Pastor Valdinei Ferreira, da Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo
Pastor Valdinei Ferreira, da Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo

(Anna Virginia Balloussier – Folha de São Paulo) Tenha ou não votado em Jair Bolsonaro (PSL), todo cristão que zele por esse título deve agora se posicionar “de modo intransigente a favor da institucionalidade democrática”.

E não estamos falando de um bloco pequeno: se venceu, o capitão reformado o fez com “apoio estridente dos evangélicos”.

Assim diz o Reforma Brasil, movimento capitaneado pela Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, fundada há 153 anos na capital paulista.

Há um ano, o Reforma Brasil se lançava com um manifesto crítico aos “cadáveres da política” e à bancada evangélica.

A cena política brasileira era então descrita como um “vale de ossos secos”, para usar uma expressão do profeta bíblico Ezequiel, “dominado por legiões de mortos-vivos, instalados nos centros de poder do país”.

O texto também falava sobre “o uso cada vez mais frequente de títulos religiosos por parte de candidatos que se pretendem representantes dos cristãos religiosos”, o que na época levou o deputado Marco Feliciano (Podemos-SP) a atacar o pastor titular da Primeira Igreja Presbiteriana, Valdinei Ferreira (“pseudopastor que perdeu a chance de ficar calado, foi deselegante, oportunista e desleal”).

Se ninguém, àquela altura, imaginava que o capitão reformado triunfaria nas urnas, hoje é preciso entender que é possível “fazer escolhas eleitorais diferentes e continuarmos nos tratando como irmãos de nacionalidade e de credo”.

“Mais do que estar a favor ou contra Bolsonaro”, diz a nota assinada por Ferreira, “cabe aos cristãos nessa hora da vida nacional, posicionarem-se de modo intransigente a favor da institucionalidade democrática”.

O lançamento do novo manifesto contou com o jurista Modesto Carvalhosa e entidades cristãs, como a ACM (Associação Cristã de Moços) e o IJCB (Instituto de Juristas Cristãos do Brasil). ​

Àqueles que votaram em Bolsonaro, um recado: “Ele não seria o presidente sem a liberdade que teve para expressar livremente suas opiniões, muitas delas controversas, por quase três décadas”.

Para os que não apertaram 17: “Vocês poderão fiscalizar, criticar e opinar sobre o governo Bolsonaro, esse é um direito constitucional daqueles que discordam dos rumos do país”.

Ferreira reconhece que, “de modo inequívoco”, o presidente eleito foi preferido “pela maior parte dos cristãos evangélicos”. Pesquisa Datafolha projeta que sete em cada dez seguidores dessa fé o escolheram.

E não há por que questionar a vitória bolsonarista, segundo o pastor. “Não é o caso de examinar as razões dessa opção, mas de reconhecer que sejam quais forem os motivos desse voto, ele foi concedido dentro das regras do jogo democrático e, portanto, tem de ser respeitado.”

Para Ferreira, a “estreita associação” entre Bolsonaro e as igrejas evangélicas colocará o segmento sob pressão. “O fato é que o sucesso ou fracasso do futuro governo será indissociável do apoio estridente dos evangélicos dado a ele nessa eleição.”

Mas ninguém deve esquecer dos evangélicos que rechaçaram Bolsonaro “de modo contundente”, lembra.

“Essa eleição, como nenhuma outra, deixou mágoas nas famílias, nas igrejas e na sociedade. É hora de começar a tratar as feridas da guerra que foi essa eleição. Pesa sobre nós, cristãos, o dever de demonstrar que podemos divergir, sem agredir, discordar sem desqualificar o outro.

Fonte: Folha de São Paulo

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