No Evangelho Segundo Billy Graham, o todo-poderoso presidente americano é humano, tem suas fraquezas e merece perdão. E o todo-poderoso Billy Graham estava lá orando e perdoando Lyndon Johnson no inferno vietnamita, Richard Nixon nas catacumbas de Watergate e Bill Clinton no tormento Monica Lewinsky.

The Preacher and the Presidents (Center Street, 413 págs., US$ 26.99) é o fascinante livro de Nancy Gibbs e Michael Duffy, veteranos jornalistas da revista Time, mostrando como o consolo espiritual do pregador Billy Graham é importante e tem conveniência política na galeria presidencial americana.

Na hora do sufoco, da agonia e do escândalo, é aconselhável não apenas estar ao lado do bom pastor, mas aparecer na foto com ele. Gandhi disse que acreditar que religião e política não estejam conectadas é não entender nenhuma delas. Significa também não entender a influência de Billy Graham na vida americana nas últimas cinco décadas.

Descrito como o embaixador global da cristandade, com suas mais de 400 cruzadas em 185 países, Graham já falou face a face com mais de 200 milhões de pessoas. Na estimativa de Gibbs e Duffy, nenhum evangelista na história, nem mesmo São Paulo, disseminou tão longe a mensagem de Cristo. Neste livro, o que interessa são os encontros face a face de Graham com 11 presidentes americanos e suas famílias, de Harry Truman a George W. Bush.

O evangelista só não ficou amigo de Truman, que desconfiava dele e o considerava um sicofanta. Nascido em uma família democrata, mas convertido ao Partido Republicano, Graham nunca fez discriminação partidária. Em uma medida de sua importância e neutralidade, em 1969, ele passou o último fim de semana da presidência do democrata Johnson na Casa Branca e ficou para a primeira noite do governo do republicano Nixon.

Gibbs e Duffy tiveram acesso a Graham no seu retiro montanhoso no Estado da Carolina do Norte, mas não fazem reverência e estão alertas para os pecados do evangelista. Ele não resistiu às paixões da política e à proximidade com o poder. Sua condescendência com Nixon foi acima da conta. Graham, de certa maneira, foi cúmplice na desgraça e sua solidariedade minou sua autoridade moral.

Depois de Nixon, o pastor continuou íntimo das famílias presidenciais (os Reagans, os Bushes e os Clintons), mas nunca mais repetiu o ardor nixoniano. Com Nixon, foram mais de 40 anos de relacionamento. O astuto e autodestrutivo político guiou o noviço Graham pelos labirintos de Washington no começo dos anos 50. Graham retribuiu no ocaso de uma presidência.

Ninguém, obviamente, é santo nesSa história. Os laços entre Graham e o presidente de plantão sempre foram mutuamente benéficos. As visíveis amizades presidenciais fortaleceram o movimento evangélico e lhe deram vitamina política.

As conexões de Billy Graham na Casa Banca permitiram que ele visitasse países que nenhum pegador colocara os pés, como a União Soviética e a Coréia do Norte durante a guerra fria.

Os relatos do relacionamento de Graham com Jonhson são saborosos, emblemáticos dos vínculos pessoais do pastor com um presidente e também dos cálculos políticos. Ambos eram muito próximos. O presidente forçava o pastor a passar a noite com ele na Casa Branca, refletindo sobre a morte e o Vietnã, além de orarem até as 3 da madrugada.

Com medo de tempestades, o presidente levava Graham no avião para ser o seu anjo da guarda. Ao mesmo tempo, Johnson temia o poder político de Graham. Quando o pregador recebeu 2 milhões de telegramas o exortando a apoiar o republicano Barry Goldwater nas eleições de 1964, Johnson o aliciou para passar um fim de semana no seu rancho no Texas.

Com George W., foi uma importante estada em 1985 na casa de veraneio do clã Bush no Estado do Maine, quando, durante uma caminhada na praia, Graham ajudou um homem de 40 anos, sem rumo e chegado na bebida, a redescobrir Cristo. Para Bush, foi ótimo reencontrar Graham na campanha eleitoral do ano 2000.

Entre os Bushes na Casa Branca (pai e filho), Graham conviveu intensamente com o casal Clinton. O pastor sempre teve uma incrível capacidade para detectar talentos políticos. Ele já era próximo de Bill Clinton antes que ele ocupasse espaço no cenário político nacional.

As controvérsias sobre as aventuras sexuais de Clinton nunca chocaram o pastor. Na verdade, como no caso de Nixon, quanto mais acuado um presidente, mais ele pode contar com o apoio pastoral e político de Graham. O pregador diz que sagrada é a Presidência.

Graham perdoou Bill Clinton rapidamente no caso Monica Lewinsky. Em um jantar dos 75 anos da revista Time, em 1998, o lendário jogador de beisebol Joe DiMaggio (ex-marido de Marilyn Monroe) não quis ficar na mesa do presidente. Graham foi voluntário para pegar o lugar, em uma clara mensagem de solidariedade.

O casal Clinton prestigiou Billy Graham na sua última cruzada, realizada em Nova York em 2005. O pastor brincou que Bill daria um bom evangelista e que ele deveria deixar Hillary presidir o país. Falando sério, a ex-primeira-dama gosta de apregoar suas convicções espirituais e íntimos laços com Billy Graham na sua campanha presidencial.

O pastor, de 88 anos, diz gostar muito de Hillary e, se possível, vai abençoá-la ou quem quer que vença a cruzada eleitoral de 2008.

Fonte: Estadão

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