O Vaticano tem avançado lentamente na direção do paraíso dos Estados virtuosos. Com inspeção de conselho, papa Bento 16 queria mostrar ambição de transparência.

Apresentado na quarta-feira (18), o relatório dos especialistas da Moneyval, o órgão subordinado ao Conselho da Europa encarregado de avaliar os esforços de seus membros em matéria de combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo, deixa o menor Estado do mundo no meio do caminho: não completamente na “lista branca” dos países imaculados, mas ainda não fora da “lista cinza” dos Estados inescrupulosos.

Das dezesseis “recomendações fundamentais” em matéria de combate à lavagem de dinheiro, nove foram consideradas “conformes” ou “amplamente conformes”, sete ainda são consideradas como “parcialmente conformes” ou “não conformes”. “Esse relatório constitui não o fim, mas sim uma etapa em nosso compromisso constante para conjugar o compromisso moral e a excelência técnica”, comemorou Dom Ettore Balestrero, subsecretário encarregado das relações com os Estados, que prometeu “reforçar” o conjunto do sistema para se tornar “um parceiro confiável da comunidade internacional”.

Essa inspeção foi ideia de Bento 16, que queria mostrar sua ambição de transparência. Em 2010, o Vaticano providenciou instrumentos de controle internos, entre eles uma “autoridade de informação financeira”. “Pode melhorar”, consideraram os inspetores do conselho, que ressaltam que a responsabilidade e a independência dessa instituição não estão suficientemente definidas.

Em sua linha de mira está o caso do Instituto das Obras Religiosas, o IOR, popularmente chamado de “banco do papa”. Dotado de um patrimônio de 5 bilhões de euros, abrigado em um calabouço da cidade papal com muros de seis metros de espessura, ele esteve no centro de vários escândalos e foi responsável pela má reputação do Vaticano. O segredo de suas 33.404 contas, pertencentes oficialmente a prelados, ordens religiosas ou empregados laicos desse Estado, é mais bem guardado do que seria em um banco suíço.

[b]Supervisão independente
[/b]
Seus sucessivos dirigentes provaram que a fé não proibia escabrosos esquemas financeiros. Dom Marcinkus associou o banco do papa aos tremendos escândalos financeiros dos anos 1970 e 1980, sendo que alguns deles terminaram em mortes violentas, guardando em contas anônimas o dinheiro da Máfia ou da loja maçônica ilegal P2; recentemente, a Justiça italiana apreendeu 22 milhões de euros de fundos suspeitos provenientes do IOR, enquanto o banco era colocado sob a autoridade de Ettore Gotti Tedeschi, um laico próximo de Bento 16 com reputação de incorruptível.

Teria este último exagerado ao procurar saber mais sobre as verdadeiras identidades dos donos de contas? Ou ele mostrou “incompetência”, como acusam os cardeais de seu conselho administrativo, que o demitiram no dia 24 de maio? Prudente, o ex-banqueiro colocou em local seguro e em três exemplares os documentos confidenciais, onde está escrito: “Se me encontrarem morto, é aqui que devem procurar o nome de meu assassino”. Os especialistas do Moneyval “recomendam veementemente” que o banco, hoje sem presidente, seja colocado sob supervisão independente.

[b]Fonte: Le Monde[/b]

Comentários