O primaz católico da Inglaterra e do País de Gales, cardeal Cormac Murphy-O’Connor, disse que a crise financeira causou o “desmoronamento” da confiança da sociedade e que a economia de mercado deve ser guiada pela moral.
O cardeal fez as declarações, segundo a imprensa britânica, durante a tradicional Missa do Galo celebrada na noite do dia 24 na catedral de Westminster, em Londres.
Ele criticou também as instituições financeiras por decepcionar milhões de pessoas, que agora se sentem “muito preocupadas” com seu futuro e com o de suas famílias.
“A cristandade nem condena, nem canoniza a economia de mercado. Pode ser um elemento essencial na gestão dos assuntos humanos. No entanto, devemos lembrar que se trata de um sistema dirigido por pessoas, não uma força cega, como a gravidade”, afirmou.
Durante a celebração, o primaz católico indicou que “aqueles operam no mercado têm a obrigação de atuar de modo a promover o bem comum, não só de modo a promoverem os interesses de certos grupos”.
Após admitir que não é um “especialista” em economia, o arcebispo de Westminster destacou que não se pode “ignorar as conseqüências prejudiciais dos voláteis mercados financeiros” nos seres humanos.
“A economia de mercado só funcionará justamente se tem um propósito moral subjacente”, afirmou, segundo imprensa britânica.
Em outubro deste ano, o papa Bento 16 afirmou que a crise financeira mundial demonstra a futilidade do sucesso e do dinheiro, e pediu que as pessoas cimentassem a vida sobre a “rocha” da palavra divina. “A palavra de Deus, mais que qualquer outra palavra, é o fundamento de tudo, a autêntica realidade. Você se equivoca se pensa que a matéria, as coisas sólidas que podemos tocar, são a realidade mais segura”, disse à época.
Outro líder religioso a se manifestar sobre a crise foi o mufti (chefe religioso muçulmano) Abdul Aziz al Sheikh; no início deste mês, ele disse que a crise financeira global aconteceu porque o homem ignorou as leis de Deus, permitindo a usura –cobrança de juros– proibida pelo islã.
“Hoje nós assistimos a essa crise financeira se espalhar, enquanto empresas e bancos vão à falência’, disse. “Este é o resultado quando os homens ignoram as leis de Deus. Os muçulmanos precisam se guiar pelas leis de Deus, e construir suas economias de acordo com elas.”
Bancos do mundo árabe que operam de acordo com a Sharia (lei islâmica) evitam cobrar juros sobre os empréstimos, vistos como pecado pelos muçulmanos.
Fonte: Folha Online