As autoridades do Vietnã informaram a Embaixada Americana em Hanói que 18 igrejas vietnamitas foram registradas, entretanto, as próprias igrejas não foram informadas do registro.
Observadores acreditam que esta é uma indicação de que o país intensificou esforços para convencer os Estados Unidos das melhorias nos índices de liberdade religiosa.
Em breve, os Estados Unidos decidirão se o Vietnã será incluído na lista dos piores violadores da liberdade religiosa, e uma votação no Congresso sobre o relacionamento comercial normal permanente também está para acontecer. Além disso, o Congresso sobre Cooperação Econômica da Ásia, que será realizado em Hanói de 12 a 19 de novembro tem aumentado a pressão, bem como a uma visita do presidente George W. Bush ao país, que acontecerá em seguida ao Congresso.
Líderes cristãos nas cidades de Hanói e de Ho Chi Minh contaram ao Compass que souberam sobre o registro de algumas das igrejas primeiramente através de informações dos oficiais americanos.
Em 18 de setembro, o secretário geral da Igreja Evangélica do Vietnã, do Norte, (ECVN, sigla em inglês) recebeu um fax da embaixada americana em Hanói com uma lista de 18 igrejas hmong (grupo étnico do Vietnã) como sendo registradas. A embaixada recebeu a lista do Escritório Central de Assuntos Religiosos e estava averiguando junto aos líderes da ECVN sobre a posição dos registros.
Durante o ano passado, esses líderes ajudaram 534 igrejas hmong a enviar pedidos de registros oficiais, de acordo com a nova legislação religiosa. Contudo, as igrejas não receberam nenhuma confirmação das solicitações de registro até tomar conhecimento do fax enviado à embaixada americana.
Os líderes da igreja vietnamita disseram que essa comunicação truncada os levou a duvidar da intenção do governo de alterar as políticas repressivas em relação aos hmong e às outras minorias étnicas nas províncias do noroeste montanhoso do Vietnã.
A experiência das igrejas com a questão do registro aumenta essa dúvida, disseram eles. Sendo forçados a listar seus membros por nome, desde o registro, suas igrejas sofreram numerosas e amplas ameaças e ações intrusivas por autoridades locais. A polícia e os oficiais que por muito tempo perseguiram os hmong, por exemplo, agora se assentam em alguns de seus cultos como observadores. Em algumas igrejas, as autoridades proíbem que qualquer pessoa com menos de 14 anos participe dos cultos.
Em outras igrejas, as autoridades não aceitaram a liderança e forçaram as congregações a escolher outros líderes sob sua supervisão. As autoridades também verificaram a freqüência de algumas igrejas, comparando com as listas de membros, e expulsaram visitantes ou convidados, disseram os líderes. Os oficiais do governo tentaram restringir o movimento de respeitados líderes e mestres de igrejas e até mesmo tentaram ditar a ordem dos cultos.
Observadores perceberam que as autoridades escolheram registrar 18 igrejas menores, a maioria com líderes não considerados fortes. Líderes de igrejas hmong maiores e mais vigorosas disseram que se recusarão a registrar se estes forem os “benefícios”.
Contudo, alguns diplomatas acreditam que isso é um progresso se comparado às atitudes do passado. No início de 2005, as autoridades negaram haver qualquer cristão nas províncias do noroeste. O governo agora admite a existência de 110 mil cristãos protestantes, apesar das fontes das igrejas afirmarem que o número é pelo menos duas vezes maior.
Sinceridade duvidosa
Em meados de outubro, na cidade de Ho Chi Minh, um líder da igreja doméstica recebeu uma chamada telefônica de um diplomata americano informando-o que algumas igrejas domésticas seriam registradas. O líder da igreja não tinha conhecimento dessa informação.
Em 17 de outubro, um artigo do jornal “Saigon Giai Phong” (Saigon Liberado) informou que “25 denominações protestantes” haviam recebido “certificados para realizar atividades religiosas”. A palavra “denominações” seria um erro falso, já que a palavra correta seria “congregações”. Subseqüentemente, certificados realmente foram entregues para 25 congregações que pertencem a nove organizações de igrejas domésticas.
Alguns líderes eclesiásticos disseram que o modo como souberam desses registros – primeiramente através da embaixada americana, e depois através do jornal, antes de serem informados diretamente – indicam que o Vietnã estava mais interessado em ganhar reconhecimento no mundo do que em estabelecer um relacionamento honesto e de boa fé com os religiosos.
Outros líderes estão um pouco mais otimistas. Na mesma semana em que as igrejas souberam desses registros, um líder da igreja, abertamente crítico da repressão religiosa, recebeu uma cortês visita pessoal em sua casa de um alto oficial do Escritório Central de Assuntos Religiosos. O oficial persuadiu o líder a registrar suas igrejas.
No dia seguinte, quando o líder telefonou para Escritório de Assuntos Religiosos de Ho Chi Min, lhe fizeram o seguinte pedido: “Por favor, esqueça o que aconteceu antes de 2003”. Ele foi informado também de que uma política religiosa nova e mais liberal seria implantada. O líder, embora ainda cauteloso, disse que ele e outros aceitariam a política do governo e tentariam registrar suas congregações de igrejas domésticas.
Um observador contou ao Compass que os “líderes de igreja no Vietnã não têm a ilusão de que os registros de suas igrejas equivalem à liberdade religiosa. Certamente, a experiência das igrejas Hmong recentemente registradas indica que o registro pode ser usado como uma ferramenta de intromissão e pode servir para limitar a igreja”.
Mas, pode haver benefícios, acrescentou ele, em que as igrejas sejam consideradas legais, “como a idéia de que a regulamentação da lei está sendo imposta ao Vietnã no momento em que integra a econômica global”.
Líderes de igrejas domésticas contaram ao Compass que eles se recusarão a listar seus membros quando registrarem seus grupos; eles citam a experiência das igrejas hmong como uma razão principal.
Tanto no caso das igrejas hmong e como das igrejas domésticas, os registros descritos representam um pouco mais de um por cento do número total de congregações.
Fonte: Portas Abertas