Jovens militantes progressistas, integrantes de ONGs, movimentos sociais e religiosos e partidos políticos, apontam a família como a instituição mais confiável do país, com 68,3%. A religião superou o Estado em credibilidade.

Jovens progressistas, mas divididos em relação ao aborto, contra a legalização das drogas e ligados à família. É o que revela uma pesquisa realizada pelas sociólogas Mary Castro e Miriam Abramovay, que ouviram 2.000 deles reunidos numa conferência nacional.

A religião superou o Estado em credibilidade: Igreja Católica (15,3%), igrejas evangélicas (11,3%) e o candomblé (4%) aparecem à frente da polícia (1,7%), das Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores (1,6%) e do Congresso (1,5%).

O perfil foi extraído de entrevistas a 1.854 participantes da I Conferência Nacional de Juventude, a maioria dos militantes dos movimentos sociais, e será descrito no livro “Quebrando Mitos: Juventude, participação e políticas”, lançado nesta quarta-feira no Rio. A pesquisa, coordenada pelas sociólogas Mary Garcia Castro e Miriam Abramovay, mostra que 32,6% dos participantes do encontro, que aconteceu em abril do ano passado, em Brasília, se disseram totalmente contra a legalização do aborto, enquanto 22,2% se disseram a favor.

Quando o assunto é legalização das drogas, a posição contrária é nítida: mais do dobro dos jovens se manifestaram contra (60,5%), enquanto 26% dos participantes se disseram a favor, e o restante não soube opinar. A união civil entre pessoas do mesmo sexo também é uma tema que divide: 33,9% se mostraram a favor e 25,8%, contra. Ao mesmo tempo, um terço dos entrevistados se disse a favor da redução da maioridade penal.

Apesar de grande parte estar ligada a partidos políticos (50%), ao responderem à pergunta sobre o grau de confiança em instituições e entidades, os partidos foram considerados menos confiáveis por 37,5% dos entrevistados. Logo em seguida, veio o Congresso Nacional (37,3%) e em terceiro, a polícia (35%). A instituição mais confiável, segundo os entrevistados, é a família – para 68,3% dos entrevistados. O Congresso aparece com o mais baixo índice de confiança (1,5%). Do total de entrevistados, 38,3% disseram participar do PT, e 18,8%, do PCdoB. PSB e PMDB tinham cerca de 10% dos participantes, cada um.

Ao escolherem uma frase para sintetizar a percepção sobre si mesmos, os entrevistados responderam, em sua maioria, que “o jovem tem pouca oportunidade de participar via poderes constituídos”. A segunda mais escolhida foi “a família é a principal referência na vida dos jovens”.

Os problemas mais graves do país, segundo os entrevistados, foram: desigualdades sociais (47,4%), desemprego (44,2%), violência (36,5%), pobreza (36,0%), qualidade da educação (32,5%), corrupção (27,1%), narcotráfico (11,3%) e racismo (10,0%).

– Essa pesquisa quebra mitos sobre percepções que a sociedade em geral tem sobre a juventude. O primeiro é de que ela é auto-centrada. Ela está preocupada com si mesma, sim, mas tem também uma grande preocupação social – avalia Miriam Abramovay.

Sobre o alto grau de confiança depositado na família, a socióloga afirma que se trata de uma idealização. Ela afirma ainda que a visão crítica das instituições públicas (caso do alto grau de insatisfação com partidos e Congresso) é um dado que costuma aparecer em pesquisas feitas com jovens. O livro “Quebrando mitos” será lançado hoje, no Palácio da Cidade, pelo Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE), a Secretaria Nacional de Juventude e RITLA- Rede de Informação Tecnológica Latino americana.

Fonte: O Globo online e Folha de São Paulo

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