Na avaliação da pastora luterana e secretária-geral do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (Conic), Romi Bencke, o elevado número de casos de violência contra a mulher no Brasil está ligado à ação de grupos fundamentalistas religiosos. Ela falou nesta terça-feira (26) numa audiência pública na Comissão de Direitos Humanos (CDH).
— A gente tem percebido no Brasil uma campanha que é protagonizada por grupos fundamentalistas e impacta diretamente na vida das mulheres. Essa relação existe porque todo discurso fundamentalista é um discurso patriarcal, que desrespeita a vida das mulheres, a vida da população negra, a vida das pessoas LGBT — disse ela.
Ela citou um trecho do livro bíblico do Eclesiástico que, em sua avaliação, reforça o papel de submissão das mulheres e afirmou que as igrejas precisam atuar para que esse tipo de texto não seja interpretado hoje ao pé da letra.
— As igrejas têm um papel extremamente relevante na superação da violência contra a mulher. Isso porque todos os pilares que sustentam o patriarcado foram construídos com base numa hermenêutica patriarcal da Bíblia. Então a violência contra a mulher tem uma base de argumentação teológica também — argumentou.
Integrante da Campanha Nacional de Enfrentamento aos Ciclos de Violência contra a Mulher, Daiane Zito Rosa destacou a importância da educação para a redução do problema:
— Nós precisamos pensar a vida dos homens que cometem opressões e violências e também precisamos construir políticas públicas que não nos tornem também opressores. Não precisamos de mais cadeias, de mais punição, de uma nova forma de matar homens pretos. Precisamos de educação.
A representante da Conferência dos Religiosos do Brasil na audiência pública, Maria Luiza da Silva, relatou o trabalho desenvolvido pela entidade religiosa Um Grito pela Vida, que tem como bandeira de luta a erradicação do tráfico de pessoas. Segundo ela, as mulheres, sobretudo as negras, são as principais vítimas desse tipo de crime.
— Não é demais enfatizar que a violência sofrida pelas mulheres favorece o tráfico de pessoas. É ululante o nível de violência contra as mulheres no Brasil. A crueldade dos agressores é inaceitável. A sociedade não pode aceitar essa cultura que desvaloriza a mulher e a coisifica, colocando-a em situação degradante e humilhante. Por isso, é importante a constante realização de campanhas educativas. Quando uma mulher é agredida, violentada nos seus direitos, na sua dignidade, toda a sociedade também está sendo agredida — ela disse.
O secretário nacional da Pastoral da Juventude, Davi Rodrigues da Silva, destacou o papel desempenhado pelos jovens católicos em várias lutas sociais ocorridas no país a partir da década de 1960. Desde 2017, segundo ele, a Pastoral da Juventude vem atuando no enfrentamento da violência contra mulheres.
A audiência foi presidida pelo senador Paulo Paim (PT-RS). No início da reunião, ele exibiu um cartaz da campanha 16 Dias de Ativismo contra a Violência de Gênero, iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) que ocorre anualmente entre 25 de novembro (Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres) e 10 de dezembro (Dia Internacional dos Direitos Humanos).
Fonte: Agência Senado