Divergências sobre o Oriente Médio e aspectos religiosos levaram os Estados Unidos e outros países ocidentais a boicotar a conferência sobre racismo da ONU, que começará nesta segunda-feira, em Genebra, com participação do polêmico presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad, que nega o Holocausto.

Mas muitos países ocidentais, entre eles o Reino Unido, um dos principais aliados dos EUA, anunciaram que vão participar do encontro, apesar das polêmicas.

EUA, Canadá, Israel, Holanda e Austrália anunciaram que não participarão da Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Outras Formas Relacionadas de Intolerância –conhecida como Durban 2–, que durante cinco dias examinará os esforços realizados para combater o racismo, a xenofobia e a intolerância desde a primeira reunião organizada em Durban, na África do Sul, em 2001.

O porta-voz do Departamento de Estado americano, Robert Wood, afirmou no sábado que apesar dos avanços, o último projeto da declaração final de Genebra mantém trechos inaceitáveis da declaração de 2001 e infringem a liberdade de expressão.

“Infelizmente, parece certo que certas questões não serão abordada no documento adotado pela conferência. Portanto, com pesar, os Estados Unidos não vão participar na conferência”, afirma um comunicado oficial.

No início de fevereiro deste ano, uma delegação americana participou de encontros preparatórios da conferência, apesar do pedido de Israel por um boicote ao evento –o que foi encarado como uma possível mudança de postura da nova administração americana em relação à de George W. Bush (2001-2009).

Mas os americanos entenderam que não teriam condições de melhorar o documento final a ser produzido pela conferência e decidiram boicotar o encontro no fim de fevereiro.

Divergências

O presidente Barack Obama justificou a postura de seu governo ante a questão, apesar de se comprometer em colaborar com os esforços para lutar contra o racismo. “Deixem-me dizer em primeiro lugar que acredito na ONU”, afirmou Obama ao fim da Quinta Cúpula das Américas realizada em Trinida e Tobago. “Acredito na possibilidade de que a ONU sirva de fórum eficaz para tratar um grande número de conflitos transnacionais.”

“Gostaria muito de tomar parte em uma conferência útil, que responda a questões persistentes de racismo e discriminação no mundo”, disse ainda, acrescentando, no entanto, que o tom anti-israelense completamente hipócrita e contraproducente na declaração final era um limite que seu governo não poderia tolerar.

Negociadores na capital suíça afirmaram na sexta-feira que países ocidentais e muçulmanos haviam concordado com a declaração contra o racismo da ONU, que retirava do texto a maioria dos elementos considerados controversos relacionados à discriminação religiosa, Israel e o Oriente Médio.

Austrália e Holanda se uniram neste domingo às críticas e anunciaram um boicote.

Já o Reino Unido confirmou presença em Genebra. “Estamos observando o desenrolar dos acontecimentos. Ainda temos a intenção de participar”, afirmou um porta-voz da diplomacia britânica, que fez questão de destacar que será “inaceitável” uma tentativa de negar ou subestimar o Holocausto nazista nos debates.

O Papa Bento 16 deu apoio à conferência neste domingo, para que consiga “acabar com toda forma de racismo e disriminação”.

Polêmica

A polêmica sobre conferência aumentou pelo fato do orador mais famoso do dia de abertura ser o presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad, que já questionou várias vezes a existência do Holocausto, no qual milhões de judeus morreram nos campos de concentração da Alemanha nazista.

O ministro das Relações Exteriores israelense, Avigdor Lieberman, criticou neste domingo a conferência por contar com a participação de líderes que chamou de “racistas”, como o presidente iraniano.

“Uma conferência internacional na qual um racista como Ahmadinejad, que defende dia e noite a destruição de Israel, é convidado a palestrar expõe [por si só] quais são seus objetivos e seu caráter”, disse o ministro israelense em comunicado. Israel também pediu ao presidente suíço, Hans-Rudolf Merz, que cancele um encontro com o presidente iraniano.

Na primeira edição da Conferência Mundial contra Racismo, em Durban, na África do Sul, participantes judeus disseram ter sido silenciados e ameaçados por ativistas árabes. Ao final, as delegações dos Estados Unidos e de Israel acabaram abandonando o evento quando foi apresentado um rascunho do texto da conferência no qual havia uma comparação entre o sionismo –movimento para estabelecer e manter o Estado de Israel– e o racismo.

Fonte: Folha Online

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