O juiz haitiano Isai Pierre-Louis ouviu nesta terça-feira cinco dos dez religiosos americanos que tentaram tirar do país, ilegalmente, 33 crianças.
“Entrevistamos cinco americanos durante várias horas na sede da polícia judiciária”, disse o juiz à, explicando que a audiência continuará nesta quarta.
O ônibus que levava os meninos e meninas para fora do país foi detido na semana passada na fronteira com a República Dominicana. Os meninos estavam com um grupo da igreja batista New Life Children’s Refuge.
Mazar Fortil, promotor interino da corte de Porto Príncipe, disse que o grupo, ainda não acusado formalmente, poderá ser processado por sequestro, tráfico de crianças e conspiração criminosa.
Os americanos –cinco homens e cinco mulheres– foram presos quando viajavam em um ônibus, à noite, com as crianças haitianas, que têm entre dois meses a 12 anos de idade, rumo à República Dominicana.
No domingo (31), a porta-voz do grupo, Laura Silsby, disse à agência de notícias Associated Press que faz parte de uma organização religiosa de caridade, a New Life Children’s Refuge (Refúgio Infantil Vida Nova, em tradução livre), com sede no Estado de Idaho (EUA), e que queria levar até cem órfãos para um hotel de Cabarete, na costa dominicana. O hotel, que tem 45 quartos, seria, posteriormente, transformado num orfanato.
Entretanto, após a apreensão das crianças, que foram colocadas provisoriamente em um abrigo, as autoridades haitianas descobriram que muitas tinham pais.
Haitianos que se apresentaram como parentes das crianças tentaram recuperá-las nesta terça-feira, mas nenhum encontro será permitido até que a filiação seja estabelecida, disse um porta-voz da organização onde estão acolhidos.
“Não podemos permitir nenhuma reunião até que tenhamos bem claro o motivo pelo qual esses menores estavam no ônibus abordado pela polícia, seguindo em direção à fronteira”, declarou Georg Willeit, da SOS Children’s Villages, em Porto Príncipe.
“A segurança emocional das crianças está muito fragilizada no momento para permitir um encontro”, afirmou, acrescentando que “estão traumatizadas”.
“Enquanto prossegue a investigação, os 33 menores permanecerão na SOS Children Village, aguardando a decisão e os documentos a serem liberados pelo Instituto do Bem-Estar Social (IBS)”, o organismo encarregado legalmente de adoções, explicou.
“Quinze de 20 crianças disseram que seus pais estão vivos”, concluiu.
Segundo Heather Paul, presidente da SOS Children’s Villages, ouvido mais cedo pelo canal americano NBC, algumas crianças não são órfãs, e estavam “mal vestidas, desidratadas, precisando de cuidados médicos” quando foram recuperadas.
“Estão muito melhor”, disse ela. “Chegaram muito traumatizadas, como podem imaginar. Primeiro, pela devastação causada pelo terremoto; depois, pelo mistério e confusão ligados ao desaparecimento de suas famílias”.
Ela destacou que o assunto ilustra a necessidade de regras mais estritas e de uma grande vigilância, no que diz respeito a crianças haitianas.
“Nós respeitamos rigorosamente os protocolos, e esses missionários devem fazer o mesmo”, acrescentou.
Fonte: Folha Online