Um livro do Papa Bento XVI sobre Jesus citando Karl Marx e criticando a sociedade globalizada chegará às livrarias da Alemanha, Itália e Polônia no dia 16 de abril – dia de aniversário do Sumo Pontífice.
Um trecho publicado pelo jornal Corriere della Sera revela que o Papa ilustra seus ensinamentos sobre a mensagem de Jesus através de exemplos contemporâneos.
A “parábola do bom samaritano”, na qual Jesus explica a seus discípulos a universalidade da noção do “próximo”, permite a Bento XVI falar da “sociedade globalizada” e “das populações da África, roubadas e pilhadas” material e espiritualmente pelo “estilo de vida” das sociedades ocidentais.
Joseph Ratzinger fala também de Karl Marx quem “descreveu com vigor a alienação do homem”, “mesmo se não tenha percebido a verdadeira profundidade da alienação porque refletia sobre a questão apenas em termos materiais”.
No extrato da revista Die Zeit consagrado à parábola do “filho pródigo”, o Papa evoca “a rebelião atual contra Deus e contra a lei de Deus”.
“O homem que compreende a liberdade como a possibilidade de fazer radicalmente aquilo que quer, (…) vive na mentira”, escreveu ele. “Uma falsa autonomia conduz à escravidão: a história nos mostrou isto da maneira mais evidente”, acrescenta.
O Corriere della Sera publicou nesta quarta-feira o sétimo dos dez capítulos do livro que tem como título “Jesus de Nazaré”.
Um comunicado do Vaticano anunciou a publicação do livro para 16 de abril, data do aniversário do Papa Joseph Ratzinger, simultaneamente na Itália (editora Rizzoli), Alemanha (Herder) e Polônia (Wydawnictwo M).
No prefácio do livro, divulgado em novembro de 2006, Bento XVI afirma que “não se trata de um documento de magistério” (portanto infalível), e sim de seu “percurso pessoal interior na busca da face de Deus”.
“Assim cada qual é livre para me contradizer”, escreveu.
Joseph Ratzinger iniciou a redação deste livro quando era apenas cardeal e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, órgão do Vaticano responsável pelo dogma católico.
Em seu livro, “Bento XVI se dirigirá principalmente ao povo dos fiéis”, explicou há alguns dias à AFP um especialista na Bíblia, Mauro Pesce, um dos autores do livro “Investigação sobre Jesus”, muito vendido e alvo de crítica dos setores mais conservadores católicos.
Pesce descartou a possibilidade de o Papa ter escrito este novo texto em resposta a seu livro ou às obras do teólogo jesuíta Jon Sobrino – representante da Teologia da Libertação -, que apresentam um Jesus mais humano e analisado sob uma perspectiva histórica.
No entanto, muitos consideram que, indiretamente, o texto do Papa servirá de resposta oficial do pontífice às diversas interpretações da figura de Cristo.
“O livro do Papa se baseará quase exclusivamente nos quatro textos dos Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João”, explicou Pesce.
No prólogo do livro, o Papa alemão, teólogo de formação, explicou que até a metade do século passado se liam livros que “entusiasmavam”, mas depois ocorreu a ruptura entre o “Jesus histórico” e o “Cristo da fé”.
“Este livro não é uma obra para a docência, mas fruto de minha pesquisa pessoal sobre o rosto do Senhor”, afirma o Pontífice na introdução do volume.
“É verdade que não se trata de uma encíclica, mas isto não quer dizer que será livremente criticado e debatido por parte de teólogos e demais especialistas do cristianismo. Trata-se da obra de um Papa!”, concluiu Pesce.
Fonte: AFP