A imagem de uma divindade pré-hispânica, que perdoava os excessos carnais e apoiava a prostituição como um ofício necessário, está em exposição no museu do estado mexicano de Puebla (centro) como parte de uma mostra intitulada “Deusas e mortais”.

“A deusa do amor carnal, chamada Tlazoltéotl, comia a imundície e os pecados sexuais, isto é, a gente que se excedia sexualmente ia ao templo desta divindade, se confessava perante ela e saia limpa”, contou à AFP Eduardo Merlo, arqueólogo do Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH).

A mostra, montada no Museu Regional do INAH em Puebla, pretende, através de estatuetas e esculturas que datam do ano 2.500 a.C. até 1.521 d.C. mostrar a vida da mulher indígena antes da conquista espanhola “porque as divindades femininas eram muito importantes neste mundo pré-hispânico”, detalhou Merlo.

Além de confeccionar tecidos e fazer trabalhos domésticos, as mulheres pré-hispânicas desempenhavam ofícios de parteiras, adivinhas, médicas, camponesas e prostitutas, chamadas popularmente de “‘auianime’ ou alegradoras”.

“Em tempos de paz, eram malvistas pelas mulheres, mas em tempos de guerra eram bem-vistas por todos, já que atrás do contingente militar ia o contingente de ‘auianime’ para prestar serviço ao Exército”, disse o especialista.

“Tratava-se de algo prático, se os soldados tinham este serviço não tinham porque violentar as mulheres dos povos conquistados e se algum o fazia, era executado”, explicou.

Para os indígenas pré-hispânicos, a mulher tinha um papel relevante, por isso cada divindade masculina tinha seu equivalente feminino.

“Inclusive o deus criador Ometéotl era metade masculino e metade feminino, o que é único, já que nenhuma cultura no mundo teve um elemento que encerre o masculino e o feminino em uma única potência”, destacou Eduardo Merlo.

O antecedente da Virgem de Guadalupe, venerada pelos mexicanos, é representado pela deusa do milho, conhecida como Chicomecóatl ou Tonantzin (“nossa mãezinha” em náuatle, língua falada no centro e no oeste do México), “que tinha seu templo no Tepeyac, que foi destruído durante a conquista e agora os indígenas continuam chamando a Virgem de Guadalupe de Tonantzin”, afirmou.

Na mostra também estão expostas imagens de Cihuacóatl, a deusa mãe, Chalchiuhtlicue, a deusa da água, e Xochiquétzal, a deusa da beleza.

Fonte: AFP

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