Seul nega ter pago um resgate pela libertação de 19 missionários seqüestrados pelos talebans, mas órgãos de imprensa sul-coreanos afirmam nesta sexta-feira, 31, que a operação pode ter custado milhões de dólares ao governo.
Os jornais dizem que o governo pode ter pago de US$ 2 a 70 milhões pela libertação dos reféns. O processo terminou na quinta-feira, 30, com a entrega dos últimos sete missionários seqüestrados pelos talebans.
O governo garante que para conseguir a libertação dos 19 missionários só se comprometeu a acelerar a retirada de seus 200 militares presentes no Afeganistão e a dos missionários do país.
Fontes diplomáticas citadas nesta sexta-feira, 31, pelo jornal Choson Ilbo afirmam que funcionários governamentais viajaram ao Afeganistão com US$ 70 milhões. Outras fontes avaliam o resgate em US$ 500 mil por refém. A rede de televisão Al Jazera situa o pagamento em pelo menos US$ 40 milhões, e o jornal japonês Asahi fala de US$ 2 milhões.
Os talebans libertaram na quinta-feira, 30, os últimos sete sul-coreanos que faziam parte de um grupo de 23 missionários cristãos. Eles foram seqüestrados no dia 19 de julho, quando viajavam de ônibus pela perigosa estrada que une Cabul e Kandahar.
Foi o maior grupo de estrangeiros seqüestrado pelos talebans desde a queda do regime, em 2001. Dois reféns foram executados depois de alguns dias, quando o Governo afegão se negou a atender à exigência do grupo de libertar rebeldes presos.
Duas mulheres de saúde delicada foram libertadas no dia 11 de agosto, após as primeiras negociações diretas entre representantes de Seul e os talebans, há três semanas.
O Ministério de Relações Exteriores sul-coreano confirmou nesta sexta-feira, 31, a libertação dos últimos sete reféns. Eles devem viajar de volta para a Coréia do Sul neste fim de semana, com os seus 12 companheiros que tinham sido entregues na quarta-feira.
Em entrevista coletiva após a libertação de todos os reféns, seus parentes agradeceram pela ação do governo. Após a volta deles ao país, Seul vai cobrar da igreja e dos parentes dos reféns as despesas de vôo e de permanência de seus representantes nas negociações.
Críticas
Além da polêmica gerada por um possível pagamento de resgate, vários especialistas sul-coreanos alertaram que Seul abriu um precedente perigoso ao negociar diretamente com os terroristas e aceitar suas exigências.
O ministro de Relações Exteriores do Canadá, Maxime Bernier, criticou a Coréia do Sul e garantiu que seu país não negociaria com terroristas de forma alguma. Ceder aos seqüestradores só conduz a mais atos de terrorismo, afirmou.
Outros analistas acham que o governo sul-coreano foi muito apressado ao jogar na mesa de negociações o trunfo da retirada de suas tropas do Afeganistão. Seria melhor manter a ambigüidade na sua posição, afirmam.
A maioria dos sul-coreanos atribui o caso a uma ofensiva evangélica, com o envio de missionários a regiões conflituosas, e defende que a igreja pague todas as despesas, inclusive o resgate, se for confirmado.
Numa entrevista à televisão pública sul-coreana KBS, o porta-voz taleban, Qari Yousef Ahmadi, pediu desculpas pelo assassinato de dois e responsabilizou os Estados Unidos pelo seqüestro.
Ele acrescentou que o Afeganistão é um país islâmico e que os missionários sul-coreanos não devem entrar com um objetivo religioso.
Fonte: Estadão