Surpresos e preocupados, líderes da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) questionam o anúncio, “unilateral”, do Vaticano de criar uma provisão constitucional especial de acolhida aos episcopais anglicanos descontentes com a ordenação feminina e de pessoas homoafetivas promovida por essa família confessional.

Se a medida do Vaticano fosse destinada a pessoas que já saíram da Comunhão Anglicana por razões de divergência teológica, ela seria de fato um acolhimento pastoral a quem já não mais a integra, argumenta o bispo primaz da IEAB, dom Maurício Andrade, em posicionamento oficial.

“Mas, na medida em que se destina a pessoas e comunidades que ainda estão dentro da Comunhão, mesmo que em dissenso, a provisão representa um problema ético de interferência em assuntos internos de outra igreja irmã”, agrega o bispo primaz.

A IEAB lamenta que nenhuma instância oficial da Comunhão Anglicana tenha participado do processo de construção da provisão e, “para surpresa de muitos, a própria Congregação para a Unidade dos Cristãos não participou do processo interno, em Roma, sequer para o anúncio da iniciativa”, que ficou, de forma privada, sob a coordenação da Congregação para a Doutrina e Fé, menciona Andrade.

O posicionamento da IEAB chama a atenção para os documentos oficiais recentes da Igreja Católica Romana, que têm reafirmado “não a sua identidade apenas como Igreja universal, mas sua singularidade como sinal verdadeiro e original da presença de Cristo entre os povos. Isso implica uma autocompreensão de exclusividade eclesiológica e organizacional que dificulta o avanço do diálogo entre as duas igrejas.”

Os episcopais anglicanos brasileiros lembram os 40 anos de diálogo entre as duas Comunhões, por iniciativa do papa Paulo VI e do arcebispo de Canteburry, Michael Ramsey, que quebrou séculos de silêncio entre as duas partes.

Eles esperam, agora, que o anúncio dessa interferência do Vaticano “não venha a se constituir em empecilho para o futuro do nosso diálogo”, e que possam conhecer em tempo o teor da provisão, que ainda não se tornou pública, “e aplicar, quando possível, o princípio do respeito à autonomia interna de nossas igrejas”.

Fonte: ALC

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