Uma mistura de intolerância religiosa e vandalismo arrasou as esculturas de deuses afro-brasileiros que adornam a Praça dos Orixás, na beira do Lago Paranoá, em Brasília. Todas as 16 estátuas foram depredadas.

Cinco foram arrancadas dos pedestais de concreto (Nanã, Xangô, Oxalá, Oxóssi e Iemanjá- esta última foi decapitada e incendiada). Outras três (Exu, Ibeiji e Iansã) foram entortadas e tombadas. As esculturas são do artista plástico baiano Tatti Moreno e foram inauguradas em 2000.

A violência que atingiu os orixás da Prainha, como é conhecida a Praça dos Orixás, chamou a atenção da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República. “Estamos fazendo uma parceria com o Ministério da Cultura, a Secretaria da Cultura do Distrito Federal e a Federação de Umbanda e Candomblé da capital para recuperar e preservar esse patrimônio cultural e religioso”, diz Evair Augusto dos Santos, assessor especial da secretaria.

A parceria possibilitou um contato com o artista Tatti Moreno, que viajou para Brasília e disse que será possível recuperar as esculturas. No início do mês que vem elas serão embarcadas em caminhões que as transportarão até o ateliê de Moreno, em Salvador. Foi firmado o compromisso de que estarão prontas até novembro, quando é comemorada a data nacional da consciência negra.

Abrir aos cultos

Marinalva Moreira, presidente da Federação de Umbanda e Candomblé, que dirige o Centro Espírita Gentil Guerreiro, em Santa Maria (cidade-satélite localizada a cerca de 40 quilômetros a oeste do Plano Piloto), acha que uma das formas de evitar o vandalismo e a intolerância religiosa seria abrir a Prainha durante todo o ano para os cultos afros. Atualmente, eles são praticados ali somente na virada do dia 31 de dezembro para o dia 1º de janeiro, quando multidões assistem à passagem de ano e prestam homenagem a seus orixás.

Sem policiamento e vigilância, à noite a Prainha é transformada em local para encontros amorosos, bebedeiras e consumo de drogas. Como não há nenhum controle, os veículos entram na praça, passam por cima da calçada e descem até a margem do lago. Tudo isso a cerca de 200 metros de um shopping, praças esportivas e churrascarias, e a cerca de 3 quilômetros do Palácio do Planalto, bem embaixo da Ponte Costa e Silva.

O representante da Secretaria de Direitos Humanos concorda que é necessário transformar o local em ponto de atividades culturais e religiosas para ajudar a combater o vandalismo e a intolerância. A parceria com o governo de Brasília prevê o fechamento de um calendário de atividades e a instalação de câmeras de circuito fechado no local. Na visita que fez a Brasília, Tatti Moreno conversou com o governador José Roberto Arruda (DEM), que se comprometeu a garantir a segurança na Praça dos Orixás.

Tatti Moreno informou à Fundação Palmares, do Ministério da Cultura, que, até o fim da primeira quinzena do mês, apresentará os custos da mão-de-obra para a recuperação das esculturas. Ele informou que gostaria de alterar a geometria dos pedestais. Disse que vai fazer uma sereia para pôr na flor da água do Lago Paranoá.

Hoje, é lamentável o cenário para quem vai até a Prainha. Além da clara ação que danificou as esculturas, há pichações nos pedestais de concreto e acúmulo de lixo. Nem as inscrições bilíngües que identificam os orixás e suas características religiosas escaparam. Algumas foram raspadas e ficaram ininteligíveis.

Fonte: Estadão

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