus.”
A mesma situação é vivida na igreja da Consolação. “Aqui tem furto porque estamos rodeados de marginais”, diz o padre Ramom Santiago. “Precisamos ficar sempre atentos.” Moradora da região, Lúcia Val, 39, conta que sente medo quando a igreja está muito vazia. “A sensação de insegurança é grande. Não dá para vir fazer uma oração fora do horário da missa porque tem um pessoal estranho em volta da igreja.”
A mesma sensação tem a filósofa Eduarda Souza, 41. “É absurdo, mas nem podemos mais rezar em paz nesta cidade. Não dá para entrar na igreja vazia durante a tarde porque os ladrões se aproveitam e, quando venho para a missa, não trago nem a bolsa.”
Documentos na Sé
O receio de ser vítima de um assalto também espanta alguns fiéis da catedral da Sé. Lá, o grande problema está em volta da igreja. “Muita gente é roubada na praça e vira-e-mexe os ladrões jogam o que não querem aqui dentro”, conta Olinda Rosa da Silva, assistente administrativa da catedral. “São sacolas, bolsas com documentos, tudo o que você possa imaginar. Quando não tem o nome do dono, entregamos para o setor de achados e perdidos do Metrô.”
Se tem algum telefone, Olinda liga para a vítima. “Ontem mesmo [terça-feira], uma senhora veio buscar suas coisas. Ela foi assaltada em um farol aqui perto na semana passada e pegaram a bolsa e um saco cheio de roupa que ia para a lavanderia”, diz. “Os ladrões só levaram o dinheiro. Jogaram o resto aqui e até o talão de cheques estava na bolsa.”
Fonte: Folha de São Paulo